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Conferência climática começa hoje impactada pela crise mundial

Começa nesta segunda-feira (28), em Durban, na África do Sul, a 17ª Conferência das Partes sobre o Clima. A cúpula é marcada pelo pessimismo quanto a avanços na área climática. A mais grave crise econômica mundial desde a quebra da Bolsa de Nova York em 1929 é considerada um entrave para avanço nas negociações.

Conferência Climática - Dennis Barbosa/G1

A COP-17 é considerada uma reunião-chave. Nela será definida a segunda parte do Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, que prevê metas obrigatórias de redução de emissões para os países desenvolvidos, em comparação com 1990. A cúpula seria a chance de aprovar o segundo compromisso a tempo de que seja ratificado no ano que vem e entre em vigor antes da primeira parte expirar.

No entanto, o risco de aprofundamento da crise financeira que assola sobretudo os Estados Unidos (que nunca foi signatário do Protocolo de Kyoto) e a Europa, deixa os governos ainda mais reticentes quanto à ideia de conter emissões e investir em modelos de desenvolvimento sustentável. Com uma nova recusa dos Estados Unidos e a saída de Rússia, Canadá, Austrália e Japão, que já declararam que não têm intenção de continuar em Kyoto, mesmo que a segunda parte do protocolo seja finalizada em Durban, os poucos países que restam – a maioria europeus – representarão apenas 15% das emissões globais.

O embaixador André Corrêa do Lago, diretor do Departamento de Meio Ambiente do Itamaraty e principal negociador brasileiro na COP-17, avalia que “não há dúvidas que a crise econômica tem um efeito muito grande. Com ela, a preocupação com o futuro do planeta diminui. Essa agenda passa a ter muita dificuldade de encontrar espaço”.

Ainda assim, países como o Brasil não abrem mão da continuação de Kyoto. “Se deixarmos morrer Kyoto, vai morrer o único acordo com metas obrigatórias existente. E nunca mais vamos ter outro, só voluntário”, afirma o embaixador.

Desmonte de Kyoto

Em entrevista à Prensa Latina, a chefe do grupo de negociação da Venezuela sobre mudanças climáticas, Claudia Salerno, denuncia que todas as expectativas dos países desenvolvidos estão em como conseguir articular o desmonte do Protocolo, a desintegração de seus elementos mais importantes e não dar continuidade.

E acrescentou: “nesse sentido, nós estamos aqui conscientes de que nunca antes, nem mesmo em Copenhague, houve uma batalha tão difícil, na qual a Venezuela, como membro da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), tem assumido essa luta pela vida”.

Sobrevivência dos países pobres

O presidente da África do Sul, Jacob Zuma, declarou, na cerimônia de abertura da COP-17, que as alterações climáticas são uma “questão de vida ou de morte” para os países mais pobres, da África às pequenas ilhas do Pacífico, que pedem solidariedade internacional. “Várias regiões do mundo têm visões diferentes sobre o aquecimento global simplesmente porque são afetadas de formas diferentes. Mas para a maioria dos povos em desenvolvimento, esta é uma questão de vida ou de morte”, declarou Jacob Zuma, Presidente da África do Sul na cerimônia de abertura da COP-17 (17ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro da ONU para as Alterações Climáticas).

Também Idriss Déby, presidente do Chade, disse que o continente africano “está sentindo, de forma muito especial, os impactos negativos que colocam em risco a sobrevivência das suas populações”. De momento, as alterações climáticas “estão abrandando o crescimento dos nossos países”. Ainda assim, lembrou, vários países africanos “são o último bastião na luta contra o avanço galopante do deserto” e referiu o desaparecimento do Lago Chade – hoje 10% da sua superfície original – e as ameaças às florestas da Bacia do Congo.

Países emissores

Atualmente, o maior emissor de gases-estufa do mundo é a China, mas ela resiste em se comprometer com metas de corte enquanto os EUA não o fizerem. Rússia, Japão e Canadá, por sua vez, alegam não ver sentido em assumir novo compromisso enquanto os maiores poluidores não o fazem. Por sua vez, a União Europeia representa o maior bloco de países ricos dispostos a negociar algum compromisso. A conferência de Durban, no entanto, acontece num momento conturbado, em que a salvação da economia parece mais urgente que a do clima.

A crise econômica também deve prejudicar outra grande meta da COP-17, que é normatizar o funcionamento do “fundo verde”, um mecanismo de financiamento de ações de redução de emissões e adaptação às mudanças climáticas nos países pobres. A ideia é que haja US$ 100 bilhões ao ano disponíveis até 2020, mas não se sabe até agora exatamente quem vai colocar a mão no bolso para levar a proposta adiante.

Com informações de agências