Deputada Manuela d’Ávila: O povo confia nas mulheres
Leia abaixo entrevista da deputada federal Manuela d´Àvila ao portal Movimento Mulher 360
Publicado 15/12/2011 17:10 | Editado 04/03/2020 17:10
“Nunca antes na história deste país”. Essa era uma das frases preferidas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e é a que melhor descreve o atual momento da política nacional. Em um feito inédito, o Brasil hoje é governado por uma mulher, a presidente Dilma Rousseff, que não só figura no comando da nação, mas está entre as líderes mundiais mais influentes. A sua eleição, na avaliação da deputada federal Manuela d’Ávila, é uma evidência clara de que o povo brasileiro confia nas mulheres. É sobre os avanços e contribuições femininas para a política, que conversamos com a deputada – hoje, uma das congressistas brasileiras mais atuantes. Gaúcha, Manuela d’Ávila tem apenas 30 anos e já acumula a responsabilidade de ter sido a deputada mais votada do Brasil, em 2010. Na opinião dela, a mulher tem um olhar diferenciado na política, que busca a valorização dos direitos sociais. Confira nosso bate-papo:
Movimento Mulher 360 – A senhora é autora de um projeto de lei que prevê a punição e mecanismos de fiscalização contra a desigualdade salarial entre homens e mulheres. De que maneira a fiscalização seria realizada? Como as empresas seriam punidas? Qual a expectativa de votação e o andamento do projeto na Câmara?
Manuela d’Ávila – O projeto prevê que a fiscalização e a execução da punição (pagamento, à funcionária, de valor equivalente a dez vezes a diferença acumulada) será responsabilidade da Receita Federal e do Ministério do Trabalho, através de um sistema informatizado e da fiscalização presencial. O projeto está tramitando nas Comissões da Câmara e, após ser aprovado em todas, estará pronto para ser votado no Plenário e dependerá do presidente da Casa, que decide quais projetos são votados. Não há, ainda, uma previsão de data.
MM360 – Quais as maiores contribuições das mulheres para a política brasileira?
MD – Uma das mais importantes é a humanização e a democratização das relações culturais e sociais. A luta pela igualdade social é uma contribuição das mulheres. A mulher tem um olhar diferenciado, que busca a valorização dos direitos sociais. Isso se aplica na saúde, educação, na luta contra a diferença, na promoção da igualdade (não apenas de gênero).
MM360 – A presidente Dilma Rousseff e a chanceler alemã Angela Merkel são exemplos fortes dos avanços femininos no alto escalão da política mundial. Na opinião da senhora, o que podemos esperar do futuro das mulheres na política?
MD – Temos que trabalhar para que as mulheres estejam cada vez mais presentes e esse é o rumo que estamos traçando. No meu partido, por exemplo, somos mais mulheres do que homens no Congresso. Isso porque acreditamos e praticamos a igualdade. Mas, pontualmente, precisamos mudar nosso sistema de financiamento de campanha – que ainda privilegia os homens – e fazer com o que os partidos, em suas bases, envolvam as mulheres e dêem a elas protagonismo político em todos os níveis. Para terem uma ideia, dos 513 deputados, apenas 45 são mulheres.
MM360 – Quais são os maiores desafios das mulheres nos dias atuais?
MD – Infelizmente a gente não tem, ainda, o mesmo espaço e as mesmas oportunidades que os homens têm. Isso em todos os níveis, na política, nos cargos executivos, nas grandes empresas, em fábricas… O nosso desafio, nesse sentido, é deixarmos claro que nosso objetivo não é ocupar os espaços que os homens já ocupam, mas, sim, mostrar a contribuição que podemos dar na construção do nosso país. O fim do preconceito depende disso, ou seja, das pessoas entenderem que queremos conquistar nosso espaço (que é nosso direito) para somar.
MM360 – Quais são as mulheres que a senhora admira, na política e vida pessoal?
MD – Minha vida tem uma presença bastante forte de mulheres, especialmente por intermédio da minha mãe e de três irmãs. Admiro muito a Maria da Penha, uma mulher que soube fazer da sua dor o remédio para milhares de mulheres não passarem pelo que ela passou. E de uma forma bem significativa, admiro milhares de mulheres anônimas, que constroem suas histórias de superação todos os dias, enfrentando o preconceito de peito aberto, com sorriso no rosto, que são pilares das suas famílias, que cuidam de si mesmo cuidando do mundo todo ao seu redor.
MM360 – E de que maneira concilia a vida pessoal e profissional?
MD – É uma jornada complicada! Não abro mão da minha família (e amigos) e do meu trabalho. Não teria como escolher um ou outro porque são aspectos muito importantes. Aprendi a conciliar e todo tempo livre que tenho dedico à minha família. Toda vez que estou com eles renovo minhas forças e energias e fico mais forte para enfrentar os desafios da política.
MM360 – A senhora foi eleita a mais jovem vereadora de Porto Alegre e a deputada mais votada do Brasil. Quais os planos para o futuro?
MD – Meu sonho sempre foi transformar a sociedade, trabalhar para isso. Mas queria ser professora, fazer essas transformações em sala de aula. A vida tomou um rumo diferente, mas os planos não mudaram e se fortalecem cada dia mais. Hoje sou deputada federal e no próximo ano devo concorrer à prefeitura da minha cidade – Porto Alegre. Os planos são continuar trabalhando com o que acredito e tentando mudar pra melhor a vida da nossa gente.
MM360 – Durante a trajetória profissional, já se sentiu vítima de preconceito por ser mulher?
MD – Sim. No meu primeiro mandato na Câmara, especialmente. Além de mulher, era jovem. Ou seja, duas marcas que, para o mundo tradicional da política, incentivam o preconceito. Mas o mandato trabalhou muito e superamos!
MM360 – Quais os conselhos que a senhora dá para as mulheres que querem seguir carreira política?
MD – Para persistirem. Há preconceito, e forte. Mas se não enfrentarmos isso, a situação que vivemos hoje será cada vez mais forte e as chances de mudá-las mais reduzidas. A eleição da presidenta Dilma nos mostrou que o povo brasileiro confia nas mulheres, que não é machista. Precisamos aproveitar esse momento e ocupar mais espaços.
MM360 – E de que forma avalia o Movimento Mulher 360, que se propõe a causar um impacto positivo na vida de 100 mil mulheres até 2015?
MD – Acho ótimo! Toda ação que atua no sentido de valorizar o papel da mulher na sociedade merece respeito e incentivo. De uma forma equivocada as pessoas falam de uma competição que não existe. A mulher não quer ocupar o espaço dos homens, quer, sim, o que é justo, ou seja, igualdade, respeito, direitos iguais. Tudo sempre com respeito às diferenças que existem e que servem para enriquecer a todos. E vocês contam histórias reais de mulheres reais que mostram que é possível fazer as coisas serem diferentes.
Fonte: www.movimentomulher360.com.br