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Morre o geógrafo Aziz Ab'Saber

Na manhã desta sexta-feira (16), as florestas e toda paisagem brasileira perderam um de seus maiores defensores: o geógrafo Aziz Ab'Saber. Aos 87 anos, morreu em sua casa, de infarto. Professor emérito e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA), da Universidade de São Paulo (USP), é autor de mais de 486 obras, entre artigos acadêmicos, teses, capítulos de livros, prefácios e apresentação de livros, entre outros. É uma referência da geografia em todo o mundo.


Uma das homenagens feitsa ao Prof. Aziz Ab’Sáber, na USP/Fotos: Francisco Emolo, Jornal da USP

Ab'Saber desenvolveu ao longo de sua extensa carreira de cientista, pesquisas e tratados de significativa relevância internacional nas áreas de ecologia, biologia evolutiva, fitogeografia, geologia, arqueologia e geografia. Um deles foi o “Zoneamento Ecológico e Econômico da Amazônia”, de 1989.

Mesmo com a idade avançada, continuava exercendo atividades com certa regularidade. Ele era um apaixonado pela geografia brasileira. Por isso, gostava de falar, de explicar, de ensinar a qualquer um que se aproximasse e pedisse sua atenção.

Na página da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), onde Aziz foi presidente entre 1993 e 1995, e atualmente era presidente de honra da entidade, a secretária Geral da SBPC, Rute Maria Gonçalves de Andrade, assina uma nota intitulada “Ao Aziz com carinho”.

“Repito aqui, o que disse quando fizemos uma homenagem a ele na 62ª Reunião Anual da SBPC… E Aziz é assim como um dos Biomas que ele muito defende: a caatinga – único, rico em simplicidade, repleto de surpresas e diversidade – diversidade de conhecimento e de cultura. Professor Doutor Aziz Nacib Ad Saber somos gratos aos ensinamentos que trouxe para todos nós, pois aprendemos ciência, aprendemos cultura e aprendemos valores”, diz um dos trechos do documento.

Um dia antes de sua morte, o professor, disposto como sempre, fez sua última visita à SBPC, em São Paulo. Em um gesto de despedida, involuntariamente, entregou na tarde de quinta-feira (15) sua obra consolidada, de 1946 a 2010, em um DVD, para ser entregue a amigos, colegas da Universidade e ao maior número de pessoas.

“Tenho o grande prazer de enviar para os amigos e colegas da Universidade o presente DVD que contém um conjunto de trabalhos geográficos e de planejamento elaborados entre 1946-2010. Tratando-se de estudos predominantemente geográficos, eu gostaria que tal DVD seja levado ao conhecimento dos especialistas em geografia física e humana da universidade”, diz Ab'Saber em sua dedicatória.

O geógrafo morre antes da publicação de sua última obra, o terceiro volume da coleção “Leituras Indispensáveis”, onde faz uma homenagem ao trabalho dos primeiros geógrafos no interior do Brasil, como José Veríssimo da Costa Pereira e Carlos Miguel, e às primeiras expedições de Candido Mariano da Silva Rondon, o Marechal Rondon (1865 a 1958). O livro ainda não tem data para ser lançado.

Prêmios

Ab'Saber, foi professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, recebeu diversos prêmios como o Prêmio Jabuti em ciências humanas (1997 e 2005), e em ciências exatas (2007); o Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia (1999), concedido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia; a Medalha de Grão-Cruz em Ciências da Terra pela Academia Brasileira de Ciências; e o Prêmio Unesco para Ciência e Meio Ambiente (2001). Mais recentemente, em 2011, foi escolhido pela União Brasileira de Escritores como o Intelectual do Ano.

Código Florestal e Primavera Árabe

Em uma de suas últimas entrevistas, Ab’Saber abordou o Código Florestal. Ele criticou a falta de uma legislação ambiental mais abrangente, que contemplasse o zoneamento físico e ecológico de todo o país como a complexa região semi-árida dos sertões nordestinos, o cerrado brasileiro, os planaltos de araucárias, as pradarias mistas do Rio Grande do Sul, conhecidas como os pampas gaúchos, e o Pantanal mato-grossense. Ele chegou a defender a criação do Código da Biodiversidade para contemplar a preservação das espécies animais e vegetais.

Além de dedicado estudioso de Geomorfologia, Etnologia e Antropologia, era um grande conhecedor da cultura árabe. Sobre as recentes manifestações populares que passaram a ser conhecidas como Primavera Árabe, disse: “Eles deram o primeiro passo com a Primavera Árabe, porém não se preparam para a pós-revolução. Isto está longe de acabar”.

Biografia

Nascido em São Luís do Paraitinga, em 24 de outubro de 1924, era filho de libanês com brasileira. Aziz Ab’saber relembrou recentemente, em entrevista ao Instituto da Cultura Árabe (ICArabe), onde também era presidente de honra, a trajetória da vida de sua família, suas viagens e seu interesse por conhecimentos, em especial, a Geografia. Na página do ICArabe é possível encontrar as duas primeiras partes da entrevista.

Aziz entrou na universidade em 1940 e formou-se Bacharel em História e Geografia licenciado pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Posteriormente, tornou-se Doutor em Geografia Física pela USP.

“Logo que passei no vestibular participei de uma excursão de campo, enquanto todos conversavam, eu bebia àquela paisagem, e fazia inúmeras anotações. Foi aí que descobri que me interessaria muito mais pela Geografia do que pela História”, relembrou o estudioso.

Veja a participação de Aziz Ab'Saber no programa Roda Viva, quando ele foi um dos três representantes da Academia Brasileiros de Ciências na conferências das Nações Unidas, a Rio 92:

Com SBPC e ICarabe