Contadores de histórias levam alegria a pacientes mirins

Contação de histórias é uma atividade que agrada, diverte e educa qualquer criança. E se ela está internada em um hospital e as histórias são contadas por pessoas alegres e cheias de amor, a experiência tem efeito terapêutico, resultando em bem-estar durante o tratamento. A Associação Viva e Deixa Viver leva seus voluntários a hospitais, transformando a contação de história em momentos mágicos para os pequenos pacientes.

A Associação Viva e Deixa Viver é Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), criada em 17 de agosto de 1997 em São Paulo, por Valdir Cimino, e atua hoje nos estados da Bahia, Brasília, Ceará, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. Para realizar a contação de história nos hospitais, a entidade conta com o apoio de voluntários que passam por uma rigorosa seleção. No processo, os candidatos, que precisam ter mais de 18 anos, participam de palestras, vivências, dinâmicas e treinamento.

Para Fortaleza, a Associação foi trazida pelo odontólogo Fabrício Bitu, que conheceu o trabalho quando fez residência em São Paulo e se tornou voluntário. Hoje, a entidade é coordenada pelo administrador e contador de história, Alex Ferreira. De acordo com Alex, a Associação depende, além dos voluntários, da doações de livros infantis, balões, lápis de cor, massa de modelar e brinquedos. Saiba mais nesta entrevista que ele concedeu, por e-mail:

Você pode falar um pouco sobre o trabalho realizado em 2011? Quantos voluntários participaram, que hospitais foram beneficiados, fatos emocionantes que valeram a pena.

Em 2011 tivemos um ganho em crescimento, pois passamos de seis para 20 voluntários, atuando inicialmente na pediatria do Hospital do Câncer ICC (atualmente Hospital Haroldo Juaçaba) e após novembro de 2011 realizamos a meta de retornar ao Hospital São José de Doenças Infecto Contagiosas – SUS (onde tudo começou). Em 2011 foram atendidas mais de 500 crianças e muitos foram os momentos emocionantes, alguns de vitória e infelizmente, outros de tristeza, pois o câncer ataca mais fortemente as crianças, que nem sempre vencem essa guerra injusta. Além de quatro oficinas (esculturas de balão e origami) realizamos trabalhos nas festas de São João (ICC) e Dia das Crianças (Bíblia & Cia, Lar Francisco de Assis, Pediatria do ICC e Brinquedoteca do Hospital São José), duas confraternizações no parque Adahil Barreto, com contação de histórias para as crianças presentes. Quanto ao valer a pena, tudo vale a pena, cada sorriso, cada gesto, cada mãe que pode sair para fazer uma ligação ou descansar um pouco, os profissionais que de sisudos passam a expectadores e até coadjuvantes na contação, nossa própria superação. Incontáveis…

A Associação já tem a data para seleção de voluntários em 2012? Quando será?

Já estamos no meio da seleção que se iniciou em novembro de 2011, então esperamos em abril ou maio realizar uma nova seleção.

Nas palestras, você fala que antes da seleção feita pela Associação, o próprio voluntário faz sua auto-seleção (para quem quero doar? o que quero doar? quanto tempo posso doar? É este meu momento pessoal para doar?). Você pode detalhar a importância dessa reflexão que o candidato deve fazer?

Nossa doação, mais que de tempo, é de amor e atenção, e nosso público que se encontra debilitado, estressado, cansado e até sem esperança, sem motivação, precisa desse amor, portanto, se não soubermos realmente para quem, o que, porque e se estamos prontos a doar, com certeza não teremos êxito e, além de nos frustrarmos, ainda frustraremos aqueles que tanto aguardam de nós.

Como o trabalho é desenvolvido? Como são definidas as escalas de visitas, escolha dos livros de histórias, acompanhamento dos voluntários feito pela Associação?

Toda a administração é realizada por mim, que envio mensalmente aos voluntários o mapa de escalas e eventos do mês. Então, cada voluntário escolhe e informa os dias e hora que fará a visita, só assim é que repasso para os responsáveis nos Hospitais parceiros. Os livros, em sua grande maioria, são de indicação do Viva e Deixe Viver – Sede SP. Quando não, utilizamos a técnica do bom senso, levando sempre leituras leves, com temas motivadores, engraçados, nunca de caráter religioso, ou que possam causar algum tipo de mal-estar no paciente e/ou acompanhante. O acompanhamento também é realizado por mim, em reuniões bimestrais, pelo e-mail ou oficinas. Caso o voluntário não esteja realizando o que colocou na escala, esteja faltando mais de um mês, é advertido e pode até perder a possibilidade de permanecer no Viva.

Há quanto tempo você participa desse trabalho e que avaliação faz dele? Que benefícios têm trazido para os pacientes, acompanhantes e equipe médico-hospitalar?

Estou no Viva desde 2009 e posso dizer, categoricamente, que a contação de histórias dá força e motiva os pacientes, diminui a dor e o cansaço, alegra os pais e movimenta a equipe. Sentimos na pele a mudança de comportamento.

Para você, o que mudou depois de se tornar um contador de histórias

Além de [me sentir] mais alegre, sinto menos medo da doença e do hospital. Conhecer e lidar com pais e mães, ver sua força e dedicação. Estar junto de outros contadores e aprender com seus métodos e exemplos. A viver e deixar viver.

Qual o maior desafio desse trabalho? E como vocês o enfrentam?

A dor e o medo da morte, a própria morte. Estamos no fio-da-narvalha, diariamente, entre a dor/desespero/medo e a alegria/esperança/amor. Estar inteiros e fortes, não transparecer, sorrir. Eu, particularmente, enfrento sorrindo. Quando uso meu avental, é como se ganhasse um superpoder, me abstraio de mim e só penso na contação e no paciente. Não é fácil, mas é totalmente possível e maravilhoso.

O que de mais marcante já aconteceu para você durante essa atividade voluntária?

Um dia, em 2010, no HSJ, uma criança de 7 anos, chamada Mateus, abandonado pelos pais, com aids, hidrocefalia, problemas respiratórios (entubado), neurológicos (sem falar, andar), paralisia infantil e ainda com dengue. Com todo esse quadro, nem sabia se ele entendia o que eu estava fazendo ou contando mas, mesmo assim, fiz minha parte e ele, a seu modo, sorria. Me perguntava porque ou o que ele havia feito, mas no fim entendi que ele estava ali para me ensinar, para me mostrar o valor de cada dia. Fui duro, mas foi mágico.

Que recomendações você faz para um candidato, além dos critérios estabelecidos pela Associação?

Há sempre alguém com uma dor maior, com uma necessidade maior, e que precisa de você. Ouse, lute, saia da zona de conforto e curta a simplicidade do se tornar criança, se despoje da maturidade e se encha da felicidade de ser criança.

Fonte: Agência da Boa Notícia