New York Times deixa escapar reais motivos da invasão da Líbia
Por David Fialkow *
O saque desejado – e não anunciado – pelas potências tradicionais (EUA, Inglaterra, França, Itália, etc.), bem como o rancor por estar impedido de faze-lo no regime anterior, é revelado pelo articulista Clifford Kraus, no New York Times de 15/11/11.
Publicado 16/11/2011 13:24 | Editado 04/03/2020 17:10
Sob o título “Poupado na guerra, o fluxo de petróleo da Líbia está voltando a elevar-se”, a propósito de falar da recuperação da Líbia, lá pelas tantas, depois de exaustivamente descrever pormenores da situação da cadeia de petróleo, o autor, exultando e beirando o uso de poesia, revela os verdadeiros motivos da invasão da Líbia: o governo de Kadafi praticamente estatizou a exploração de petróleo na Líbia, o que desagradava as velhas potências e suas empresas do setor. Agora, descortinam afundar mãos e pés no óleo dos líbios.
“Com reservas provadas de 46,4 bilhões de barris – a maior na África – a Líbia é um grande prêmio. Mas, historicamente, o país havia sido um desapontamento para as companhias de petróleo estrangeiras. Durante seu longo governo, o Coronel Kadafi concedeu aos estrangeiros direitos de perfuração em pequenos trechos de campos e os fez assinarem contratos que deram ao regime a maior parte dos lucros e os deixou com a maior parte das contas…”.
“Agora, uma nova era poderia estar nascendo para um país que há 50 anos atrás produzia três milhões de barris por dia – aproximadamente o dobro da oferta dos anos recentes – e que poderia retornar a tais elevados níveis com amplo investimento e novas tecnologias para explorar os campos velhos e os ainda por descobrir nas profundezas do Saara”.
Note-se que o autor usa o termo regime quando o certo seria governo líbio, ou seja, muda o substantivo visando desqualificar a postura de defesa da riqueza nacional dos líbios. Uma norma que beneficie o Estado em detrimento de grandes conglomerados estrangeiros nada diz sobre o tipo regime que adota aquele Estado. O uso de palavras em desacordo com a realidade é a forma como o articulista “força a barra” mesmo tentando aparentar um tom sóbrio e imparcial.
E há quem acredite não existir questão nacional! E houve quem se iludisse com a publicidade norte-americana contra Kadafi! Independentemente do regime e eventuais e supostos privilégios familiares, havia a defesa do petróleo líbio da ganância estrangeira. Os rebeldes, enquanto lutavam por mudanças democráticas na Líbia, constituíam parte das contradições daquela nação. Mas, no momento em que forças externas intervieram, notadamente potências com histórico de subjugação e pilhagem de países e povos do continente africano e de outros, a natureza do conflito mudou substancialmente.
O que a grande imprensa brasileira tem que explicar é por que não questionou as peças de publicidade produzidas em preparação à invasão, durante e após ela, tratando-as como notícia, fatos jornalísticos. Quantas invasões a mais serão necessárias para muitos darem-se conta de que certas notícias são propaganda prévia para criar clima e tornar palatável a agressão?
* Economista