Para Jamil ação na cracolândia fracassou
No lançamento do site SPressoSP, Vereador Jamil Murad diz que ação na cracolândia gerou desconfiança dos dependentes em relação aos agentes públicos
Publicado 06/02/2012 20:07 | Editado 04/03/2020 17:17

No último sábado, 4, o vereador Jamil Murad (PCdoB) esteve na Casa Fora do Eixo, no Cambuci, durante lançamento do site SPressoSP, debatendo o problema do crack e as ações da operação na cracolândia, juntamente com a coordenadora do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública, Daniela Skromov de Albuquerque e com o padre Julio Lancelotti.
Para Jamil, a operação foi um fracasso e “acabou causando desconfiança dos dependentes em relação aos agentes públicos (de áreas como saúde e assistência social)”. Além dos participantes que lotaram a Casa, cerca de 700 pessoas participaram pela rede e o debate esteve no sexto lugar entre os trending topics do Twitter em São Paulo.
O vereador afirmou que a Secretaria Municipal de Saúde, bem como a de Assistência Social, não sabia da operação quando a mesma teve início. “Assim como em Pinheirinho, as ações da polícia na cracolândia tiveram um viés autoritário”.
Segundo o parlamentar, que preside a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de São Paulo, “não podemos ficar indiferentes a essas pessoas (os dependentes do crack) que estão desligadas de suas famílias e de seu meio social, submetidas aos mais variados sofrimentos”.
Porém, a saída, segundo ele, não passa por questões de segurança pública, mas por “um sistema de atendimento nas frentes de saúde e assistência social através de uma rede que funcione 24 horas. São Paulo dispõe de alguns locais, mas a rede ainda é pequena, ainda está sendo construída”. Segundo Jamil, a segurança pública deve focar-se na área da Inteligência para combater o tráfico.
Segundo o vereador, as autoridades do governo estadual, a quem cabe o comando da PM, “estão surfando no apoio momentâneo da opinião pública” captada através de pesquisas recentes. Para Jamil, esse apoio é relativo e dá mostras de ser temporário uma vez que dia após dia fica mais evidente que a operação não resolveu o problema dos usuários que vivem nas ruas da região central.
Ele lembrou ainda que nunca “vai existir um mundo sem álcool e drogas. O que temos de fazer é montar um sistema de proteção para atender aqueles que têm problemas de dependência. Além disso, devemos educar as pessoas, desde cedo, para ao menos evitar o abuso”.
De acordo com Jamil, o desenvolvimento pelo qual o país passa é um dos fatores que levarão à superação de problemas sociais graves que estão na base das dificuldades vividas pelos dependentes de crack e de outras drogas Brasil a fora.
Na mesma direção seguiu a argumentação de Daniela Skromov de Albuquerque, coordenadora do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública. Ela lembrou que a cidadania e a dignidade humana, proclamadas na Constituição de 1988, devem ser a base da atuação do poder público e o Estado deve primar pela proteção da pessoa.
“O foco do Estado, conforme a lei, deve ser a garantia dos direitos de todas as pessoas, especialmente as mais vulneráveis. O grau de democracia de um país é proporcional à maneira como a sociedade trata os mais vulneráveis”, destacou Daniela.
Um dos erros da Operação Sufoco, conforme enfatizou, foi o fato de ter “partido da premissa de combate ao tráfico e não da assistência aos mais vulneráveis”. Segundo ela, a segurança pública deve atuar no âmbito da inteligência, da investigação do tráfico. O resultado é que “hoje, o problema não está resolvido, está apenas dispersado”.
Outro ponto colocado por Daniela é a questão da dificuldade que se criou, agora, para abordar os dependentes e convencê-los ao tratamento. “Quando um grupo está num determinado território, fica mais fácil pensar ações específicas. Essas pessoas precisam do Estado se aproximando e dialogando com elas e o que foi feito seguiu a lógica da guerra. A lógica imediatista compromete as ações de fundo”.
Na avaliação do padre Julio Lancelotti, “a cracolândia foi eleita o bode expiatório de uma cidade que não sabe lidar com seus problemas humanos. Sabemos lidar com a tecnologia, com os aparelhos, mas não sabemos lidar com as pessoas que consideramos sofrer algum tipo de desvio. Olhar a cracolândia é ver a nossa incompetência para lidar com este problema”.
Para ele, a “a operação foi uma ação midiática, um grande teatro. Precisamos enfrentar os problemas humanos com uma concepção fora do eixo”.
Priscila Lobregatte
www.jamilmurad.com.br