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Fausto Sorini: Não é esta a Europa que queremos

“Não estamos de acordo com a tese do primeiro-ministro Mário Monti e do presidente Napolitano, segundo a qual é possível sair da crise “reforçando a unidade política e econômica desta União Europeia” (UE).

Por Fausto Sorini* em Marx 21

A Europa mais forte que eles querem é a Europa dos acordos entre os fortes poderes da oligarquia que impediram o referendo na Grécia e as eleições antecipadas na Itália.

É a Europa que impõe ao Banco Central Europeu (BCE) não salvar os Estados, mas salvar os bancos.

É a Europa que chama à 'união fiscal', à vigilância sobre a política de equilíbrio, impõe o estabelecimento do equilíbrio como norma constitucional e descarrega sacrifícios duríssimos sobre as costas do povo.

É a Europa que destruiu a economia da Grécia com manobras antipopulares de austeridade e continua a aplicar a todos os países em dificuldades a mesma receita iníqua.

No contexto da atual correlação de forças e de classe nesta parte do mundo, no contexto desta UE, dominada pelo grande capital multinacional e pela oligarquia financeira, subalterna à Otan e à hegemonia dos núcleos dominantes do imperialismo – ora em concertação, ora em competição com o imperialismo norte-americano, mas na mesma lógica reacionária – reforçar a unidade política e econômica desta UE significa reforçar o nosso adversário de classe e os principais responsáveis pela política de guerra (Líbia) e de massacre social (a manobra Monti) que o nosso povo e o nosso país estão sofrendo.

Trata-se, ao contrário, de reforçar os elementos estatais de defesa da soberania da nação, do Parlamento diante do ataque reacionário: defesa da soberania de uma Itália não liberal que retorne a um forte papel do estado na economia, de orientação democrática e progressista da produção, no espírito e na letra da nossa Constituição.

Não temos em mente nenhum apego autárquico (que seria algo fora da história na época da globalização), mas em uma lógica de concertação e cooperação econômica, política e monetária com o Brics e com todas as forças que na região pan-europeia (dentro e fora da UE) trabalham por uma cooperação continental e mundial, alternativa à imperialista, neoliberal e euroatlântica.

Trabalhemos na União Europeia – com todas as forças disponíveis e convergentes – para contrastar a hipótese de revisão dos tratados que, abandonando toda lógica de coesão social e solidariedade entre áreas fortes e áreas débeis, acentuam desigualdades sociais e assimetrias macroeconômicas, a favor de um diretório de poderes fortes tendo como centro a Alemanha. Esta lógica torna vã qualquer participação democrática dos povos na construção europeia, redimensiona a soberania nacional dos países mais fracos e pretende introduzir pela lei – com medidas punitivas para os trangressores – medidas coercitivas e antipopulares de redução dos déficites estatais, que teriam como consequência a destruição de tudo aquilo que resta de qualquer aparênciad Estado social.

*Membro do Secretariado nacional, responsável do Departamento exterior do Partido dos Comunistas Italianos (PdCI)