Viúva e filha querem saber verdade sobre morte de Manoel Fiel 

A viúva e a filha do operário Manuel Fiel Filho agradeceram aos parlamentares da Comissão Parlamentar da Verdade, ligada à Comissão de Direitos Humanos da Câmara, a homenagem e lembrança do operário morto pela ditadura militar. Na audiência, realizada nesta terça-feira (17), foi exibido o filme "Perdão, Mister Fiel", seguido de debate sobre a história de Fiel Filho. As duas mulheres manifestaram esperança de que a Câmara consiga descobrir a verdade sobre o crime que ainda não foi elucidado.

Viúva e filha querem saber verdade sobre morte de Manoel Fiel - Agência Câmara

Thereza de Lourdes Martins Fiel, viúva de Fiel Filho, com a voz embargada, agradeceu aos parlamentares com poucas palavras e passou o microfone para a filha Maria Aparecida . Ela disse que nunca consegue assistir o filme todo, porque é sempre uma grande tristeza. E acrescentou que não se conforma com o fato de que todos os torturadores serem conhecidos – com nomes e endereço – e não se conseguir as informações precisas sobre a morte do pai.

“Eles tem endereço e nome– não são clandestinos – a gente sabe onde estão e o meu pai está morto”, disse, manifestando esperança de que a Câmara consiga fazer Justiça ao identificar os assassinos do operário.

A deputada Luiza Erundina (PSB-SP), que coordena a Comissão Parlamentar da Verdade, ao abrir a audiência, reclamou que há cinco meses a lei foi sancionada e até agora não foram escolhidos os nomes da Comissão Nacional da Verdade.

“Não podemos esperar, temos que fazer a hora, procurando essa verdade e que a justiça se faça a esses familiares na perspectiva de que nunca mais se repita esses crimes no nosso país e para se consolidar esse bem maior que a democracia no Brasil”, afirmou.

Novo debate

O diretor do documentário, Jorge Oliveira, elogiou a posição da deputada Erundina. E criticou a Lei da Anistia e o fato da história de Manoel Fiel Filho não ser conhecido pelos brasileiros, “porque era apenas um operário, mas o Brasil renasceu com um presidente operário e tem obrigação de reabrir um novo debate que venha traduzir liberdade maior e o seu povo tenha como enterrar os seus cadáveres que estão insepulto na memória do Brasil”.

Para ele, “filmes como esses são importantes para que o Brasil traga de volta essa memória cruel, que não vivemos só de alegria, mas também de tristeza e essa foi uma grande tristeza que os brasileiros tiveram que conviver durante mais de 20 anos”. E disse ainda que “essa Casa tem a obrigação de trazer à tona todos esses episódios que aconteceram e procurar descobrir onde estão os cadáveres”.

O corpo apresentava sinais evidentes de torturas.O corpo de Manoel Fiel apresentava sinais evidentes de torturas.Fiel Filho foi preso em 16 de janeiro de 1976 na fábrica onde trabalhava, ao meio-dia, por dois agentes do DOI-Codi/SP que se diziam funcionários da Prefeitura, sob a acusação de pertencer ao Partido Comunista Brasileiro. No dia seguinte, os órgãos de segurança emitiram nota oficial afirmando que Manuel havia se enforcado em sua cela com as próprias meias, naquele mesmo dia 17, por volta das 13 horas.

O corpo apresentava sinais evidentes de torturas, em especial hematomas generalizados, principalmente na região da testa, pulsos e pescoço.

De Brasília
Márcia Xavier