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Desfrutando conquistas ainda buscamos emancipação – Parte 3

Contribuição para os debates da 2ª Conferência Nacional do PCdoB Sobre a Emancipação da Mulher. Parte 3 de 3.

Por Simone Lolatto*

Internamente nosso Partido tem avançado bastante nos últimos anos, tanto em sua práxis como em teoria. Mas para quem é feminista emancipacionista não dá pra dizer que estamos satisfeit@s. Ainda falta muito e a organização desta 2ª Conferência Nacional do PCdoB Sobre a Emancipação da Mulher trará consequências positivas no campo das equidades de gênero interna ao Partido e há de prosseguir.

No ultimo pleito eleitoral o PCdoB teve, dentre suas candidaturas, apenas 25% disputadas por mulheres para a câmara federal, apesar disso alcançou os 42% de presença feminina constituindo-se como o Partido com mais mulheres em sua bancada. De tão poucas candidatas ter eleito tantas significa que o PCdoB de fato arrisca pouco (paragrafo 69). É preciso urgentemente investir na formação e protagonismo das mulheres de nosso Partido.

Este Partido que não é algo imaterial, tem rostos, corpos, ciência e consciência. Seria – tem sido – cômodo dizer que a culpa é das mulheres, das comunistas que não se apresentam para serem candidatas. É necessário que o coletivo partidário, com dirigentes – majoritariamente masculinos (paragrafo 70, onde os 30% de presença feminina ainda é um desafio) em todas as esferas: municípios, estados, Comitê Central – saia da zona de conforto, assuma o debate e efetive ações para tornar concreto aquilo que está no papel e discursos. Não será de um dia para outro, não é no estalar de dedos e nem da vontade individual de algumas pessoas, que as comunistas terão de fato condições de serem candidatas, por exemplo, daqui 4 anos.

Dependerá do esforço coletivo: não é suficiente eu querer, ela ou ele querer, muitas outras pessoas tem que querer e trabalhar junto; o que significa sair da zona de conforto, arregaçar as mangas, além de bons discursos também partir pra ação:

– cumprindo os art. 53, 54 e 55 do estatuto partidário e cumprindo em todas as instâncias o percentual mínimo de 30%, nunca uma a menos, sempre uma a mais, garantindo a participação dessas mulheres com medidas práticas como horários, dias da semana e espaço/profissional para as crianças que estejam sob responsabilidade das(os) camaradas;

– estruturando as secretarias de mulheres do partido considerando as implicações positivas da garantia dessa estruturação com finanças, pessoal e política, incluindo-as em articulações inter e supra partidárias;

– assumindo os planejamentos das secretarias de mulheres e suas comissões auxiliares não menosprezando-os em detrimento de todas as outras agendas como de praxe;

– tendo dentre suas prioridades as filiações de mais mulheres ao PCdoB, desencadeando campanhas para cumprir esse objetivo;

– convidando mais mulheres para publicar, sobre temas variados de interesse e pauta partidária, nos meios de comunicação do Partido, tanto nos estados como no nível central, a exemplo Revista Princípios, onde raras são as edições de que tiveram 3 mulheres publicando;

– investindo fortemente na formação das filiadas, mobilizando-as pra participação em atividades de formação, garantindo suas presenças, inclusive custeando financeiramente com prioridade a participação das mulheres em tais atividades com vistas a médio/longo prazo;

– incluindo nas atividades e materiais (impressos, vídeos) de formação o tema da emancipação feminina como transversal na formação de comunistas;

Se todas as instâncias partidárias, nas esferas dos municípios, estados e federação, atentarem-se para dar concretude ao discurso, desenvolver ações, tenho convicção que não sofreremos nos próximos anos para cumprir a lei de cotas – 30% no mínimo de mulheres nos pleitos eleitorais. Sair da zona de conforto e perceber que temos muito mais retórica do que prática é bastante “complexo”, porém, necessário, do contrário daqui 4 anos ouviremos as mesmas queixas sobre o “mistério de quase não haver mulheres candidatas”.

Por isso, camaradas, não deixemos pra depois, nos inspiremos em Rosa Luxemburgo: “há todo um velho mundo ainda por destruir e todo um novo a construir. Mas nós conseguiremos”.

*Secretária Estadual da Mulher do PCdoB em SC. Assistente social, funcionária pública municipal da Prefeitura de Florianópolis. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (UFSC), mestre em Serviço Social e especialista em Políticas Públicas.

Referências

BEAUVOIR, Simone. O Segundo Sexo. Volume 1-1949. Tradução de Sérgio Milliet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 12ª Edição, 2002.

CADERNO de debates. 2ª Conferência Nacional do PCdoB Sobre a Emancipação da Mulher. PCdoB, março de 2012.

CASTRO, Mary Garcia. Alquimia de categorias sociais na produção dos sujeitos políticos. In: Estudos Feministas. Nº 0, Rio de Janeiro: CIE/ECO/UFRJ, 1992.

MORIN, Edgar. Epistemologia da Complexidade. In: SCHNITMAN, D.F. (org.) Novos Paradigmas, cultura e subjetividade. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

REVISTA Especial Caros Amigos. A era da mulher conquistas e desafios. Ano XV, nº 55, São Paulo: Casa Amarela Ltda, março/2012.

SAFFIOTI, Heleieth I.B. Primórdios do Conceito de Gênero. Cadernos Pagu (12). Núcleo de Estudos de Genero – Pagu/Unicamp, Campinas, 1999.

VALADARES, Loreta. As Faces do Feminismo. São Paulo: Anita Garibaldi, 2004.
Fundação Astrogildo Pereira.

ZETKIN, Clara. In: Notas de Meu Diário. Lênin Tal como Era / O socialismo e a Emancipação da Mulher. Tradução: Editorial Vitoria, 1956. Acessado em 23/03/12, disponível em http://www.fundacaoastrojildo.com.br/index.php/genero-e-etnia/1196-clara-zetkin

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