João Villaverde: governo vê melhor cenário na economia

Na avaliação de economistas do governo, maio deverá ser o "mês da virada" do crescimento econômico. O ritmo fraco do primeiro trimestre começou a mudar, ainda que timidamente, na segunda quinzena de março, e continua neste mês. A aceleração da atividade, com aumento do consumo das famílias e reaquecimento do mercado de trabalho, ocorrerá no mês que vem, como efeito, inclusive, dos cortes nas taxas de juros cobradas pelos bancos comerciais.

Por João Villaverde*

Além disso, as projeções mais recentes do ritmo da arrecadação federal apontam para um crescimento neste ano de cerca de 6%, e não apenas os 4,5% esperados pela Receita Federal. Nesse caso, a aprovação de novos estímulos fiscais setoriais não está descartada, seja na ampliação da desoneração da folha de salários para outros setores ou mesmo a redução do IOF sobre operações de crédito.

Há uma conjunção de fatores que levam economistas oficiais a considerar que os indicadores mais fracos estão ficando para trás. "A recuperação e aceleração da economia ocorrerá neste segundo trimestre, ganhando força no último semestre", disse ontem uma fonte da área econômica.
 
O Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br), que registrou taxas negativas em janeiro e fevereiro, e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que perde força mês a mês desde o fim do ano passado, tiveram uma ligeira melhora em março, mas vão apresentar um desempenho mais forte em maio, segundo essa mesma fonte.

Em queda desde 31 de agosto do ano passado, a taxa básica de juros deve ser novamente reduzida pelo Banco Central (BC) hoje. O efeito sobre a atividade, no entanto, ocorre com defasagem de seis a oito meses sobre a atividade, estimam os economistas. Assim, as consequências de uma Selic mais baixa começam a ser sentidos a partir do segundo trimestre. O governo conta, também, com uma melhora na oferta de crédito para consumo e investimentos, a partir da redução dos spreads dos bancos públicos e a adesão dos bancos privados a essa iniciativa.

Ontem, o Santander anunciou a redução dos juros dos empréstimos às pequenas empresas. Com o corte nos juros iniciado pelos bancos públicos (Banco do Brasil e Caixa) há dez dias, e seguidos pelo HSBC na semana passada, o governo entende que, a partir de maio, o estímulo creditício ao consumo será pleno, funcionando como um incentivo ao aumento dos investimentos privados. Além disso, o governo aposta no pacote de estímulos anunciado há duas semanas para aquecer a economia no segundo semestre, quando as medidas, que envolvem principalmente o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), devem entram em vigor.

A inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deve atingir, também, em maio, seu menor nível no acumulado em 12 meses em quase dois anos. O IPCA deverá estar por volta de 4,8% a 4,9% nesse período, segundo estimou um técnico da área econômica. Desde setembro de 2010, quando o IPCA acumulado em 12 meses registrou 4,7%, a inflação não se situa abaixo de 5% – nos 12 meses terminados em setembro do ano passado, o IPCA chegou a acumular 7,31%.

Com a inflação em níveis mais próximos da meta de 4,5% perseguida pelo Banco Central (BC), o governo entende que poderá abrir um novo espaço para ampliar os estímulos fiscais para aquecer a economia.

A meta de superávit primário está mantida e o crescimento da arrecadação, decorrente não só do crescimento, mas também de conquistas judiciais adicionais, pode sustentar esses eventuais novos incentivos. Embora oficialmente a Receita Federal trabalhe com um aumento de 4,5% a 5% na arrecadação neste ano em relação a 2011, alguns técnicos já trabalham com um crescimento próximo a 6%.

Junta-se a esses fatores a desvalorização mais recente da taxa de câmbio. "O patamar do dólar [que ontem fechou a R$ 1,85] é ótimo para as exportações e para os investimentos, o que dá mais um sinal para os empresários de que a economia será mais forte", afirmou a fonte.

*João Villaverde é jornalista.

Fonte: Valor Econômico