Debate no Senado pede fim do fator previdenciário: “monstrengo”
"Monstrengo". Foi a avaliação feita pelos participantes de audiência pública promovida pela Comissão de Direitos Humanos do Senado na manhã desta segunda-feira (27) sobre o Fator Previdenciário. Para o senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da comissão, “o ideal seria acabar com o fator para que as pessoas se aposentem no tempo real e recebam o benefício equivalente ao que pagaram ao longo da vida produtiva”.
Publicado 27/02/2012 15:14
As entidades representativas de aposentados e pensionistas, que participaram da audiência, pediram o fim da fórmula que reduz o valor das aposentadorias de acordo com a idade e o tempo de contribuição do beneficiário. E uma política de reajuste dos benefícios superiores a um salário mínimo.
“Agora estamos cumprindo um compromisso com a categoria, que é buscar, ao longo de 2012, um entendimento com o governo a fim de melhorar a situação dos beneficiários. Se a situação continuar do jeito que está, vai chegar um tempo em que todos vão ganhar apenas um salário mínimo”, afirmou Paim.
Para os participantes da audiência, o atual sistema de cálculo dos benefícios é ruim e prejudica os aposentados desde sua criação em 1999. O coordenador nacional do Fórum Sindical dos Trabalhadores, José Augusto, chamou o fator de "matemática perversa" e "monstrengo tucano", por ter sido criado no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Já o representante da Nova Central Sindical, Celso de Miranda Pimenta, defendeu a extinção imediata do método de cálculo, afirmando que "não há remédio para um mal incurável".
Sem resultado
O representante do Ministério da Previdência Social, Denisson Almeida Pereira, disse que o fator previdenciário não teve o resultado esperado, que seria induzir os trabalhadores a adiarem a aposentadoria a fim de ganhar mais. Segundo ele, os trabalhadores se aposentam cedo, mas continuam a trabalhar, uma vez que consideram a aposentadoria não como sua renda principal, mas apenas como um complemento de rendimentos.
E admitiu que o fator previdenciário provocou a redução do valor médio dos benefícios, sendo que o objetivo inicial não era este. Uma das consequências, segundo ele, é que muitos aposentados continuaram a trabalhar, fazendo da aposentadoria uma forma de completar a renda. “A aposentadoria não foi feita para ser um complemento de renda, mas para substituir os ganhos de quem estava na ativa”, afirmou.
O representante do governo alertou ainda para o crescente envelhecimento da população brasileira e a necessidade de investimento em políticas públicas para os idosos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentados por Denisson Pereira, o Brasil tem hoje pouco mais de 19 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Em 2050, serão 64 milhões.
Massacre
O aumento para aposentados e pensionistas que ganham acima do mínimo também foi tema de discussão. Os convidados foram unânimes na defesa de um reajuste real dos benefícios acima da inflação.
“O que se faz com o aposentado brasileiro é massacre, não tem qualificação. Gente que passou 40 anos contribuindo sobre dez salários hoje recebe menos da metade”, criticou o vice-presidente da Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas (Cobap), Nelson de Almeida.
Em nota, o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Wagner Gomes, garante que fator previdenciário, criado no governo de Fernando Henrique Cardoso, e mantido até hoje, “é uma das piores coisas criadas contra os trabalhadores” e afirma que “as centrais vêm lutando há anos para acabar com esse fator previdenciário, que traz tanto prejuízo aos que se aposentam”.
O reajuste para os beneficiários foi um dos pontos polêmicos na votação da proposta orçamentária para 2012, no fim do ano passado no Congresso Nacional. Na ocasião, os aposentados reivindicaram reajuste de 11,7% para as aposentadorias acima do salário mínimo. Esse percentual correspondia à correção da inflação, mais um aumento real. O relatório final do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) garantiu apenas a reposição inflacionária de 6,3%.
De Brasília
Com Agência Senado