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PE: agricultor morto pode ter sido confundido com líder do MST

O trabalhador rural Sem Terra Pedro Bruno, conhecido como irmão Pedrinho,  foi encontrado morto com três tiros por volta das 7h da manhã desta segunda-feira (2), próximo ao engenho Pereira Grande, no município de Gameleira, Zona da Mata Sul de Pernambuco. Segundo relatos de coordenadores locais, tudo leva a crer que ele foi assassinado por ter sido confundido com uma liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

O MST avalia que a morte de Pedro Bruno seja uma retaliação à reocupação do engenho Pereira Grande, que ocorreu na madrugada de domingo (1º) ontem. A área pertence à Usina Estreliana, e é uma das regiões emblemáticas de conflitos de terra no estado de Pernambuco.

"A gente acredita que por ele estar em uma moto parecida com as que são usadas pelas lideranças do movimento, ele deve ter sido confundido. Porém, temos fortes indícios para acreditar que se trata mesmo de uma retaliação à ocupação que fizemos na madrugada passada", afirmou ao Vermelho o membro da divisão estadual do MST, José Valentim, 28 anos. Valentim acrescentou que a vítima já havia sido presidennte de seu assentamento há alguns anos. Mas que, atualmente, não exercia nenhum papel na coordenação da entidade.

Segundo Valentim, Pedro Bruno tinha acabado de deixar uma dos filhos na escola e voltava para buscar outro de moto. Ele deixou três filhos pequenos e uma esposa, que moravam junto com ele no Assentamento Margarida Alves, conhecido como Dona.

A polícia chegou por volta das 10h e constatou que três tiros atingiram o agricultor de maneira fatal. O caso será investigado pela polícia de Gameleira, juntamente com a polícia civil de Palmares, na região.

Histórico

O engenho Pereira Grande foi declarado de interesse social para fins de reforma agrária em novembro de 2003. Depois de uma série de recursos impetrados, a Usina conseguiu barrar o processo de desapropriação. Segundo o MST, a Ministra Ellen Gracie, que presidia o Supremo Tribunal Federal (STF), que, uma semana antes, havia dado posse da área ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), voltou atrás na decisão e determinou que a imissão de posse e o seguimento da ação de desapropriação só poderão se dar após o julgamento final do processo. O caso está, desde então, pendente na justiça.

Ainda recai sobre a Usina Estreliana vários crimes trabalhistas. Em janeiro de 2010, o proprietário da Usina, Gustavo Costa de Albuquerque Maranhão, que havia sido denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF), foi condenado, a quatro anos e meio de reclusão, por deixar de repassar ao INSS, durante 18 meses, as contribuições previdenciárias recolhidas no valor de mais de R$ 600 mil de seus empregados.

No Dia Internacional da Mulher (8 de março), cerca de 200 mulheres do MST realizaram um ato na engenho Pereira Grande para exigir a desapropriação da área e condenar as consequências econômicas e sociais do monocultivo de cana na região. Na ocasião, elas chegaram a ser cercadas por pistoleiros do engenho que disparara vários tiros contra as camponesas.

"Ocupamos aquela área há 16 anos. Nos últimos quatro anos, decidimos sair e aguardar a decisão sobre as terras na Justiça. Como nada acontece, voltamos atrás e novamente estamos ocupando para pressionar", explicou Valentim. Na madrugada, durante a ocupação, eram 70 famílias. Hoje, ele disse que já são 80 famílias no local.
 
Impunidade

No dia 23 de março de 2012, o trabalhador Rural Sem Terra Antônio Tiningo foi assassinado em uma emboscada quando se dirigia para o acampamento da fazenda Açucena, no município de Jataúba, agreste de Pernambuco. Tiningo era um dos coordenadores do MST na região.

No mesmo dia, pistoleiros atiraram contra famílias Sem Terra acampadas próximo à fazenda Serro Azul, no município de Altinho, também no agreste de Pernambuco. Duas mulheres e uma criança foram atingidas.

Outro trabalhador, José Amaro da Silva, também foi vítima dos conflitos. Em outubro de 2011 ele desapareceu na zona da mata daquele estado quando saía do acampamento do MST no Engenho Brasileiro, município de Joaquim Nabuco, área de conflito agrário.

O MST e organizações de direitos humanos como a Terra de Direitos vem denunciando há muito tempo a violência no campo em Pernambuco. Segundo as entidades, pistoleiros recebem R$ 50,00, por dia, para atirarem contra trabalhadores rurais pertencentes ao movimento. Fazendeiros andam armados e ameaçam agricultores até mesmo em suas próprias casa.

Ainda de acordo com as denúncias: a polícia atua como segurança privada de fazendas, intimidando e ameaçando famílias sem terra; delegados, juízes e promotores legitimam o uso de violência e de milícias armadas por parte de proprietários de terra.

De São Paulo
Deborah Moreira