Joan Edesson Oliveira: Escola de tempo integral é a solução?

Por *Joan Edesson Oliveira

De uns tempos para cá a ideia de escola de tempo integral vem sendo apresentada como panaceia para todos os problemas da educação. Seus defensores alardeiam que somente com uma escola de tempo integral os alunos terão condições plenas de aprender; prefeitos e secretários de educação se apressam em apresentar experiências piloto, trombeteando tais experiências como inovação e conquista; professores e entidades de classe colocam o tema na sua pauta de reivindicações. De uma hora para outra a escola de tempo integral virou a solução, aquele toque mágico que vai resolver todos os nossos problemas.

Quando questionamos sobre o que seria mesmo esta escola, como seria o seu funcionamento, começam as contradições. Poucos sabem o que fazer com os alunos durante um dia inteiro na escola; quase ninguém consegue explicar o que seria o currículo das séries iniciais do ensino fundamental, por exemplo, nesta escola; enquanto alguns falam em aula num turno e reforço escolar no contraturno, outros afirmam que as atividades do contraturno seriam culturais, esportivas, sociais etc; quase ninguém consegue dizer o custo dessa escola de tempo integral e a sua fonte de financiamento. A panaceia, nessas horas, parece na verdade uma imensa confusão. Na melhor das hipóteses, uma grande incógnita.

Tenho insistido, de algum tempo já, que de fato devemos discutir a ampliação do tempo pedagógico, aquele tempo dedicado dentro da escola às atividades de ensino. E tenho dito, em tom de brincadeira, que concordo inteiramente com a ampliação da jornada escolar no ensino fundamental, para oitocentas horas distribuídas em duzentos dias letivos. A reação da maioria, quando digo isso, é de espanto: Mas isso já está na lei! É verdade, essa é a jornada prevista em lei, muito diferente daquela que é garantida na maioria das nossas redes de ensino, em especial nos municípios do norte e nordeste do Brasil.

Os pequenos e grandes atrasos diários; as faltas não recuperadas dos professores; as aulas que terminam mais cedo; a comemoração do aniversário da professora, da diretora, do secretário da educação, do prefeito; as festas da padroeira; a morte de alguém importante na comunidade; as campanhas contra a dengue; as festas de pais, de mães, semanas da árvore, da criança, do folclore, do carnaval; os inúmeros projetos escolares e suas intermináveis culminâncias; inumeráveis são os fatos que roubam minutos, dias, semanas, um tempo precioso subtraído do direito do aluno à aprendizagem. Falar em escola de tempo integral antes de resolver este problema é sonhar com o belo segundo andar de uma casa enquanto os seus alicerces sequer estão construídos.

É necessário enfrentarmos uma cultura do que chamo de não aula, de desperdício do tempo escolar, da falta de planejamento e de organização dentro da sala de aula. É necessário qualificarmos as nossas aulas e garantirmos que as escolas cumpram integralmente o tempo escolar destinado às atividades de ensino. A escola de tempo integral pode ser uma grande conquista e acredito mesmo que caminhamos para ela. Mas estou convencido de que a nossa tarefa mais imediata é conseguirmos cumprir integralmente o tempo escolar destinado ao ensino. Ao invés de jogarmos todas as nossas fichas na bandeira da escola de tempo integral, proponho nos atirarmos de cabeça na bandeira da integralização do tempo escolar.

Quem sabe um ganho imediato na qualidade do ensino nas nossas escolas e na aprendizagem das nossas crianças não esteja muito mais próximo a nós do que imaginamos?

*Joan Edesson de Oliveira é doutorando em Educação Brasileira na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará.