Sem categoria

Mantega: temos o maior spread do mundo e isso não se justifica

Nesta sexta-feira (13), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, elevou o tom e fez duras críticas à postura dos bancos privados na concessão de crédito e no custo do dinheiro. E avisou que não atenderá às propostas feitas pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) na terça-feira (10).

Para Mantega, o país possui todas as condições para que os bancos brasileiros deixem de ser "os campeões do spread".

Leia também:

Claudia Safatle: cortar juros e spread é política de governo

Mantega, na canela dos bancos: lucrem menos
 

Segundo ele, "se eles [os bancos privados] não tivessem lucratividade, a gente poderia dizer: vamos mexer nos tributos, reduzir a cunha fiscal, mexer no compulsório. Mas eles têm margem para aumentar o crédito neste momento, e é necessário que isso seja feito sem mexer em nada".

Situação fiscal

O ministro afirmou que os bancos privados não estão liberando crédito e estão cobrando juros muito elevados, mesmo considerando a atual situação do Brasil.

"A economia brasileira está bastante sólida, estamos com inflação baixa, em torno de 4,5%, estamos com uma situação fiscal ótima, estamos com superávit, diminuindo a dívida pública, os consumidores estão com vontade de consumir, com mais salários, porém está havendo uma retenção de crédito por parte dos bancos", acrescentou.

Mantega lembrou que as taxas de captação do dinheiro pelos bancos privados são de 9,75% ao ano, mas emprestam para o consumidor a taxas de até 80% ao ano, dependendo das linhas de crédito.

"Essa situação não se justifica. A economia brasileira tem condições jurídicas sólidas. A economia brasileira tem o maior spread do mundo e isso não se justifica", criticou.

O ministro ressaltou que, no passado, até havia alguma insegurança jurídica, por causa de leis que não garantiam a devolução do recurso, mas o Brasil avançou muito nesta área.

"Temos nova Lei de Falências, alienação fiduciária que garante a retomada dos bens e até o cadastro positivo já foi aprovado. Os bancos diziam que iriam reduzir o spread quando nós aprovássemos o cadastro positivo. Ele está regulamentado e valendo", argumentou. Procurada, a Febraban não comentou o caso.

Diálogo com a Febraban

Após reunião com o presidente da Febraban, Murilo Portugal, na terça-feira (10), Guido Mantega deixou claro seu incômodo com a posição da federação.

"O Murilo Portugal esteve aqui outro dia e, em vez de trazer soluções anunciando aumento de crédito, veio para fazer cobranças. Se os bancos estão tão lucrativos, eles têm margem sim para reduzir as taxas e aumentar o volume de crédito", comentou o ministro, em claro sinal de contrariedade.

Bancos públicos

O ministro ressaltou o papel dos bancos públicos neste processo e disseque os bancos públicos federais terão autonomia para avaliar as condições de mercado para decidir se farão novas reduções nos juros cobrados nos empréstimos

“Os bancos públicos são autônomos para fazer isso e, portanto, estarão reduzindo as taxas. Mas as taxas já foram reduzidas bastante. Houve taxa que caiu para um terço. Eles que têm que se definir em relação a isso”, disse. Nos últimos dias, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal anunciaram redução dos juros de linhas de crédito.

O ministro destacou ainda que os bancos públicos registram um menor índice de inadimplência e têm rentabilidade tão alta quanto as instituições privadas. “Eles não poderiam agir se expondo a riscos. Tem que agir dentro da prudência e dentro das garantias necessárias. Os bancos [públicos] terão mais lucro porque irão emprestar mais”, avaliou.

Com agências