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Deputadas querem ajudar às mulheres na prática esportiva

A experiência das atletas olímpicas brasileiras confirma as palavras das especialistas em políticas públicas para as mulheres que apontam para a falta de incentivo para as mulheres na prática de esportes. A deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), uma das autoras da audiência pública realizada nesta quarta-feira (14) para debater políticas públicas para mulheres desportistas, sugeriu que o ano de 2013 seja dedicado ao esporte feminino.

Deputadas querem ajudar às mulheres na prática esportiva - Agência Câmara

A deputada Luci Choinacki (PT-SC), outra autora do requerimento solicitando a audiência, destacou que o bom momento esportivo vivido pelo Brasil em função da realização da Copa 2014 e Olimpíadas 2016 é fundamental para chamar a atenção da sociedade para as mulheres desportistas, que ficam a margem dos debates e dos investimentos, principalmente, nos esportes de alto rendimento.

"É importante chamar a atenção também para o tratamento que a grande mídia dispensa às conquistas femininas nos esportes, na maioria das vezes, secundarizando o talento das atletas e supervalorizado os padrões de beleza existentes", ressaltou.

As histórias das atletas – de ontem e de hoje – dão conta das dificuldades públicas e familiares que tiveram de superar para alcançar o pódio. A ex-atleta Aída dos Santos, única mulher a compor a delegação brasileira dos Jogos Olímpicos de 1964, contou que a primeira vez que levou uma medalha ganha em uma competição esportiva foi castigada pelo pai. O pai disse a ela que “pobre precisa trazer dinheiro para casa e não medalha”.

A ex-jogadora de vôlei, Leila Barros, disse que foi obrigada a enfrentar o pai dela, que era contra a filha ser jogadora, e saiu de casa aos 17 anos, quando deixou Brasília e foi morar em Belo Horizonte. "Meu pai queria que eu me formasse, casasse e tivesse filhos, mas eu era atleta. Disse para minha mãe que disputaria uma olimpíada. Quatro anos depois estava em Atlanta", contou.

Deficiência comprovada

As duas deputadas destacaram, que a experiência das atletas ajuda na elaboração de políticas públicas que possam ampliar a participação das mulheres na prática de esporte. As representantes dos ministérios do Esporte e da Educação, que participaram do evento, reconheceram que existe deficiência no estímulo à prática desportiva das mulheres, ao mesmo tempo que destacaram o interesse do governo federal de alterar essa realidade.

Cássia Damiani, do Ministério do Esporte, apresentou, “no cenário que parece negativo, possibilidade de políticas públicas e ações que sejam duradouras e consistentes e atenda o aspecto de universalização do acesso à prática esportiva pelas mulheres”, disse, exemplificando com a proposta de criação de espaços de práticas esportivas, principalmente na modalidade do futebol.

Damiani, a exemplo de Cléia Mara Brandão, do Ministério da Educação, elogiou o debate sobre o tema e afirmou que o Ministério do Esporte está aberto para acolher ideias e sugestões para garantir essas conquistas.

A professora Kátia Rubio, da Universidade de São Paulo (USP), fez uma avaliação sobre os aspectos culturais da sociedade que afastam as mulheres da prática esportiva. Inicialmente porque, a exemplo das crianças, as mulheres não era consideradas cidadãs e portanto estavam impedida de participar de competições esportivas. Na era moderna, o argumento utilizado é outro – as mulheres são frágeis dos nervos, sem condições de participar das competições.

Para Cléia Brandão, a escolha não é uma ilha e a deficiência na oferta de oportunidade da prática desportiva para as mulheres é reflexo desses aspectos culturais da sociedade. Ela ressaltou que durante muitos anos, algumas práticas desportivas eram proibidas às mulheres pelo fato de exigir contato físico ou ainda porque as faria perder a feminilidade.

Desigualdades no esporte

A ex-jogadora de vôlei de praia Jaqueline Silva criticou as diferenças salariais entre atletas nas modalidades feminina e masculina e a falta de apoio para as mulheres no esporte. Ela ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, e lembrou que, na volta ao Brasil, percebeu que a discriminação com as mulheres continuava. "Os jogadores de vôlei ganhavam mais que as jogadoras, e o argumento era de que o vôlei masculino era mais difícil”, afirmou rindo.

A jogadora de futebol do Atlético Mineiro Amanda Miranda, que também participou do debate, disse que recebe R$ 600 por mês para ficar no clube o dia todo, treinar, viajar e participar das competições. Ela afirmou que há meninas que não conseguem viajar para ver a família há dois anos por falta de dinheiro.

A jogadora reivindicou tratamento igualitário para homens e mulheres no esporte. "Poderia ser organizado um campeonato brasileiro feminino. O Brasil é o País do futebol, mas estamos perdendo para o Japão e para os Estados Unidos porque eles investem. Com esporte a gente consegue tirar as meninas da rua e até da prostituição", destacou.

De Brasília
Márcia Xavier
Com Agência Câmara