Comandante uruguaio rejeita "pacto de silêncio" na ditadura
O comandante-em-chefe do Exército uruguaio, Pedro Aguerre, rejeitou nesta segunda-feira um suposto "pacto de silêncio" em torno dos crimes da última ditadura (1973-1985) e pediu apoio para "delimitar a responsabilidade material" da instituição nos assassinatos cometidos nesse período.
Publicado 05/12/2011 14:57
"O Exército Nacional não aceitará, tolerará, nem acobertará homicidas ou delinquentes em suas fileiras", disse Aguerre em um comunicado lido diante da imprensa depois que na semana passada a análise de restos encontrados em um prédio militar determinou que pertenciam ao professor Julio Castro, detido e desaparecido em 1977, que morreu vítima de um tiro na cabeça depois de ter sido torturado.
Emblemática figura do magistério e do jornalismo uruguaio e fundador da Frente Ampla, Castro, que tinha ao morrer 68 anos, foi detido em 1 de agosto de 1977, depois de uma operação do Serviço de Inteligência e Defesa.
"Os restos apareceram com as mãos e pés atados com arame, com um golpe no tórax muito profundo e com uma bala na cabeça, de frente, de maneira que foi uma execução, e essa execução alguém a realizou", denunciou Hebe Castro, filha dele.
Este detalhe jogou por terra justificativas esgrimidas por integrantes do regime de fato no Uruguai entre 1973 e 1985, que alegavam que as mortes de detidos foram por golpes e não execuções.
Julio Castro é o terceiro desaparecido cujo cadáver é encontrado durante escavações realizadas por antropólogos da Universidade da República.
O primeiro encontrado foi em 29 de novembro de 2005, quando se descobriram os despojos de Ubagesner Chávez Sosa e, poucos dias depois, em 2 de dezembro, os de Fernando Miranda, ambos militantes do Partido Comunista.
Organizações de direitos humanos estimam em mais de uma centena os uruguaios desaparecidos durante a ditadura militar.
"Aquele que está falando com vocês comete erros diariamente, como qualquer ser humano, mas hoje estamos falando de crimes, e essa é uma linha que este Comandante e seu Exército não cruzarão", acrescentou Aguerre, que assumiu ter se apresentado no dia 31 de outubro junto com os 10 generais existentes do país e dois coronéis que chegarão a generais no próximo ano.
"O Exército Nacional atua de acordo com as Convenções de Genebra e Haia, com os Protocolos adicionais e demais acordos relacionados", ressaltou, referindo-se aos tratados internacionais que consagram os princípios humanitários fundamentais nas guerras.
"Não tenho conhecimento de um pacto de silêncio para acobertar crimes dentro da Força que comando, e mesmo desconhecendo, se existiu ou ainda existe até hoje tal pacto, neste momento dou a ordem de sua suspensão imediata", indicou Aguerre.
"Peço apoio, dentro e fora da Força, para em conjunto obtermos informações para delimitar a responsabilidade material, ou não, do Exército, neste caso e em qualquer outro que possa ocorrer no futuro", enfatizou.
"Não sou um cético, nem um cínico moral e ético (…) Por minha responsabilidade de Comando, no dia de hoje e de forma extraordinária solicito mais uma vez a colaboração de todos para restabelecer uma reconciliação, de acordo com o interesse comum", frisou o comandante, que afirmou querer manifestar um "ponto de inflexão" com o objetivo de eliminar as dúvidas sobre "o agir e o pensar deste novo Comando".
Com agências