Zhong Sheng: Qual é o legado da ocupação do Iraque?
Em 12 de dezembro, durante uma visita do primeiro ministro iraquiano Nuri al-Maliki à Casa Branca, o presidente estadunidense Barack Obama anunciou o fim da guerra, com a retirada do último contingente militar americano do Iraque.
Por Zhong Sheng, no Diário do Povo Online, China
Publicado 18/12/2011 14:01
A ocupação do Iraque foi um dos grandes eventos do século 21. O povo e a opinião pública dos Estados Unidos se deram conta de que a grande dívida pública dos EUA não pode não ter sofrido efeito de uma guerra que custou mais de US$ 3 trilhões, durou quase nove anos e causou a morte de cerca de 4,5 mil soldados, além de outros 30 mil feridos. Entretanto, o resultado foi que atualmente a influência do Irã, um dos velhos inimigos de Washington, é maior que a sua. Os Estados Unidos realmente venceram a guerra?
Os americanos refletem sobre a guerra do Iraque da mesma maneira que fizeram com a guerra do Vietnã, sempre comparando os resultados com seus próprios interesses, sem considerar como isso poderá afetar o Iraque em um longo prazo. Aos olhos dos americanos, o Iraque de hoje é um "país autônomo, tolerante e com um grande potencial". Entretanto, por mais de oito anos, milhares de civis iraquianos morreram por causa da ocupação, sem contar com os milhões de refugiados e milhares de membros da elite que emigraram para o exterior.
A dor da guerra todavia permanece em Faluja, onde as bombas de fósforo branco e outras armas químicas continuam causando deformações em recém-nascidos. Um médico de um hospital local disse que "somente em 11 de outubro nasceram 12 bebês com deformações". Devido à escassez de fundos para a reconstrução, os sistemas de purificação de água e tratamento de esgotos ainda não foram concluídos. Os habitantes da cidade estão preocupados porque organizações terroristas e os "insurgentes" podem reaparecer. Quase não há segurança para ninguém. "Desenvolvimento político" e "prosperidade econômica" são só palavras vazias.
O maior legado político que a ocupação deixou foi a propalada "democracia". Os americanos se jactam de que construiram um "modelo para toda a região". Entretanto, o povo constata que a situação de segurança no país continua em estado grave. Prosseguem os conflitos religiosos e a democracia continua muito frágil. O mais preocupante é que as minorias curda e sunita estão unindo forças para exigir uma maior independência. As causas profundas do terrorismo não foram ainda eliminadas.
Os Estados Unidos anunciaram duas vezes o "fim" da guerra no Iraque. Desde que foi anunciada a retirada das tropas até agora se passaram quase três anos, o que demonstra que finalizar uma guerra não é fácil. Enquanto se anuncia o "final" da guerra, o Iraque continua muito vulnerável e com pouca capacidade operacional para mobilizar o país. O risco à segurança política continuará existindo por muito tempo.
De fato, não só os Estados Unidos e o Iraque pagaram por esta guerra. O sistema contemporâneo de relações internacionais também sofreu um duro golpe. Os dois principais objetivos propalados do início da guerra eram: primeiro, acabar com a ameaça das armas de destruição em massa de Saddam Hussein. Segundo, derrubar "uma ditadura que apoiava o terrorismo". O primeiro se demonstrou uma mentira poucos dias depois que os americanos controlaram Bagdá. Inclusive Colin Powell, então secretário de Estado dos EUA, disse com indignação que havia sido enganado com "provas falsificadas".
O segundo objetivo, longe de obter o efeito esperado, gerou o oposto: o Iraque, que a princípio não tinha relação com a rede Al-Qaida, se converteu em um "paraíso" terrorista. Sem a autorização da comunidade internacional, os Estados Unidos atacaram um país soberano. Talvez por isso a mídia americana utiliza a palavra invasão ao referir-se à guerra do Iraque. Sem dúvida, esta guerra sem causa justa tornou-se um notório mau exemplo para a comunidade internacional.
Traduzido pelo Vermelho