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Comandante uruguaio rejeita "pacto de silêncio" na ditadura

O comandante-em-chefe do Exército uruguaio, Pedro Aguerre, rejeitou nesta segunda-feira um suposto "pacto de silêncio" em torno dos crimes da última ditadura (1973-1985) e pediu apoio para "delimitar a responsabilidade material" da instituição nos assassinatos cometidos nesse período.

"O Exército Nacional não aceitará, tolerará, nem acobertará homicidas ou delinquentes em suas fileiras", disse Aguerre em um comunicado lido diante da imprensa depois que na semana passada a análise de restos encontrados em um prédio militar determinou que pertenciam ao professor Julio Castro, detido e desaparecido em 1977, que morreu vítima de um tiro na cabeça depois de ter sido torturado.

Emblemática figura do magistério e do jornalismo uruguaio e fundador da Frente Ampla, Castro, que tinha ao morrer 68 anos, foi detido em 1 de agosto de 1977, depois de uma operação do Serviço de Inteligência e Defesa.

"Os restos apareceram com as mãos e pés atados com arame, com um golpe no tórax muito profundo e com uma bala na cabeça, de frente, de maneira que foi uma execução, e essa execução alguém a realizou", denunciou Hebe Castro, filha dele.

Este detalhe jogou por terra justificativas esgrimidas por integrantes do regime de fato no Uruguai entre 1973 e 1985, que alegavam que as mortes de detidos foram por golpes e não execuções.

Julio Castro é o terceiro desaparecido cujo cadáver é encontrado durante escavações realizadas por antropólogos da Universidade da República.

O primeiro encontrado foi em 29 de novembro de 2005, quando se descobriram os despojos de Ubagesner Chávez Sosa e, poucos dias depois, em 2 de dezembro, os de Fernando Miranda, ambos militantes do Partido Comunista.

Organizações de direitos humanos estimam em mais de uma centena os uruguaios desaparecidos durante a ditadura militar.

"Aquele que está falando com vocês comete erros diariamente, como qualquer ser humano, mas hoje estamos falando de crimes, e essa é uma linha que este Comandante e seu Exército não cruzarão", acrescentou Aguerre, que assumiu ter se apresentado no dia 31 de outubro junto com os 10 generais existentes do país e dois coronéis que chegarão a generais no próximo ano.

"O Exército Nacional atua de acordo com as Convenções de Genebra e Haia, com os Protocolos adicionais e demais acordos relacionados", ressaltou, referindo-se aos tratados internacionais que consagram os princípios humanitários fundamentais nas guerras.

"Não tenho conhecimento de um pacto de silêncio para acobertar crimes dentro da Força que comando, e mesmo desconhecendo, se existiu ou ainda existe até hoje tal pacto, neste momento dou a ordem de sua suspensão imediata", indicou Aguerre.

"Peço apoio, dentro e fora da Força, para em conjunto obtermos informações para delimitar a responsabilidade material, ou não, do Exército, neste caso e em qualquer outro que possa ocorrer no futuro", enfatizou.

"Não sou um cético, nem um cínico moral e ético (…) Por minha responsabilidade de Comando, no dia de hoje e de forma extraordinária solicito mais uma vez a colaboração de todos para restabelecer uma reconciliação, de acordo com o interesse comum", frisou o comandante, que afirmou querer manifestar um "ponto de inflexão" com o objetivo de eliminar as dúvidas sobre "o agir e o pensar deste novo Comando".

Com agências