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Tragédia no Egito: Jogos políticos no futebol

No Egito foram declarados três dias de luto nacional devido à tragédia ocorrida no estádio de Port-Said. Nesta cidade morreram mais de 70 pessoas e cerca de 1000 ficaram feridas depois de violentos confrontos entre torcedores de futebol.

Era um jogo de futebol comum da copa do Egito em Port-Said (a norte do Cairo) entre o clube local Al Masry e o Al Ahly, da cidade do Cairo.

No entanto, no fim do jogo os torcedores mais fanáticos do Al Masry, que tinha vencido os oponentes por 3 a 1, resolveram "reforçar o resultado" por meio dos punhos: invadiram o campo e atiraram-se aos torcedores e ao treinador do time vencido para os agredirem, tendo inclusivamente sido utilizadas armas leves.

Diante da batalha campal, 40 mil espectadores assustados tentaram sair das tribunas para a saída, onde muitos foram esmagados e morreram. A Polícia não teria agido, conforme afirmam testemunhas oculares. Só quando a situação já tinha adquirido um caráter catastrófico é que as forças da ordem tentaram ajudar a evacuar as pessoas e prender alguns implicados nos confrontos.

Depois dos acontecimentos do ano passado quando o regime de Hosni Mubarak foi deposto, a Polícia tem estado numa situação delicada.

Além disso, os militares que governam o país são cada vez mais alvo de críticas. Se, no ano passado, as autoridades eram criticadas por enviar a Polícia contra a população, agora a principal censura que é feita ao Conselho Supremo das Forças Armadas é que a Polícia não faz nada para evitar os tumultos.

Essam el-Erian, deputado e vice-presidente do Partido islâmico da Liberdade e da Justiça, já declarou que o que aconteceu no estádio de Port-Said tem a ver, segundo ele, com gente ligada ao antigo regime.

Não é a primeira vez que as forças políticas do Egito utilizam os apoiantes radicais de clubes de futebol na sua luta.

Não obstante não terem o seu próprio programa político, os torcedores do time do Cairo, alguns com armas nas mãos, não perderam a oportunidade de se manifestar na praça Tahrir contra os apoiantes de Mubarak.

Provavelmente, continuará a haver jovens dispostos a integrar uma força tão significativa como são essas torcidas, considera o perito russo Boris Dolgov, do Instituto de Estudos Orientais da Academia das Ciências da Rússia:

"As torcidas do futebol tiveram o seu papel no movimento de protesto e na revolução egípcia de 25 de janeiro de 2011. Agora a situação é tal que as forças políticas que estavam na segunda linha da luta contra o regime de Mubarak estão chegando ao poder. Trata-se da Irmandade Muçulmana e de outros partidos islâmicos. Já as forças que, no fundo, foram o motor da revolução, ou seja, os movimentos juvenis, acabaram por ser afastados. Eles tentam ativamente chegar à linha da frente e, por isso, podem ser facilmente utilizados na luta política".

Para além disso, a situação nos países árabes está de tal maneira tensa que uma pequena faísca é suficiente para acender o fogo. Na noite passada, nas ruas do Cairo e de uma série de outras cidades do país, milhares de egípcios saíram às ruas para homenagear aqueles que morreram. Na cidade de Suez houve confrontos entre a Polícia e torcedores do Al-Ahli. Para dispersar as multidões, os agentes da Polícia tiveram que utilizar granadas de gás lacrimogêneo. As autoridades introduziram forças do Exército em Port-Said para evitar tumultos.

Representantes de diversas forças políticas, juvenis e organizações sociais do Egito, bem como possíveis candidatos às presidenciais do país, já exigiram da câmara baixa do Parlamento uma moção de desconfiança ao atual governo de Kamal al-Ganzouri.

Identificados

O governo egípcio demitiu dirigentes da Federação Nacional de Futebol devido às desordens que se deram no estádio de Port Said. A decisão foi tornada pública numa sessão extraordinária do Parlamento convocada especificamente para avaliar as conseqüências da tragédia sem precedentes. O primeiro-ministro egípcio atribuiu a responsabilidade pelo acontecido ao Conselho Administrativo da Federação.

Além disso, a tragédia levou à renúncia do governador da cidade. O seu pedido de demissão voluntária foi aceito pelo governo. Os chefes do Departamento de Segurança local e do Comitê de Investigações também foram exonerados dos seus postos.

Com informações da Voz da Rússia