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Assembleia Constituinte acirra disputa política no Egito

As disputas pelo monopólio islamista na Assembleia Constituinte do Egito (AC) tornam tenso o ambiente político do país, com uma acirrada luta de poderes, distanciamento das hierarquias religiosas e fissuras na liderança social.

Círculos jornalísticos atribuíram a "problemas de liderança" e escasso poder de convocação de organizações populares o cancelamento nesta sexta-feira (30) de uma marcha anunciada como massiva na praça Tahrir, na cidade do Cairo, sob o título de "Constituição para todos".

A mobilização pretendia somar mais setores sociais à rejeição generalizada pelo predomínio dos partidos Liberdade e Justiça (PLJ), braço político da Irmandade Muçulmana (IM), e El-Nour (fundamentalista salafista) no órgão que redigirá a Carta Magna.

O tema gerou nos últimos dias um agudo enfrentamento entre o Parlamento, dominado nas duas câmaras pelo PLJ e pelo El-Nour, e o governo do premiê Kamal Al-Ganzouri, designado e apoiado pelo Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA).

Os deputados dessas duas forças manobraram para conseguir uma votação que retire a confiança de Al-Ganzouri, ao mesmo tempo em que entraram em uma perigosa troca de ameaças com a Junta Militar devido ao tema da AC, onde 65 dos 100 delegados são islamistas.

Devido à tensão entre as cúpulas militar e islamista, o Partido Aliança Socialista Popular (PASP) advertiu, em um comunicado às forças políticas, que se evite sucumbir a uma disputa que "se desviou das metas da Revolução de 25 de Janeiro (2011) no Egito".

O PASP assinalou que após "um ano de lua de mel" entre a IM e os militares, após a renúncia de Hosni Mubarak, a atual luta de poderes "poderia acabar sacrificando a única oportunidade do Egito de construir uma nova sociedade democrática".

Dado que 14 laicos e liberais renunciaram à Constituinte em protesto pelo método de eleição imposto pelo PLJ para exercer seu controle, esse agrupamento retirou 10 de seus delegados do órgão e prometeu substituí-los com personalidades não islamistas.

Às críticas à IM, provenientes inclusive de mulheres e cristãos por serem minorias, uniram-se Al-Azhar, a máxima instituição do Islã sunita no mundo, e o Centro de Investigação Islâmica que retiraram seu representante da AC, o jeque Nasr Farid Wassel.

A reconhecida escola religiosa com sede aqui explicou seu distanciamento desse fórum como protesto pelas "tentativas de alguns de marginalizar seu papel no Egito".

Por sua vez, dois membros da minoritária comunidade cristã também renunciaram a suas cadeiras, e a Igreja Ortodoxa Copta do Egito reprovou os métodos usados para decidir a composição da Assembleia Constituinte, que consideraram não refletir a sociedade.

Fonte: Prensa Latina