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Governo Monti na Itália é comissariado do Banco Central Europeu

A relazione, como se chama o Informe Político ao Congresso, de Paolo Ferrero ao 8º congresso da Refundação Comunista, foi muito empenhada. Ele encabeçou o documento da maioria, mas falou em nome de toda a direção do PRC, para atualizar a análise e tarefas partidárias.

O documento do Congresso foi escrito antes da queda do governo Berlusconi. Pelo que, o debate mais destacado hoje foi a avaliação do governo Monti, recém-empossado. Nada de um “governo técnico” como se diz – as palavras são formas de esconder e não esclarecer a ditadura financeira do Banco Central Europeu na Itália, espécie de “bonapartismo financeiro” cuja força vem do alto, um comissariado, portanto, do BCE que não tem nada a ver com salvação nacional, nem união nacional.

Para o PRC, segundo Ferrero, não se trata de um governo passageiro, mas um governo “que promove um reequilíbrio das forças burguesas no país para levar a uma reestruturação política do país”. Vai alcançar consenso das frações burguesas e neutralizar a centro-direita e centro-esquerda. O governo de centro-direita anterior, de Berlusconi, aplicava as medidas de direita, e elas serão mantidas, agora neutralizando não só Berlusconi, como a própria centro-esquerda, o Partido Democrático.

Frente a isso, a proposta do Congresso é construir a oposição de esquerda (até porque há a de direita), para saber dizer não às medidas que serão tomadas pela banca-governo, e saber dizer sim ao povo: sim, há alternativas de políticas para fazer frente à crise. Não há mais um clima de apelo à unidade com a centro-esquerda, como era a proposta de Frente Democrática antes da queda de Berlusconi.

Uma plataforma programática é oferecida por Ferrero para o debate das forças de esquerda, políticas e sociais. A proposta é a de realizar primárias programáticas em 2012, no âmbito da Federação de Esquerda, da qual participa a Refundação, mais o Partido dos Comunistas Italianos e numerosas outras forças de caráter político e social. Como ação, tem força a proposta de greve geral para barrar as medidas intentadas pelo governo contra a previdência e os direitos do trabalho, inclusive a de uma greve geral. Uma característica marcante do pensamento apresentado é o de inserir-se inteiramente no europeísmo, salvar o euro por outros caminhos não neo-liberais, denunciando-alterando os tratados de Maastricht e Lisboa que ensejaram a hegemonia alemã-francesa e engendraram a atual crise.

A experiência atual dos comunistas da Refundação é a de ser mais capaz de falar com clareza, identidade e simplicidade às pessoas, alcançar credibilidade quanto à exequibilidade das medidas alternativas propostas, enfrentar o desalento que debilita as pessoas e corrói sua dignidade. Uma oposição “constituinte”, com predominância de apelo à luta social, para fazer frente a um governo “constituinte”,

Neste domingo (4) foram encerrados os trabalhos com a eleição da direção nacional. O clima do congresso é de debate político aceso, porém isento de sectarismos e num clima de grande unidade. Refundação, ao longo de vinte anos, conheceu diferentes fases de auge e crises, com cisões e agregação de forças alternativas de esquerda. Mas mantém forte apelo à identidade, seu símbolo é a foice e o martelo, sua bandeira é a vermelha das gloriosas tradições da luta antifascista e pela “futura humanidade”, símbolo do Congresso. Este é um Congresso de superação, extraordinário, por manter agregadas essas energias e perspectivas, atualizadas para os desafios inauditos pelos quais passa a Europa dos monopólios financeiros e em especial a Itália.

Do enviado do PCdoB a Nápoles