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A FIFA e o novo ministro

5. O novo ministro e o futebol da FIFA: tempos difíceis para um palmeirense

O repórter de RB esteve com o novo ministro do Esporte, Aldo Rebelo, em seu apartamento em Brasília. Assistiu com ele, pela TV, à derrota do Palmeiras por 2 a 0 diante do Coritiba, pelo Campeonato Brasileiro de futebol, no domingo, 6 de novembro.

O time paulista estava mal, completamente afastado da disputa pelo título e perigosamente próximo do bloco dos quatro últimos colocados, que são rebaixados para a segunda divisão.

Palmeirense como o ministro, o repórter concordou com ele na avaliação de que a situação estava difícil. E não apenas para o outrora glorioso time do Parque Antártica. No ministério, o rol de denúncias contra o ex-ministro Silva e o PCdoB era apenas um e talvez o menos grave dos problemas que iria enfrentar. O principal, segundo Rebelo, é a falta de uma política nacional de esportes.

Foram realizadas, nos governos da coalizão da qual o seu partido participa, conferências nacionais de esportes, mas não se tem ainda definida uma política geral para o esporte no país, que envolva, por exemplo, a educação pública e a habitação popular, com a obrigatoriedade da construção de equipamentos e o aparelhamento, com instrutores qualificados, de centros de promoção do esporte nas escolas e bairros populares. Prevalece ainda uma política de esportes guiada, em última instância, pelo mercado, com atletas de alto desempenho patrocinados pelas grandes marcas, sendo vistos na TV pelos consumidores dessas marcas. Nesse sentido, o fato de o Brasil ser agora o organizador da Copa do Mundo de Futebol de 2014 e da Olimpíada de 2016 não muda essencialmente essa situação. Aliás, tende a reforçá-la.

O ministro estava ainda estremunhado por ter chegado a Brasília na alta madrugada do domingo. No sábado à noite assistira à maratona esportiva indígena promovida pelo governo do estado do Tocantins e pelo Ministério do Esporte. Nela se exibiram 39 etnias em disputas variadas, de futebol a carregamento de toras, numa ilha perto da cidade de Porto Nacional, às margens do Tocantins. No dia seguinte ele almoçou, na residência oficial do presidente da Câmara, Marco Maia, com o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke.

O encontro pode ser visto como um símbolo do conjunto de dificuldades correlacionadas que Rebelo terá pela frente. A Copa do Mundo organizada pela Fifa, a federação internacional do futebol, é um modelo de esporte guiado pelo mercado e pelo consumismo incentivado das grandes marcas. É comandada por um acordo de publicidade bilionário entre a entidade e um punhado de empresas, como a Coca-Cola e a Ambev. A Fifa considera os termos desse acordo fundamentais para a realização dos jogos e quer que as autoridades brasileiras deem um jeito de contornar as leis que proíbam a sua vigência no país.

A Fifa exige, por exemplo, a venda de bebidas alcoólicas nos estádios e numa área de dois quilômetros em torno deles. As bebidas a ser vendidas serão exclusivamente das cervejas patrocinadoras do evento. Essas duas exigências são proibidas pelo Procon, órgão de defesa do consumidor, e pelo Estatuto do Torcedor. A presidente Dilma Rousseff disse, na posse de Rebelo, inclusive, que o Brasil não abrirá mão de sua soberania. Em entrevista a O Estado de S. Paulo, Valcke disse que “o Brasil não vai vencer a Fifa”. Para a queda do ex-ministro Silva com certeza contribuiu o fato de ele ter sido o porta-voz dessa nova postura do governo brasileiro.

Como é sabido, o Brasil assinou com a Fifa, no governo do presidente Lula, os acordos básicos de aceitação da soberania da entidade sobre os locais dos dois grandes eventos comercial-esportivo-futebolísticos que serão a Copa das Confederações da Fifa 2013 e a Copa do Mundo da Fifa 2014. No curto prazo, Rebelo certamente pouco pode fazer para mudar essa situação.

No dia 14 de novembro, o ministro substituiu três altos dirigentes de sua pasta. Tirou três quadros do PCdoB e colocou pessoas próximas a ele, mas de outras tendências políticas. Trocou Waldemar de Souza por Paula Pini, funcionária do Banco Mundial, na secretaria executiva; Ana Prestes, neta do ex-dirigente Luiz Carlos Prestes, pelo diplomata Carlos Cardim, na chefia da Assessoria Internacional; e Wadson Ribeiro pelo vice-almirante reformado Afonso Barbosa, na Secretaria de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social. Com isso, passa a administrar o ministério com uma frente mais ampla. Ao que tudo indica, Rebelo acha que a política anterior do PCdoB, num ministério que se tornara muito grande, deixara o partido isolado. E precisava de um ajuste.