Em entrevista, dono da Astri dá explicações sobre o Mutirama

O empresário Adilson Capel, o homem responsável pelo novo parque temático Mutirama foi entrevistado pelo jornalista Elder Dias, do Jornal Opção, no começo deste mês de março e deu explicações detalhadas sobre toda a obra e revelou que faltam apenas 10% para concluir as atrações do Parque. Leia abaixo matéria.

Adilson Capel Rocha é o dono da Astri, a empresa vencedora da tão contestada licitação dos brinquedos do Parque Mutirama, e garante: se não houvesse interrupção, entregaria sua parte da obra no dia 24 de março, conforme o previsto no contrato com a Prefeitura. Faltam, no total, cerca de 10% para a conclusão das obras, iniciadas há seis meses.

Adilson entrou na licitação do parque goianiense à revelia da cunhada, sua sócia em outra empresa, a Temapark do Brasil Ltda., com sede em São Paulo. Ao ter conhecimento do edital, em 2010, ele se estusiasmou com a possibilidade de unir o que faz de melhor em dois setores de trabalho no entretenimento: instalação de equipamentos e decoração temática de áreas de lazer.

Sua cunhada tinha como princípio não participar de obras públicas. “Ela estava certa, eu deveria tê-la ouvido”, brinca Adilson. “Isso aqui virou uma guerra”, completa, sério. A Temapark, portanto, ficou fora da licitação. Mas Adilson, sem saber ainda o que viria, queria porque queria. E como, ao mesmo tempo, saiu também outro edital para obras do ramo, de uma prefeitura de uma cidade uruguaia, ele decidiu fazer nascer a Astri. Assim ele explica o fato — explorado pela oposição ao Paço e motivo de desconfiança de órgãos públicos — de uma empresa tão nova ter ganhado uma licitação.

“Quando vi o edital, não pensei em outra coisa. Era um projeto em que eu poderia ganhar dinheiro fazendo o trabalho que eu gosto. Mas nunca me interessou a parte legal da licitação. Isso eu deixei com quem conhece o assunto, que são meus advogados e contadores. O que me conquistou foi o memorial descritivo”, revela. O memorial é a peça anexa ao edital que detalha o que deveria constar de cada um dos brinquedos, bem como a decoração acessória — monumentos espalhados pela área do parque que vão contar a história de Goiás, do Brasil e do mundo e levarão as crianças e demais visitantes a se informar enquanto se divertem.

E é com diversão que Adilson Capel trabalha há 32 anos, desde que, por um acidente — no sentido real e também metafórico (leia matéria correlata)— se tornou funcionário do Playcenter, em São Paulo. Por isso, ele não deixa de transparecer certa ironia ao falar sobre o questionamento à capacitação técnica de sua empresa para executar a obra — outra das alegações de irregularidades no contrato firmado entre a Prefeitura e a Astri. “Quem é que detém o acervo técnico da empresa? É seu responsável técnico. Por quê? Porque há uma resolução do Confea [Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia] que diz que o acervo técnico não pode ser emitido para pessoa jurídica. Nosso acervo preenche completamente todos os requisitos, porque os técnicos que estão aqui trabalham comigo há anos”, declara.

Ele não entende a discussão jurídica e política em que se envolveu. “Estou aqui para trabalhar, para fazer o que sei de melhor. E, no que depender de mim, entrego o parque no prazo contratado.” A única dúvida é sobre o teleférico, cuja finalização depende também das questões climáticas, motivo que levou Adilson a montar uma planilha dos índices pluviométricos de Goiânia para o período.

A desenvoltura com que o dono da Astri fala do empreendimento mostra que, para ele, não há realmente nada de complexo na obra, como chegou a sugerir um parecer da própria Controladoria-Geral do Município (CGM), que, em um efeito cascata, acabou por originar as mesmas suspeitas do Tribunal de Contas do Município (TCM) e que agora foram cobradas na Justiça pelo Ministério Público Estadual. Uma obra complexa não poderia ser licitada como pregão, o que se tornou mais um ponto de polêmica na questão.

Na visão de Adilson Capel, tudo é fruto do desconhecimento de como é a atividade do setor. Ele exemplifica: “Por mais que a indústria aeronáutica seja desenvolvida, brinquedos de parques de diversões são uma excentricidade, algo complexo e raro, para esse tipo de indústria. Afinal, eles não produzem rodas-gigantes e montanhas-russas. Por isso, a lei se prende à complexidade da obra dentro do âmbito em que ela se insere.” Adilson dá o exemplo do que seria uma obra complexa em seu ramo: um parque da Disney, com orçamento na casa de bilhões de dólares, em que se gasta até uma década entre planejamento e execução. “Pregão era a forma mais simples, mais gente poderia participar. Quando eu vim fazer a vistoria técnica, tinham três concorrentes fazendo a mesma coisa.”

Imprensa

Um fato chama a atenção: apesar de estar no olho do furacão político-eleitoral — as implicações que a inauguração ou a paralisação das obras do Mutirama têm em ano de eleições municipais —, Adilson Capel praticamente não foi procurado para dar esclarecimentos sobre o andamento das obras. Em mais de seis meses, somente quatro vezes ele atendeu veículos de comunicação — duas vezes a Rádio 730 , uma a Rádio 107 FM, de Aparecida, e o jornal “O Popular”, enquanto a imprensa acompanhou visita do prefeito Paulo Garcia (PT) às obras.

Não deixa de ser estranho um personagem-chave não ter sido procurado para esclarecer fatos — ou pelo menos para que conhecessem o que estava ocorrendo com as obras do parque, na versão dele. “Ficou também esse mito de segredo em torno do Mutirama, mas nunca impedi ninguém de entrar aqui. Pelo contrário, certa vez convidei uma repórter da TV Globo que filmava na calçada, do lado de fora. Perguntei por que ela não entrava e ela me disse espantada: 'Mas pode?' Falei ‘claro, por favor’. Não há nada para esconder.”
“Se eu recuperar o que investi, já estou satisfeito”

Corintiano e católico “de carteirinha”, Adilson Capel ri quando falam de suspeitas de que poderia ser um “laranja” de alguém. “De quem? Do secretário [Luiz Carlos Orro, do PCdoB], que é do Partido Comu-nista?”, ironiza, mostrando o rosário que carrega no bolso da calça. Outro item que o acompanha é o cigarro — é fumante compulsivo.

Paulistano típico da Mooca, com o sotaque característico, ele porém não tem descendência italiana. Tem descendência de avós espanhóis da cidade de Almería, na região de Andaluzia, o que explica apenas em parte a desenvoltura com quem fala o idioma. “Aprendi com um senhor espanhol com quem trabalhei na adolescência e que, um dia, me pediu para levar-lhe suas ‘gafas’ (óculos). Não sabia o que era e tive de aprender a língua”, relembra.

Em meio a insinuações de que a obra estaria superfaturada, com brinquedos acima do preço de mercado, ele revela que se não sair no prejuízo já estará conformado. “Fico satisfeito se tirar o que eu pus.” E entende a importância histórica da obra para Goiânia.
– "Hoje, quem olha para o Mutirama já faz isso com base em um histórico de violência permanente e constante na imprensa”
– "Vi em um jornal da cidade a denúncia 'Produtos importados da China são muito mais baratos' e blablablá. Ok. Vem montar? Não. Dá garantia? Não. Dá treinamento? Não. Entrega aqui? Não. Então o que te dão? Uma estrutura metálica, nada mais”
– "Qual o problema de comprar brinquedos usados? Todos os parques privados do Brasil compraram, para sua operação, equipamentos usados, inclusive o Hopi Hari”
– "Quanto eu paguei ou deixei de pagar por qualquer coisa aqui é problema meu. Têm de saber por quanto eu vendi (preço da licitação). Tinha alguém vendendo mais barato do que eu? Ah, um site da China? Comprem dele, então. Hoje
é cômodo falar”
– "As elucubrações vão longe. Chegaram a ir ao hotel em que estou morando para saber se era eu mesmo quem pagava minhas diárias ou se a Prefeitura pagava para mim”
– "Não vou deixar que pautem minha vida. Não sou um alvo. Sou alguém que está trabalhando e que tem uma obra para entregar”
– "Prejuízo eu já terei, pelo tempo que eu fiquei aqui. Se eu tirar o que eu pus, não digo que saio com prejuízo financeiro, mas é um prejuízo econômico. Além de poder estar trabalhando com meu dinheiro em outra coisa, é um desgaste familiar, porque me privei de estar com minha esposa e minhas filhas”
– Tenho um engenheiro de confiança para testar tudo. Não importa o que me digam, só libero com o aval dele. Não discuto. Posso negociar com outras coisas, mas segurança é o principal mote de quem quer mexer com parques. Disso não abro mão”
– "Quem primeiro entrou com ação na Justiça sobre o caso Mutirama fui eu. Tenho uma ação pedindo para fazer prova antecipada do que eu estava fornecendo. Quero provar que o que estou fazendo não é isso que estão dizendo”
– "Não vou descumprir ordem judicial, não vou desacatar um juiz. Mas dentro do que for meu direito, vou trabalhar. Não é possível um país onde se julgue que alguém está cometendo um ato ilegal por trabalhar. Isso não existe!”
– "Defendo o projeto e não a Prefeitura. Envolvimento político eu não tenho nenhum. Sou da Mooca, lá a gente vota no Serra, não tem jeito, o cara é de lá” (risos)
– "A montanha-russa tem 40 anos e está melhor do que quando foi construída, porque foi automatizada. Isso é manutenção e atualização. Seguindo todas as normas, durará tranquilamente mais 40 anos”
– "Por que eu defendo isso aqui? Porque eu acredito”
– "Alguém no TCM plantou algo como se eu tivesse feito um projeto executivo, contratado pela Prefeitura, e depois tivesse uma concorrência e eu ganhasse a execução. Isso não é correto. A Prefeitura tinha o projeto básico, em termos de referências e desenhos. Eu fui contratado pelo edital para fazer o fornecimento e o projeto executivo, porque senão nem entrava na disputa”
– "Ofereci a garantia estendida. No edital há a figura de um mínimo de 90 dias. Um rapaz do TCM veio aqui e me questionou se 90 dias não era muito pouco. Eu disse que era o que estava no edital, mas completei: 'Se você puder garantir que a manutenção nos equipamentos será aquela preconizada por nós, posso estender a garantia.' Eu soube depois que no TCM foi dito eu teria respondido que os equipamentos são velhos, que a manutenção ficaria muito cara e que, por isso, eu não daria garantia. Imediatamente, me vi compelido a dizer à Prefeitura: 'Amplio a garantia para para 12 meses.' Foi a resposta que eu podia dar”
– "Tenho o patrimônio da minha família aqui no Mutirama. O objetivo de quem quer impedir o parque é tentar me atingir dessa forma, tentando fazer com que uma empresa com capital social de R$ 50 mil não possa fazer uma obra dessas. Só que a diferença entre eu e as pessoas que fazem essas acusações é que eu tenho um nome no mercado estabelecido há 32 anos. Compro um equipamento com a minha palavra, pelo fio do bigode”
– "Até a licitação, no mercado de São Paulo o Mutirama era um ilustre desconhecido. Eu só sabia dele porque no início dos anos 1980 se cogitou sua terceirização e uma das empresas convidadas foi o Playcenter, onde eu trabalhava”
– "Não tirei uma árvore para colocar os brinquedos no parque”
– "Achei estranho a Globo achar um especialista em montanhas-russas para responder se a que adquirimos era cara ou barata. o cara era membro de um tal CBMR. Pensei, com essa sigla deve ser uma baita empresa de consultoria norte-americana. mas O cara é membro do Clube Brasileiro de Montanha-Russa (CBMR) e Nunca trabalhou em um parque. É um usuário de diversões que tem uma espécie de fã-clube! Esse foi o ‘especialista’ de quem o vereador Elias Vaz (PSOL) usou declaração na peça que apresentou na Justiça para contestar o contrato entre a astri e a prefeitura”

Dedicação total e acompanhamento integral da obra

O envolvimento de Adilson Capel com o parque é visceral — no sentido mesmo de conhecer cada brinquedo inclusive “por dentro”. Faz questão de mostrar cada instalação e sabe toda sua história pregressa (no caso dos equipamentos usados) e detalha o material utilizado em cada brinquedo. Explica detalhes de cada escultura do parque temático. Vai onde precisa para encontrar o material que acha adequado para cada ornamentação. “Esses rolos de filme (diz, apontando para a decoração do Cinema 4D) encontrei no Mercado Livre [portal para vendas on-line]. Com¬prei na confiança e suei frio até chegar”, revela.

Andando pelo canteiro de obras, nota-se que há pouco da área de engenharia: materiais usados comumente na construção civil, como argamassa, canos e tubulações, se transformam em tijolos cenográficos, esculturas, imitações de bambu e rabos de dragões. Talvez esteja aí mais um dos motivos da discordância entre o que pensam Adilson Capel, a Prefeitura e o TCM em termos dos porcentuais de engenharia adotados na obra. “Na verdade, muitos suportes de concreto para equipamentos nem seriam necessários, pois são brinquedos concebidos para ser montados na grama. Mas executamos tudo conforme prevê o edital.”

Mais à frente, Adilson lamenta a queda de troncos de bambu sobre um busto de Cora Coralina que enfeita a Ferrovia Goiás — a nova pista do antigo Trenzinho —, para a qual foram criados motivos das cidades de Goiandira, Goiânia, Anápolis e Goiás — após um temporal. Mas se diz aliviado pelo acidente não ter causado dano ao monumento.

Em outro momento do passeio, ele apresenta o que mais parece um galpão de escola de samba: uma dúzia de réplicas do mesmo boneco, com traços nipônicos. Eles são os guerreiros chineses que comporão o espaço dedicado à civilização oriental dentro do Palácio de Alhambra, com certeza uma das construções de visual mais atraente de todo o novo Mutirama. No galpão, há uma certa bagunça organizada: materiais diversos espalhados, mesas de comandos eletrônicos a ser montadas, moldes diversos, uma mistura de depósito com ateliê. A semelhança com o trabalho de um carnavalesco é real: “A diferença é que a escola de samba faz algo para durar uma noite de desfile e a gente, para durar a vida de um parque. Mas o princípio é o mesmo.”

Enquanto atende à imprensa, não para seu trabalho quando solicitado pelos operários — são cerca de 70 contratados diretos e outros tantos indiretos. Há dez espanhóis que prestam assessoria na área de arte. Um deles, Ricardo, ensina artistas goianos os segredos dos moldes dos bonecos do Castelo de Allambra, uma construção espanhola que tem como um de seus motes o cenário da tela “As Meninas”, do mestre das telas Diego Velázquez (1599-1660), referência da pintura no século 17. Outro, Álvaro, é o coordenador da decoração temática do Mu¬tirama e foi gerente da General Producciones y Diseño (GPD), empresa que fez o projeto da decoração do Hopi Hari, maior parque de diversões da América Latina, em 1999.

A trajetória de Adilson pelo mundo dos brinquedos

Até chegar ao Mutirama, Adilson Capel viveu três décadas inteiras de contato com o mundo dos brinquedos. E tudo começou totalmente por acaso. “Eu era jovem e estava desempregado. Me chamaram para um ‘bico’ fantasiado de super-herói no Play Center, no Mês das Crianças. Eu era o Coisa, aquele homem de pedra. E foi lá que tudo aconteceu para mudar minha vida.”

Em um dos intervalos, Adilson caminhava pelo parque quando percebeu que uma criança acompanhada pela mãe estava caindo de um brinquedo, o teleférico. “Nem posso dizer que foi um ato de heroísmo, porque a altura era só de um metro e meio. Mas dei um esporro no rapaz que cuidava do aparelho.” A bronca foi tal que o funcionário foi se queixar ao gerente, dizendo que um dos super-heróis contratados havia discutido com ele. Diante da situação entre o sério e o cômico, o diretor mandou chamar o jovem Adilson e lhe “castigou”: deu-lhe o cargo de supervisor de operações do Play Center.

A partir daí, Adilson Capel virou um profissional do entretenimento. Foi o primeiro gerente de área de lazer do País, no Morumbi Shopping. “Ainda nem existia essa expressão, 'área de lazer'“, lembra. Não teve como continuar a faculdade de Administração que cursava, por conta do trabalho “de segunda a segunda”. Depois de algum tempo no Playcenter, tornou-se autônomo, fazendo administração de obras para uma rede de discotecas.

Fez carreira trabalhando com lazer e eventos artísticos: fez a operação técnica de shows de atrações musicais como Menudo, Pet Shop Boys e A-Ha, na década de 1980; também foi responsável pela parte de efeitos de laser em shows de Roberto Carlos. No ramo de decoração temática, fez ainda a revitalização da Praça da Liberdade, no bairro paulistano do mesmo nome, para a visita do imperador do Japão, Akihito, em 1997. Em 1999, como faz agora no Mutirama, cuidou da parte temática do Hopi Hari, o maior parque projetado para a América Latina.

Fonte: Jornal Opção – 04 a 10 de março de 2012 (www.jornalopção.com.br)