Anna Malm: Irã, quanto pagará os Estados Unidos?

Numa análise dos efeitos das sanções impostas a República Islâmica do Irã Dr. Paul Craig Roberts ressalta muitos aspectos importantes da questão. Alguns desses aspectos apresentaremos aqui, mas para uma completa avaliação desse seu estudo veja o seu trabalho original. [1]

Por Anna Malm*

De acordo com Dr. Craig Washington está tentando obrigar o mundo a derrubar o sistema do direito internacional, o qual se baseia nos tratados internacionais. Washington está a emitir decretos de carácter imperial onde estabelece por cada vez que é a sua palavra que é a lei internacional.

Nesse sistema imperial qualquer país (com a excessão dos escolhidos por Washington) que se dedique a negócios com o Irã ou ao importe do seu petróleo será castigado pelos Estados Unidos. Esse país não terá acesso ao mercado americano e o seu sistema bancário não conseguirá usar o sistema internacional de pagamentos.

Isso quer dizer que Washington se dá a liberdade de impingir sanções a todos os países que se atrevam a desafiar a sua vontade.

O Japão e dez países da União Europeia tiveram privilégios especiais dispensados pelos Estados Unidos para poder continuar a comprar petróleo do Irã. Eles foram os escolhidos por Washington, como apresentou o "Christian Science Monitor".

O Dr. Roberts ressalta aqui que os Estados Unidos estão então exigindo que outros países de grande peso abram mão dos interesses de suas economias para cumprir com suas obrigações de ajudar Washington na vendetta desse contra o Irã.

Vendetta essa que já vem de mais de 30 anos, ou seja, desde que a República Islâmica do Irã derrubou o governo de marionetes do então Shah do Irã. Isto continuaria então a ser mais do que Washington consegue engolir.

Dr. Roberts ressalta também que os Estados Unidos agem arbitrariamente mesmo em relação as "dispensas" econômicas que distribui a bel-prazer.

China, Índia, Turquia e a Coréia do Sul não receberam nenhuma dispensa. A Ìndia e a China são os maiores importadores do petróleo do Irã. A Turquia e a Coréia do Sul estão entre os dez maiores importadores do petróleo do Irã.

Quais são os argumentos que Os Estados Unidos apresentam contra o Irã? Simplesmente nenhum argumento de peso. É o mesmo truque que o empregado no caso do Iraque.

Irã, ao contrário de Israel assinou o tratado de não-proliferação de armas nucleares. Todos os países que assinaram esse tratado tem o direito a energia nuclear. Washington diz que Irã está violando esse tratado através de se por a desenvolver uma arma nuclear. Não há e nunca houve alguma evidências para comprovar essas afirmações.

Os dezesseis serviços de inteligência de Washington dizem unanimamente que Irã desde 2003 não deu nenhum motivo para suspeitas quanto a um programa de armas nucleares. Os inspectores da Agência Internacional de Energia Atômica estão no Irã e tem apresentado relatórios de que não há nenhum caso de diversificação de material.

Nas raras ocasiões em que Washington é confrontado com esses fatos uma reviravolta é imediatamente feita. É dito que apesar de todos os direitos que Irã possa ter através da sua assinatura do tratado de não proliferação Irã não pode ter um programa de energia nuclear porque seria então capaz de, no futuro, poder fazer uma bomba [!]

O imperador decide unilateralmente que a possibilidade de que Irã algum dia no futuro decida fazer uma bomba é um risco muito grande para poder ser tomado. É então melhor deixar o preço do petróleo se desenfrear assim como deixar a economia internacional desgovernada, além de se violar a lei internacional e arriscar uma grande guerra do que se preocupar, que num futuro impreciso, alguma decisão possa ser tomada quanto a construção de uma arma nuclear.

Washington nunca explicou o grande risco que vê numa possível capacidade do Irã de poder construir armas nucleares. Porque seria então esse risco muito maior que os riscos associados com as armas nucleares da União Soviética, ou com as armas nucleares dos Estados Unidos, Rússia, China, Israel, Pakistan, Índia e Coréia do Norte?

Irã é relativamente um país pequeno [apesar de contar com uma população de cerca de 70.000.000 habitantes]. Irã não tem ambições de dominância sobre o mundo e ao contrário de Washington Irã não está em guerra com uma dúzia de países.

Dr. Paul Craig Roberts ressalta ainda que as sanções com que os Estados Unidos pretendem abater o Irã acabarão por cair com muito mais força sobre ele próprio.

O que os Estados Unidos poderiam fazer se a Índia, a China, a Turquia e a Coréia não sucumbirem as ameaças e continuarem a importar seu petróleo do Irã? O que aconteceria se os Estados Unidos impusessem suas sanções a Índia e a China?

Aqui temos que as prateleiras das maiores cadeias de supermercados americanos ficariam as moscas. Ficariam vazias e logo, logo os interesses particulares americanos estariam batendo nas portas da Casa Branca e batendo com força.

Poderosos fabricantes americanos de computadores assim como os poderosos dos grandes interesses econômicos e financeiros que puseram sua produção na China veriam seus lucros e mais valias evaporarem-se. Juntamente com seus aliados da Wall Street iriam todos a desencadear-se sobre a Casa Branca. O dinheiro da China pararia de fluir para dentro dos EUA e portanto o peso do débito dos mesmos se faria sentir a ponto de caimbras.

Em relação a Índia, as operações dos bancos, das companhias dos cartões de crédito e os serviços de utilidades ao consumidor dos Estados Unidos parariam de funcionar.

O caos se estabeleceria. Essa seria a recompensa dos mesmos pela globalização que eles próprios perpetraram. Os Estados Unidos, como um país unificado, não é mais um país independente.

O país é agora propriedade dos interesses americanos que se estabeleceram no exterior, assim como dos países estrangeiros onde esses interesses economicos americanos localizaram sua produção. Sanções contra a Índia e a China seriam sanções voltadas diretamente contra os Estados Unidos.

Dr. Roberts pergunta-se se a China, a Índia, a Coréia do Sul e a Turquia estão conscientes do seu poder de pôr os Estados Unidos de joelhos ou se estes estariam tão cegos quanto a Europa e o resto do mundo que ainda acreditam que estão a falar com um todo-poderoso.

Irá a China ou a Índia, ou ambas, reinvidicar sua independência e exercer seu de-facto poder ou irão cada uma por si ou conjuntamente sucumbir as manhas de Washington? Continuaram elas a reinvidicar seus interesses e continuar com seus importes do petróleo iraniano?

Também não se pode descartar o papel das possíveis chantagens atrás de portas fechadas. Quanto custará aos Estados Unidos o reconhecimento feito pela China e a Índia de que Washington har o poder ditatorial sobre o resto do mundo? A retirada da flota americana dos horizontes do Mar da China?

Sem concessões da China e da Índia Washington ficaria numa situação de periferia.

Um país que não tem uma base industrial e que só pode imprimir notas e instrumentos de débito não é um país poderoso.

Referências e Notas:

[1] Dr. Paul Craig Roberts, "Washington Leads The World Into Lawlessness" (Washington Está Levando o Mundo A Ilegalidade) – em www.paulcraigroberts.org e em www.globalresearch.ca

*Anna Malm é correspondente da Pátria Latina e da Irã News na Europa.

Fonte: Irã News