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Cibercidadania: marque “X” para ser ativista

Todo mundo já recebeu o convite de um amigo para abraçar uma causa no Facebook. Esses amigos são quase sempre pessoas que partilham convicções semelhantes às nossas. E aí mora o perigo: as causas encobrem equívocos que talvez nem esses amigos se dêem conta, por isso é bom investigar muito antes de aderir.

Hoje recebi um desses convites, “pelo fim da morte de civis na Síria”. Proposta justa, não é? Quase embarquei na inércia da concordância, confiando na origem do convite, mas resisti. Descobri a armadilha quando fui ler todos os documentos que embasavam a causa. Constatei que ela, na verdade, estava defendendo a queda do presidente da Síria, o “culpado” pelas mortes, segundo os textos, e a adesão da China às sanções contra o país.

Conclusão: ao adotar uma causa como esta, você acaba engrossando a fileira imperialista de uma “guerra” que a grande imprensa não noticia como se deve. Não com a tal imparcialidade que cabe ao jornalismo ético e que exige mostrar dois lados ou, indo mais fundo ainda, varrer os porões das informações até chegar a cadáveres insepultos.

Para investigar ainda melhor a tal “causa” da Síria, entrei no portal das causas, www.causes.com. É um comércio e um anestésico para a consciência política: você pega o que quer e depois desfila com a causa no melhor estilo “sou uma pessoa socialmente engajada”.

No meu perfil, constatei que eu tinha “30 ações” contabilizadas. Puxa, sou uma ciberativista, pensei, ou seria, se ação fosse simplesmente fazer um “X” em “accept” (aceitar, em inglês), contribuindo com sabe-se-lá-o-quê. Alguém certamente levanta as estatísticas dessas adesões e depois divulga como se fosse a opinião de uma “massa” qualificada, usando os resultados a seu bel prazer.

Resgate

Ação – indo ao Aurélio — é atuar, agir. No caso de ação em favor de causas é ir às ruas, unir-se em um panelaço, fazer um tuitaço, manifestar-se de alguma forma mais eloquente. “Ação” é o que está acontecendo em Wall Street, onde os 99,9% dos excluídos da economia acampam e ocupam espaço não só físico: agora estão indo às trincheiras da justiça eleitoral, em busca de representatividade política.

Ação é o que os estudantes chilenos empreendem em atos e passeatas ao lado dos trabalhadores contra o governo e a favor de uma educação gratuita. Ação é a marcha dos indignados na Europa, que se recusam a pagar pelo ônus da bancarrota financeira. Ação são as manifestações a favor do Pinheirinho e das vítimas da cracolândia.

Não é possível negar a força da internet como articuladora de movimentos, bom exemplo dessa força é o próprio Ocupar Wall Street, que nasceu da convocação na rede. Mas as tais “causes” das mídias sociais são questionáveis. Melhor pensar muito antes de aderir. É oportuno recordar que a adesão a uma causa social ou política deve envolver atuações mais contundentes. Se não for assim, o que teremos, como no Facebook, é um perfil com muitas causas proclamadas e compromisso zero.

Por Christiane Marcondes, de São Paulo