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PCF: Diante da crise, articular lutas e construir a alternativa

Há alguns anos, as lutas populares se desenvolvem em diversas regiões do planeta com a exigência de mudanças profundas. Na América Latina, esses movimentos populares têm aberto caminho à instalação de governos progressistas, às vezes com a participação de partidos comunistas, que indiscutivelmente já mudaram a face da região e contribuem para modificar a correlação de forças no mundo.

Deste ponto de vista, a criação da Comunidade de Estados Latino-americanos é um fato histórico. Outro fato significativo é o papel ativo que Cuba joga nessa nova configuração. A Revolução cubana não está mais isolada. Os progressistas desse continente devem muito a Cuba, sua resistência e a solidariedade que ela aportou aos progressistas da América Latina dá agora seus frutos.

Vê-se assim como o mundo árabe conhece movimentos populares portadores das mesmas exigências de justiça e de democracia. Como na América Latina, esses movimentos traduzem a crescente rejeição às políticas neoliberais impostas pelo FMI e as transnacionais e aplicadas por governos corruptos e autoritários onde o nepotismo é moeda corrente.

Na Europa, lutas se desenvolvem para resistir às políticas que atacam o nível de vida, o emprego produtivo e as proteções sociais. Elas se opõem a governos, de direita ou sociais-democratas, que não propõem outra coisa senão as mesmas políticas que estão na origem da crise para salvar o capital financeiro sempre querendo aumentar sua dominação. Essas mesmas forças chegaram a um consenso que permitiu a construção dessa Europa do capital que também está em crise, pois é um dos principais atores do capitalismo mundializado. As lutas de nossos povos se encontram face a face a um capitalismo que está num impasse.

É necessário saudar a determinação do povo grego que se bate há vários meses com grande dignidade e que não aceita as injunções insultantes da dupla Merkel-Sarkozy e as imposições de uma União Europeia mais desacreditada do que nunca. O povo grego é um exemplo de coragem, ele é portador também de nossas esperanças e exigências. Eu gostaria de exprimir aqui, aos comunistas gregos que estão na primeira linha desse combate, toda a nossa solidariedade compartilhada por todos os homens e mulheres que se batem na França.

Os povos se revoltam e exigem mudanças reais. Uma consciência se desenvolve graças a essas lutas quanto às causas da situação atual e as responsabilidades daqueles que nos governam a serviço do grande capital.

Os povos não aceitam mais o destino que estão tendo, eles exprimem o sentimento de que as coisas não podem mais continuar assim. Expectativas e exigências crescem em face da financeirização das economias que desvaloriza o trabalho, contra a mercantilização da vida e a destruição dos bens públicos e do meio ambiente. Essas expectativas e exigências trazem em si uma outra visão da sociedade.

Chegamos a um ponto de inflexão: ou as forças a serviço do capital, em sua tentativa para sair de sua crise, nos levam a um grau de barbárie que não excluiria nem novas formas de autoritarismo nem novas guerras, ou nossos povos impõem novos caminhos rumo a transformações profundas de nossas sociedades. O tema desta conferência, “O Socialismo é o futuro”, encontra nessa exigência todo o seu significado.

Este momento de inflexão que vivemos comporta essas duas possibilidades: a que porta as exigências e expectativas populares, que é a nossa, a dos comunistas, e contra elas, a de uma maior dominação de um capitalismo que cada vez mais levaria a humanidade ainda mais longe numa crise de civilização.

Esta regressão já se traduz numa União Europeia que faz escolhas antidemocráticas e autoritárias dando mais poderes às instâncias não eleitas em detrimento dos parlamentos nacionais e direitos dos povos. Outro exemplo do caminho empreendido por essa Europa do capital é sua nova submissão à hegemonia dos Estados Unidos adotando a nova estratégia da Otan. Nosso partido condenou as intervenções militares decididas pelo governo de Nicolas Sarkozy da França na Costa do Marfim e na Líbia. Essas intervenções mostram a vontade de retorno aos piores momentos do colonialismo em que as potências se arrogam o direito de ingerência em nome de princípios supostamente humanitários. Elas impõem a guerra como elemento constitutivo da concepção do que deverão ser as relações internacionais deste capitalismo em crise.

Os movimentos populares que se exprimem no mundo hoje empreendem caminhos diversos. A história e as experiências de luta de cada sociedade marcam profundamente as suas escolhas. Na França nós seguimos as lutas de 1789, da Comuna, da Frente Popular e do Conselho Nacional da Resistência. Hoje, nós fizemos a escolha de uma nova forma de agrupamento, criando com outras forças uma Frente de Esquerda aberta a todos os que queiram uma transformação profunda de nosso país. Nós fizemos esta escolha para abrir uma perspectiva política que corresponde às exigências e expectativas populares e permite construir a alternativa necessária para a articulação das lutas e da perspectiva política.

Entramos na França em um período marcado pelo desafio das eleições presidenciais e legislativas de 2012. O primeiro objetivo da Frente de Esquerda é o de derrotar a direita e sua política que afunda nosso país na crise e que o faz jogar um papel de primeira linha nas guerras neocoloniais.

A Frente de Esquerda é uma escolha estratégica de aglutinação que busca criar uma nova dinâmica popular que dá toda a sua força a uma perspectiva de mudança e de contestação das lógicas capitalistas atuais.

Trata-se do único caminho que permitirá a nosso país encontrar uma saída para a crise. As soluções intermediárias propostas pela corrente social-democrata não farão outra coisa senão retardar o agravamento da crise e suas conseqüências; no final das contas, uma tal política corre o risco de reforçar a extrema direita nostálgica e ultrarreacionária.

O capitalismo construiu um tecido de instituições e organismos que impõem suas regras a todo o mundo em benefício das transnacionais. O FMI, o Banco Mundial ou a OMC são instrumentos que servem à pilhagem dos povos, põem em concorrência os trabalhadores e o território e organizam relações de dominação. A mundialização capitalista impôs o reino da finança e das transnacionais, que ignoram as fronteiras, e busca impor esta dominação em cada canto do planeta. As tentativas de instrumentalização da ONU se repetem, sua Carta é deturpada, o multilateralismo ignorado e os direitos dos povos violados pelas forças imperialistas.

Nossos caminhos e estratégias são diversos e são também portadores das aspirações comuns. O contexto de mundialização capitalista no qual atuamos nos põe diante de desafios comuns.

Nossas lutas em favor de mudanças de fundo e pela transformação de nossas sociedades podem ter conseqüências em outros lugares. A chegada das forças progressistas à frente de países da América Latina já modificou as correlações de força pelo fato de que o imperialismo tem diante de si povos que contestam sua hegemonia. Esses governos não se contentam em pôr em prática reformas que fazem recuar a pobreza e dão outro conteúdo à democracia. Ele se manifestam a agem em favor de uma nova arquitetura financeira mundial, de um multilateralismo real. Sobre todos esses pontos podemos convergir com as forças da esquerda latino-americana e na realização de batalhas comuns pela soberania de nossos povos.

A queda de regimes autocráticos no mundo árabe pode tambem mudar as coisas se os povos conseguirem impedir o confisco de suas revoluções pelas forças da reação e pelo imperialismo. Um dos grandes desafios que se encontram diante dos povos árabes é o futuro da Palestina, o direito de seu povo a um Estado democrático e soberano. O futuro das revoluções árabes, sua orientação política, será de uma grande importância para o futuro do desafio palestino.

É necessário um internacionalismo vivo que aporte a solidariedade e permita dar a nossas lutas, ancoradas no quadro nacional, uma outra dimensão, regional ou internacional, fazendo-as convergir em terrenos concretos. Nós lutamos contra a “diretiva Wolkestein” não por xenofobia como os defensores do tratado constitucional europeu nos acusam, mas porque essa diretiva europeia faria com que os trabalhadores entrassem em concorrência e favoreceria o desmantelamento dos seus direitos em nome da competitividade e da concorrência livre.

Esta luta que levamos adiante na França converge com as lutas levadas a efeito em outros países contra a precarização do trabalho e o dumping social.
Outros exemplos podem ser citados como a necessidade de convergências de lutas e reflexões comuns sobre questões tais como a exigência de uma nova ordem internacional, a defesa do meio ambiente, por novos direitos, pela paz, contra a militarização etc.

Desde há algum tempo, nosso partido tenta aportar sua reflexão sobre a necessidade de um internacionalismo que corresponda aos desafios de nossa época. Organizamos um primeiro encontro em novembro de 2008 com o título “Crise mundial e novo internacionalismo” e em janeiro de 2010 o “Encontro dos progressistas da América Latina e da Europa”. Nós quisemos assim abrir um espaço de reflexão comum favorecendo as convergências em terrenos comuns e concretos de ação: direitos dos trabalhadores, migrações, soberania alimentar…

Nosso partido considera que há a necessidade de espaços que permitam às forças progressistas, a todos aqueles que atuam em favor da transformação de nossas sociedades, da superação do capitalismo, pelo socialismo, se agrupar para trocar opiniões, refletir em comum e fazer convergir nossas lutas e aspirações.

É nesse espírito que damos tanta importância ao Foro de São Paulo e à Rede da esquerda africana, foros nos quais participamos como observadores tentando tecer os laços de cooperação e de trabalho sobre temáticas diversas. É também nesse espírito unitário que participamos da fundação do Partido da Esquerda Europeia que reúne um número importante de partidos do Ocidente e do Oriente do continente. Esse partido se pretende um instrumento a serviço de nossos povos e aos projetos do capital empreendendo todos os nossos esforços na construção de uma alternativa de progresso: umae Europe dos povos.

É esse o sentido que damos à nossa participação em conferências como a que nos reúne hoje: agrupar nossas forças e contribuir a uma nova perspectiva política. Agradeço ao Partido Comunista Grego por nos ter dado esta possibilidade nas melhores condições de trabalho.

As lutas que desenvolvemos contra as políticas de austeridade decididas nas instâncias da União Europeia com a participação ativa de nossos governos que pretendem salvar o capitalismo, fazem com que apelemos a fortes convergências e ao agrupamento de todas as forças da esquerda e do progresso na Europa.

Seremos capazes de dar uma dimensão nova a nossas lutas a partir de sua base nacional? Poderemos ser capazes de nos reunir e de criar uma coerência no conjunto de nossas lutas? Poderemos dar mais força às exigências e expectativas de nossos povos fazendo-os convergir para um terreno comum de luta?

Seremos capazes de dar um novo impulso ao internacionalismo que sempre fez parte de nossa identidade comunista contribuindo ao agrupamento de todos aqueles que se batem hoje?

Intervenção do Partido Comunista Francês, apresentada por Obey Ament, do Departamento Internacional, no 13º Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários, realizado em Atenas, Grécia, de 9 a 11 de dezembro de 2012.

Da Redação, com informação do Solidnet