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Marcelo Gavião: Um Pouco de bom senso

Filho de sindicalista, cresci vendo meu pai participar de protestos, manifestações e greves, sendo inclusive preso na Greve Geral de 1996. Nesse ambiente, aprendi a defender o direito de mobilização e de greve dos trabalhadores. Aprendi que, na história do Brasil, não há vitória sem luta; não há conquista sem mobilização e sacrifício.

Por Marcelo Gavião*

Os direitos que conquistamos ao longo dos anos – trabalhistas, civis e políticos, coletivos ou individuais – nunca foram bondades dos governantes. Se efetivaram após várias lutas do nosso povo, desde que o Brasil é Brasil.

Em minha trajetória política como dirigente da UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas), e da UJS (União da Juventude Socialista), pude testemunhar importantes batalhas da história recente da Bahia e do Brasil: mobilizações contra as privatizações e a política educacional desastrosa da era FHC; cassação de ACM; revolta do Buzú, entre outras.

Uma que me marcou muito foi a greve da Polícia Militar baiana, em 2001. Naquele momento, defendemos com vigor a paralisação dos policiais e abraçamos suas bandeiras. Nossos objetivos eram ajudar esses servidores especiais a conquistarem melhores salários e condições de trabalho dignas, além de mostrar para a sociedade a incompetência e autoritarismo do então governo, sob os desmandos da família ACM. O saldo daquele movimento foi de líderes policiais presos e marginalizados, com os salários e condições de trabalho inalterados.

O tempo passou, o carlismo perdeu o governo e o poder. Os mesmos que defenderam os policiais em 2001 ajudaram, anos depois, a eleger Jaques Wagner governador da Bahia. No último dia 31 de janeiro, os policiais militares iniciaram uma nova greve, com a possibilidade de um final diferente. Entretanto, observamos alterações nos métodos usados pelos grevistas e a pequena disposição inicial do governo em negociar.

Se na experiência passada os policiais militares usaram a tática de ficar nos quartéis, dessa vez resolveram ir às ruas. Infelizmente, uma parte deles, utilizando-se de atos condenáveis, que levaram terror à população. Esses atos praticados por alguns “policiais” teve a consequência óbvia: o movimento perdeu o apoio e a simpatia de parte significativa da sociedade.

É importante aprender com a história. Governos originários da luta popular têm que dialogar sempre com os trabalhadores. Lutamos muito para experimentar esse novo ambiente político na Bahia. Mais do que preservar, queremos aprofundar a democracia.Com um pouco de bom senso podemos – e devemos – construir um final diferente do que ocorreu no passado.

Esperamos que o governo atual mantenha o canal de diálogo com os trabalhadores e encontre a melhor maneira de atender suas reivindicações. E que os atos de vandalismo ocorridos nos últimos dias sejam devidamente punidos e nunca mais se repitam.

Nosso estado e nosso povo já sofreram bastante ao longo da história. Agora, merecem viver cercados de paz e liberdade.

*Marcelo Gavião é estudante de Ciências Sociais da UFBA, e foi presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas.