Fernando Morais fala sobre novo livro e futuros projetos

O Vermelho/CE conversou com o jornalista e escritor Fernando Morais, que esteve em Fortaleza para lançar seu novo livro chamado “Os últimos soldados da Guerra Fria”. O lançamento, que aconteceu na noite desta terça-feira (22/11), na Assembleia Legislativa do Ceará, foi iniciativa da Associação de Amizade Brasil Cuba em Parceria com a Revista Nordeste Vinte Um. Durante a entrevista, Fernando Morais falou sobre os desafios do recente livro e adiantou novos projetos.

O “faro de repórter” conduziu Fernando Morais a apostar naquela história que chegou até ele de forma curiosa. “Foi de forma insólita que soube da prisão dos cubanos. Estava num táxi em São Paulo quando, ouvindo o rádio, o locutor anunciou que o FBI havia prendido, em Miami, 10 agentes cubanos infiltrados em organizações de extrema direita”. Segundo o escritor, ainda na faculdade, se aprende a avaliar a importância de uma notícia. “Se você andar na rua e encontrar um cachorro abanando um rabo, aquilo não é notícia, mas, se você vir um rabo abanando um cachorro, o material renderá. E cubanos infiltrados nos Estados Unidos eram como um rabo abanando um cachorro”, ratificou.

Por ter ingredientes atrativos, o autor considera sua décima publicação uma grande reportagem. “O livro pode ser lido tanto por alguém politicamente alienado, que não saiba a história da ilha, quanto por quem acompanha a resistência cubana. O leitor pode saborear ao mesmo tempo uma história esclarecedora de como foi e de como é a relação entre Cuba e Estados Unidos”. Morais considera seu livro interessante. “Nele, o leitor encontrará suspense, temas humanos e dramas. Uma mistura meio James Bond”, comparou.

Segundo o escritor, a prisão dos cinco cubanos pelos americanos é bastante representativa. “É um sacrifício que simboliza os 50 anos de resistência”, ratificou. Fernando Morais, após se deter às pesquisas iniciais para a construção do livro, considera que a questão cubana para os Estados Unidos não é uma questão externa. “Ao contrário. Esta tornou-se uma questão interna. Deparei-me com o brutal erro judicial que demonstra de forma eloqüente a intolerância americana a qualquer coisa que cheire a Cuba”.

Processo de construção

Autor de “A Ilha”, relato de uma viagem a Cuba lançado em plena Ditadura Militar, Fernando Morais voltou ao país quatro décadas depois para recontar a história de resistência dos partidários de Fidel Castro. “Ao logo destes anos, acumulei informações sobre o país e também construí muitas amizades”. Mas, apesar deste antigo vínculo, o processo de pesquisa não foi fácil. “Tive muitas dificuldades, pois estava a procura de informações secretas. Somente com a ajuda de muitos amigos pude quebrar a resistência tanto americana quanto cubana.”, ressaltou.

“Inicialmente, achei que em seis meses concluiria o processo de pesquisa e que precisaria ir somente à Havana. Estava enganado. Somente depois de dois anos e 20 viagens a Cuba e aos Estados Unidos consegui concluir o processo inicial”, revelou.

Fernando Morais manteve contato com os presos cubanos via internet. “Não foi fácil. Tinha

que pedir autorização aos presídios onde eles estavam. Todas as mensagens, minhas e deles, eram vigiadas, não podiam conter anexos nem ultrapassar os 13 mil caracteres. Com um a mais, ela era automaticamente excluída”, recorda.

Para tentar quebrar a “comunicação fria”, o autor tentou outros meios para falar com os presos. “Descobri que cada um deles tinha uma cota mensal de minutos para falar ao telefone com os familiares. Ia visitar as famílias a entrava na fila para conversar com eles. Assim , quebramos um pouco a impessoalidade da internet e consegui extrair assuntos interessantes para o livro, além de incorporar o caráter do povo cubano”.

Sobre Obama

Questionado se o livro poderá ajudar na revisão de pena dos cubanos, Morais considera-se cético. “Não acredito em libertação, mas tento ser otimista. Imagino que o presidente Barack Obama possa indultá-los ou até mesmo trocá-los por americanos presos em Cuba”.

Ainda sobre o presidente americano, Fernando Morais confidencia que alimentou certa esperança quando o negro foi eleito. “Quanta ingenuidade minha! Colin Powell e Condoleezza Rice também eram negros e nada fizeram pelos direitos humanos. Cor da pele não determina mudança de comportamento. Mas o que ainda espero é que Obama justifique o Nobel da Paz que recebeu e ainda não justificou a honraria”.

Sobre o Livro

"Os últimos soldados da Guerra Fria" foi lançado há dois meses e já foram vendidos mais de trinta mil exemplares. A publicação já está na sua segunda edição. O título já foi adquirido por um investidor paulista e deverá virar filme. “Valeu a pena ter apostado nesta grande aventura. Espero que vocês gostem tanto do livro quanto eu gostei de escrevê-lo”, concluiu.

Bastidores

Em entrevista preliminar ao lançamento do livro, Fernando Morais falou sobre outros trabalhos. Autor de “A Ilha” e “Olga”, confessou que já pensou em escrever sobre a história do Partido Comunista. “Praticamente todos os quadros de esquerda que tiveram importância no país da década de 30 até os dias de hoje, nasceram do ventre do antigo Partidão, que conta a história não só da esquerda mas se confunde com a própria história do Brasil”.

Viajando para divulgar o novo livro, Fernando Morais confessou estar surpreso com a quantidade de jovens de esquerda pelo país.

Ignorado pela revista Veja nas suas últimas publicações, Fernando Mortais comemora: “Voltei para as paginas da Veja não pelos editores, mas pelas mãos dos leitores. Continuo na lista dos mais vendidos”.

Questionado sobre uma possível biografia de Lula, Fernando Morais cita frase do o ex-presidente. “Ele me falou que biografia só é bom para o escritor, nunca para o biografado”. Segundo o jornalista, é provável que o novo projeto fale sobre os bastidores dos dois mandatos de Lula contados por ele mesmo.

A trajetória de Antonio Carlos Magalhães também poderá virar livro. “A história do Brasil não foi construída só pela esquerda, muito pelo contrário. Não posso abrir mão de contar a história do país de outro ponto de vista”, considerou. Fernando Morais confirmou que tem farto material sobre o falecido político baiano que figurou no poder por longos anos.

Questionado se vive bem com a venda de seus livros, Fernando Morais, foi enfático. “Eu me viro. Mas quem vive bem é o Eike Batista e o Tasso Jereissati”.

De Fortaleza,
Carolina Campos