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Colômbia: os primos Santos, não tão santos

Francisco Santos, primo-irmão do presidente Santos, indiciado pela criação do Bloco Capital dos paramilitares, está novamente em julgamento; indiciado por sua vinculação com o chefe máximo paramilitar, Carlos Castaño, diretamente pelo mensageiro pessoal de Castaño.

O paramilitar disse que entregou duas cartas ao ex vice-presidente Santos, por parte do chefe paramilitar Castaño. Essas declarações se somam àquelas do chefe paramilitar, Salvatore Mancuso, que declarou que a criação do Bloco Capital foi um pedido de Francisco Santos, e indicou as cartas como sendo comunicação referente à preparação do dito bloco paramilitar. Seriam mais testemunhos da criação do Bloco Paramilitar Caputaly e do papel de Santos…

O paramilitar Jesus Emiro Pereira, cunhado e homem de confiança do chefe paramilitar Carlos Castaño, declarou na Corte perante um fiscal delegado que visitou duas vezes Francisco Santos a pedido do líder dos paramilitares AUC (Castaño)… O ex vice-presidente era nesse momento o editor do jornal El Tiempo. Através de seu advogado o ex vice-presidente disse que não lembrava dessas visitas, mas que tampouco descartava que tenham acontecido.

O paramilitar Jesus Emiro Pereira, codinome “Huevo Pizca”, declarou perante o Fiscal que viajou duas vezes de Córdoba por ordem do chefe paramilitar Castaño para entregar uma correspondência dos paramilitares ao hoje ex vice-presidente Francisco Santos, primo-irmão do atual presidente Juan Manuel Santos. A entrega e a reunião teria sido na mesma sede do jornal propriedade da família Santos:

“Fui de avião desde Montería até Bogotá e no aeroporto peguei um táxi para o jornal El Tiempo, a carta me foi entregue pessoalmente por Carlos Castaño, e pessoalmente eu a entreguei para Francisco Santos, tomei vinho tinto com ele e até com o pai dele, a maioria dos Santos estava lá (…)” (1)

As declarações do paramilitar Jesus Emilio Pereira se somam às que foram entregues em março de 2010 à Promotoria de Justiça e Paz pelo chefe paramilitar Salvatore Mancuso, afirmando que a criação do Bloco Capital foi um pedido de Francisco Santos:

“(…) enviei uma carta a Pachito (Francisco Santos) dizendo-lhe que se daria a criação do Bloco Capital pelo pedido que fazia o senhor Francisco Santos” (Ibíd.)

Jesus Emiro Pereira também disse que nos acampamentos paramilitares conheceu José Miguel Narvaez (diretor do DAS) quando foi ministrar aulas de política em São Pedro de Urabá.

O que significa criar grupos paramilitares: genocídio e estratégia de desapropriação

Essas novas declarações referem-se ao pilar do genocídio na Colômbia: a criação de uma ferramenta paramilitar a partir do próprio Estado e a grande oligarquia nacional e multinacional para acalmar as reivindicações sociais, eliminar a oposição política e provocar deslocamentos populacionais massivos com o fim de despejar camponeses de suas terras.

A magnitude da macabra estratégia paramilitar se expressa nestas cifras: em janeiro de 2011, a Promotoria publicou um informe: há documentados 173.183 assassinatos e 34.467 desaparecimentos forçados, entre outros crimes cometidos entre junho de 2005 e 31 de dezembro de 2010 pela ferramenta paramilitar (2). E a ferramenta paramilitar continua perpetuando desaparecimentos forçados, assassinatos, deslocamentos e massacres sob a presidência de Santos: somente nos 90 primeiros dias de sua presidência foram assassinados 50 opositores políticos (partido Polo Democrático Alternativo), assassinaram 27 sindicalistas no seu primeiro ano de mandato (3), e os massacres se incrementaram, o último deles foi realizado no dia 17 de agosto de 2011, no qual foram torturados e assassinados três líderes comunitários, campesinos e mineiros artesãos do Sul de Bolívar: um massacre que a comunidade denunciou que se produziu com o total consentimento do exército; um massacre perpetuado com a evidente finalidade de injetar terror na comunidade para que esta se desloque das riquíssimas terras aspiradas pelas transnacionais auríferas.

As terras são retidas por paramilitares que se instalam em uma conjugação de massacres e ocupação militar, para depois serem entregues às transnacionais mineradoras: é o modus operandi que se aplica em várias regiões do país. Assim denuncia a comunidade: “assassinaram diante da comunidade Pedro Sierra, o senhor Ivan Serrano e o jovem Luis Albeiro Ropero, que foram torturados, tiveram suas línguas cortadas e foram assassinados. Da referida incursão ficou ferido o senhor Carlos Palencia, agrominerador da região. (…) Esta zona tem uma alta presença de retroescavadoras, as quais foram inseridas desde 2009 para a exploração ilegal das minas de ouro por parte dos grupos paramilitares, perante o olhar cúmplice das autoridades locais e regionais. Estes fatos que foram oportunamente denunciados pela comunidade e pelas organizações que lhes acompanham vêm se agravando. Calcula-se que existam na região aproximadamente 60 retroescavadoras.” (4)

A impunidade prevalece para os artífices do Terror Estatal

As declarações do paramilitar J. E. Pereira se somam às declarações que indicam Francisco Santos como o criador do Grupo Paramilitar Capital, declarações nas quais já havia sido enfático o funesto chefe paramilitar Salvatore Mancuso: a impunidade prevalece. O paramilitar J. E. Pereira também disse que nos acampamentos paramilitares conheceu José Miguel Narváez (diretor do DAS) quando Narváez foi ministrar aulas de política em São Pedro de Urabá: cabe se perguntar se as “aulas de política” as quais se refere são aquelas que o Chefe paramilitar “Don Berna” indicou que eram intituladas “Por que está bem matar comunistas na Colômbia”.

O representante da câmara (pelo PDA), Iván Cepeda, declarou em juízo que se adianta ao ex-diretor do DAS, José Miguel Narváez, e a outros seis ex-funcionários do DAS, que o extraditado chefe paramilitar Diego Fernando Murillo Bejarano, codinome “Don Berna”, assegurou-lhe que José Miguel Narváez era membro orgânico das estruturas das AUC paramilitares (5). “(codinome “Don Berna’) disse que (Narváez) cumpria várias funções. Que era conselheiro do senhor Carlos Castaño (chefe paramilitar) e que desempenhava papel de líder dessa organização criminosa (…) E que além disso, cumpria a função de instrutor ideológico dos acampamentos nos quais tinham suas sedes”, declarou Cepeda (Ibid). Declarou que o chefe paramilitar ‘Don Berna’ disse que o ex-diretor do DAS realizava nesses acampamentos um minicurso denominado: “Por que é legítimo ou por que está bem matar comunistas na Colômbia” e que, além disso, constava a “Don Berna” ter pessoalmente escutado Carlos Castaño dizer que José Miguel Narváez lhe havia ordenado vários crimes.

Assombro, calafrio, indignação: presididos pela tortura e pela morte

A impunidade segue reinando como amparo para uma elite oligárquica que utiliza o genocídio como mecanismo de submissão e desapropriação. A impunidade mais abusiva serve para perpetuar a acumulação de terras e capital em poucas mãos, enquanto as maiorias se veem cada dia mais empobrecidas, despojadas e reprimidas.

Causa calafrio que o próprio primo-irmão do presidente de um país seja indiciado como criador e instigador de grupos de estripadores (os paramilitares). Causa assombro que outro dos primos deste presidente, que é diretor da transnacional canadense Medoro, declare abertamente que as populações autônomas e o seu direito de habitar seus territórios não podem ser um impedimento a mega mineradora transnacional, porque, segundo ele, essas comunidades deveriam velar pelo “bem comum”, e entenda por “bem comum” os interesses das transnacionais (6).

Causa assombro que o próprio presidente Santos esteja livre da justiça quando se vangloriou, perante milhares de câmeras, pelo bombardeio a outro país, em uma operação militar violadora dos Direitos Humanos, na qual inclusive foram mortos os feridos, a queima-roupa (sendo assassinados civis e guerrilheiros indefesos, feridos e a mercê do exército) (7); causa assombro que o presidente Santos esteja livre da Justiça quando pesa sobre sua pessoa a responsabilidade de, pelo menos, 3.200 assassinatos de jovens e crianças civis para as macabras instalações militares dos “falsos positivos” (8). Nos mal chamados “falsos positivos” os militares assassinam civis e depois disfarçam os cadáveres e os apresentam como “guerrilheiros abatidos em combate”. Estes crimes seguem aumentando, como revela informe de maio de 2011 do Cinep (9).

Causa assombro que, com os níveis de genocídio que sofre o povo colombiano, a comunidade internacional continue a cumplicidade silenciosa com o santismo, aceitando como certa a propaganda oficial, enquanto são milhares as vítimas de um regime do terror que pedem ajuda para sair do terror estatal e paramilitar, e para poder reivindicar seus direitos, reivindicar justiça social sem serem submetidos ao extermínio.

Camponeses e ecologistas assassinados para perpetuar o saqueio de ouro; homens de negócios impunes

O panorama se apresenta sombrio: a cobiça se incrementa na Colômbia. As transnacionais mineradoras cobiçam o território riquíssimo em ouro da Colômbia. Na atualidade, 40% do território colombiano está concedido para a mineração transnacional. O presidente Juan Manuel Santos insiste em consolidar a mineração a céu aberto e a grande escala. A exploração dos recursos naturais não renováveis constitui uma das denominadas “locomotoras da economia”: a política da “Prosperidade Democrática” de Santos privilegia a mega mineração com sua destruição ao meio ambiente e a comunidades indígenas, afrodescendentes e campesinas, sob o pretexto de que as transnacionais vão gerar emprego e prosperidade.

Mas nada mais falso, dado que os impostos à extração e apropriação dos minerais são irrisórios, enquanto que o que deixam as transnacionais são montanhas destruídas, uma contaminação dramática da água e massivos deslocamentos populacionais. O saqueio de ouro é viabilizado pelo Estado colombiano e sua ferramenta paramilitar. O exército colombiano e as tropas de ocupação norte-americanas na Colômbia resguardam os interesses das transnacionais dos EUA, da União Europeia, Canadá e, ademais, treinam e coordenam a ferramenta paramilitar que usam para praticar horrendos massacres que buscam gerar a paralisia da reivindicação social, da reivindicação trabalhista ou ecológica mediante o medo, e gerar, sobretudo, o deslocamento populacional de maneira massiva. O medo é injetado nas populações: é Terrorismo de Estado exercido através da ferramenta paramilitar na ilegalidade, que é articulada pela força pública desde a legalidade.

“A grande mineração poderá unicamente ser feita pelas transacionais estrangeiras: essas companhias levam 96% e, teoricamente, a Colômbia fica com 4%; no entanto, sequer chega a 4%, pois os impostos que os colombianos pagam são usados para as isenções tributárias: ou seja, os colombianos em sua totalidade financiam estas grandes empresas estrangeiras para que levem 99% de nossos recursos”, expressa um ecologista colombiano (10).

Enquanto continua o genocídio e o deslocamento contra a população colombiana, os instigadores e criadores da ferramenta paramilitar seguem impunes, aumentando sua fortuna.

NOTAS:

1. VÍDEO de Notícias UNO: Paramilitar afirma que entregou duas cartas ao ex vice-presidente Santos, a mando de Castaño:http://www.youtube.com/watch?v=iVVLCvqly3k&feature=player_embedded

2.Para se ter uma ideia do genocídio que perpetua a ferramenta paramilitar na Colômbia, e da importância capital destas declarações que novamente vinculam o estado colombiano com a criação de Blocos paramilitares: em janeiro de 2011, a Procuradoria publicou um informe: há documentados 173.183 assassinatos e 34.467 desaparecimentos forçados, entre outros crimes cometidos entre junho de 2005 e 31 de dezembro de 2010 pela ferramenta paramilitar. http://www.fiscalia.gov.co/justiciapaz/Index.htm – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=120461&titular=cifras-alarmantes-de-cr%EDmenes-cometidos-por-la-herramienta-paramilitar-de-estado-y-multinacionales-

3.Colômbia, o país mais perigoso do mundo para sindicalistas, já são 27 sindicalistas assassinados durante a presidência de Santos:http://www.rebelion.org/noticia.php?id=133818&titular=el-pa%EDs-m%E1s-peligroso-del-mundo-para-los-sindicalistas-

4.Massacre paramilitar com cumplicidade das autoridades na região rica em ouro: http://www.rebelion.org/noticia.php?id=134348&titular=nueva-masacre-paramilitar-en-el-sur-de-bol%EDvar-con-la-complicidad-de-las-autoridades-

5.O representante da câmara Iván Cepeda (pelo PDA), sustentou que o extraditado chefe paramilitar Diego Fernando Murillo Bejarano, codinome ‘Don Berna’, assegurou-lhe que José Miguel Narváez, diretor do DAS, era membro orgânico das estruturas das AUC paramilitares:http://www.caracolradio.com/nota.aspx?id=1436047

6.Afirmou o primo de Santos e executivo da multinacional canadense Medoro: O Governo beneficia as multinacionais mineradoras em detrimento do meio ambiente e das comunidades. http://www.rebelion.org/noticia.php?id=132682.

7.Bombardeio ao Equador realizado em março de 2008: uma operação militar violadora do DIH, na qual foram mortos, inclusive, os feridos, a queima-roupa. Foram assassinados civis e guerrilheiros indefesos, feridos e a mercê do exército, como relataram 3 sobreviventes e as autópsias.http://asociaciondepadresyfamiliares.blogspot.com/

8.Mais de 3.200 casos de assassinatos de civis por militares estão impunes..http://www.rebelion.org/noticia.php?id=132440.

9.Em maio de 2011, o CINEP publicou um informe no qual evidencia que os assassinatos de civis por militares, longe de diminuir, aumentaram durante a presidência de Santos. http://www.es.lapluma.net/index.php?option=com_content&view=article&id=1981:el-cinep-afirma-que-aumentaron-victimas-de-asesinatos-de-civiles-a-manos-de-militares-mas-falsos-positivos-&catid=103:violacion-de-dh&Itemid=447

10.Documentário de Al Jazeera, Fault Lines, Colombia’s gold rush: http://www.youtube.com/watch?v=yCpYf8B1vYs&feature=player_embedded#at=161

Parte do VÍDEO de Al Jazeera com tradução ao espanhol: www.agenciapensamientocritico.blogspot.com

Fonte: La Haine. Tradução de Gabriela Blanco para Diário Liberdade