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Cientistas afirmam descobrir pistas da "partícula de Deus"

Cientistas da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (Cern, na sigla em francês) anunciaram em um seminário em Genebra, na Suíça, terem encontrado pistas para a localização do “esconderijo” do bóson de Higgs. A hipotética partícula elementar, apelidada de "partícula de Deus", seria a primeira a conter massa depois do Big Bang e poderia explicar a origem da massa de outras partículas elementares.

O anúncio foi feito na terça-feira (13). Segundo os cientistas, foram usadas amostras de dados de colisões de prótons coletados por meio do Grande Colisor de Hádrons e dos dois principais projetores do Cern, denominados Atlas e CMS. Com isso, conseguiram excluir a hipótese da existência da partícula em uma ampla gama de possíveis valores para as massas da partícula. Com isso, “as buscas” pelo bóson de Higgs poderão passar a ser concentradas agora em uma região de massa muito menor.

“Os resultados são muito animadores. Agora há uma pequena região onde é possível o bóson de Higgs estar localizado. Porém, é preciso ter cautela, porque os resultados ainda não são conclusivos”, contou Sérgio Novaes, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que é membro de um dos dois grupos de cientistas que procuram pelo bóson de Higgs no Cern, o Compact Muon Solenoid (CMS). Ele também é coordenador do projeto temático Sprace, realizado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp).

O projeto Sprace proporciona aos pesquisadores brasileiros operarem uma rede de processamento de dados e participarem da análise de dados produzidos pelo CMS.

Usando a amostra de dados de colisões de prótons coletadas até agora no Cern, os pesquisadores do grupo CMS anunciaram que, se o bóson de Higgs existir, há 95% de chances de ele não ser encontrado no intervalo de massa entre 127 e 600 GeV (gigaelétron-volt, termo utilizado na física para quantificar os campos de energia das partículas), e que os maiores indícios da localização da partícula estão na faixa de massa entre 115 e 127 GeV.

Resultados similares aos do CMS foram obtidos pelo grupo Atlas. “É absolutamente surpreendente que dois experimentos realizados de forma independente, sem um grupo ter acesso aos dados do outro, chegarem a resultados tão similares”, avaliou Novaes.

Agora, os dois grupos de pesquisa vão publicar seus resultados e, posteriormente, se reunir para cruzarem seus trabalhos.

Estimativas dos pesquisadores do Cern apontam que será possível estabelecer claramente a existência ou não do bóson de Higgs na região de massa delimitada pelos grupos CMS e Atlas no final de 2012, quando haverá um maior número de amostras de dados de colisões de prótons será coletado.

“A questão agora é segurar só mais um pouco a ansiedade, que vem se acumulando durante os últimos 45 anos, para provar ou não a existência do bóson Higgs. Eu acho que a resposta final está próxima”, disse Novaes.

Entenda

Foi em 1964 que a partícula foi postulada pelo britânico Peter Higgs, que propôs, com outros físicos, um mecanismo teórico que tornaria possível que as partículas tivessem massa.

Em 1967, o mecanismo teórico foi incorporado pelo físico norte-americano Steven Weinberg em uma teoria para explicar as partículas elementares do Universo, denominada Modelo-Padrão. Segundo essa tese, o universo foi resfriado após o Big Bang, quando uma força invisível, conhecida como Campo de Higgs, formou-se junto de partículas associadas, os bósons de Higgs, transferindo massa para outras partículas fundamentais.

Desde então, cientistas vêm buscando descobrir a partícula, cujos sinais da presença dela são extraídos de uma grande quantidade de dados similares e a partir da produção de um grande número de eventos para se certificar da descoberta.

“É como tentar encontrar, literalmente, uma agulha no palheiro. É extremamente complexo extrair o sinal da existência da partícula de bóson Higgs”, disse Novaes.

O cientista brasileiro lembra que só está sendo possívelrealizar a pesquisa graças ao desenvolvimento de novas tecnologias por cientistas e engenheiros de diversas instituições em todo mundo, que estão se propagando para outras áreas do conhecimento, como a medicina e a computação.

Com Agência Fapesp