Homenagens a Zumbi marcam o Dia da Consciência Negra em Salvador

Caminhadas no Centro e na Liberdade e a lavagem da estátua de Zumbi foram algumas das atividades que marcaram a celebração do Dia da Consciência Negra neste domingo (20/11), em Salvador. A celebração envolveu milhares de pessoas que ocuparam as ruas para denunciar o preconceito contra a população afrodescendente e reafirmar a luta por igualdade e respeito à sua cultura e direitos.

A Unegro, a CTB Bahia e a Associação das Baianas de Acarajé se uniram a outras seis entidades e realizaram a lavagem simbólica do busto em homenagem a Zumbi dos Palmares, localizado na Praça da Sé. “Foi um ato político muito bom com a participação de diversas agremiações do movimento negro, entidades sindicais, representações parlamentares e do ministro da Diáspora do Senegal, Amadou Lamine Faye”, ressaltou o coordenador da Unegro na Bahia, Jerônimo da Silva Júnior.

A lavagem contou com a participação de 50 baianas, que saíram do Terreiro de Jesus em direção à estátua de Zumbi, onde fizeram a lavagem simbólica com água de cheiro e flores. O ato foi seguido de um ato político, que foi até às 19h, com fala das lideranças presentes, animação da banda Tambores da Raça e participação de diversos grupos culturais de hip-hop e capoeira. Depois o cortejo voltou ao Terreiro de Jesus, onde a lavagem foi encerrada.

Caminhadas

A realização de caminhadas é a mais tradicional forma de protesto e comemoração em Salvador. No 20 de novembro foram duas, uma com saída da Liberdade, bairro mais negro da cidade, e outra saindo do Campo Grande, mas as duas com o mesmo destino o Pelourinho.

Mais de mil pessoas participaram na parte da manhã da caminhada em homenagem a Zumbi dos Palmares, que saiu da Liberdade em direção ao Pelourinho, em Salvador. O cortejo foi embalado pela banda do Ilê Aiyê e contou com a participação de diversas autoridades, entre elas, o secretário estadual de Promoção da Igualdade, Elias Sampaio, que destacou as ações do governo do Estado para promoção da igualdade racial, como a valorização das religiões de matriz africana e da cultura afro.

Na parte da tarde, foi a vez da 31ª Marcha da Consciência Negra tomar o Centro da cidade para pedir igualdade e reparação social. O grupo saiu por volta das 16h do largo do Campo Grande em direção à Praça Municipal, acompanhado de um trio elétrico com as bandas Lundu, composta por ex-integrantes do bloco-afro Ilê Aiyê, e Aspiral do Reggae, dos afoxés Bamboxe, do bairro do Nordeste de Amaralina, e Kambalaguaze, do Subúrbio Ferroviário.

Luta e celebração

Presente nas três atividades, a vereadora Olívia Santana (PCdoB) considera relevante ver o movimento negro se mobilizando em diversos cantos da para reivindicar políticas de enfrentamento ao racismo. “Eu participei de várias atividades e achei tudo muito relevante. Achei importante também a iniciativa da Unegro e da Associação das Baianas de se utilizar de uma expressão cultural que marca Salvador, que são as lavagens. E a lavagem ontem da estátua de Zumbi tem um significado político, de lavagem do racismo e das barreiras que impedem o avanço da população negra. Então, a Unegro teve uma forma muito genuína e peculiar de se manifestar contra a discriminação racial”, disse.

“Pegando o gancho do que foi o Encontro Ibero-americano do Ano Internacional dos Afrodescendentes, que tirou a Carta de Salvador, que prevê inclusive a criação de um fundo, o que o movimento negro vai para as ruas dizer? Vai dizer que quer mais celeridade na aplicação das políticas públicas, que precisam avançar. Então, foi um momento de denúncia dos assassinatos da população negra, mas foi também um momento de celebração da memória, da história da resistência negra e de cobrança do Poder Público, que precisa incorporar mais negro nas estruturas de poder. Também foi um momento de celebração das vitórias, como a Lei 10. 639, da criação de um pacto regional para América Latina e Caribe, com políticas integradas de enfrentamento ao racismo. Enfim, um movimento de esperança e ao mesmo tempo de continuidade da luta”, concluiu Olívia.

De Salvador,
Eliane Costa.