A Caravana UNE Brasil+10 chega à metade do seu caminho 

Após 27 dias, a Caravana cruzou o país e percorreu seis estados brasileiros. A seguir, Virgínia Barros, coordenadora do projeto, faz um balanço da1ª metade da jornada

Dia 28 de março, Brasília: a Caravana UNE Brasil+10 dá o pontapé inicial em sua viagem pelo Brasil para debater com a juventude um projeto de país que sonhamos em construir para os próximos 10 anos.

Ao longo dos últimos 27 dias, a caravana percorreu Porto Alegre, Curitiba, Manaus, Belém, Fortaleza e agora está em Natal. Durante a viagem, diferentes sotaques e Ideias tem se encontrado para construir o debate que a UNE está levando para todo o país. As próximas paradas são Pernambuco, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e, por fim, São Paulo, no dia 15 de maio.

A seguir, a coordenadora da caravana, Virgínia Barros, faz um balanço dessa primeira metade do roteiro, fala sobre as descobertas feitas ao longo do caminho e suas expectativas para as próximas etapas.

Fortaleza marcou a entrada da Caravana no nordeste brasileiro e a metade do trajeto. Qual o balanço que a UNE pode fazer da Caravana até o momento? Quais são, em sua opinião, os principais resultados que uma ação como essa traz para a entidade e para o movimento estudantil como um todo?

A Caravana UNE Brasil + 10 surgiu com o espírito de organizar atividades e debates importantes com o conjunto dos estudantes, no intuito de refletir sobre os desafios do país para os próximos anos e quais contribuições nossa geração pode dar para o Brasil, agora e no futuro. Neste ponto, posso afirmar com segurança que as expectativas estão sendo superadas, pois temos nos surpreendido positivamente com a disposição que os universitários de todas as regiões têm para refletir e interferir nas grandes questões nacionais.

Milhares de jovens já passaram pela Caravana da UNE até aqui e temos conseguido dialogar de forma fraterna, plural e democrática sobre temas centrais para o desenvolvimento nacional, como economia, meio ambiente, cultura e, principalmente, educação. Como resultado, a caravana vai deixando nas universidades cada vez mais gente disposta e se mobilizar para melhorar a sua realidade e lutar por bandeiras centrais para a União Nacional dos Estudantes e para o Brasil, como a destinação de 10% do PIB para educação.

Outra coisa importante é a possibilidade de conhecermos de perto as dificuldades que os estudantes enfrentam no cotidiano do seu curso. A caravana possibilita que a luta local dos estudantes seja fortalecida, pois contribui também para debater o movimento estudantil em cada instituição, em cada corredor, em cada sala de aula.

São mais de 45 dias rodando o Brasil, conhecendo a diversidade do povo e da juventude, experienciando cores, sabores e costumes. O que mais tem lhe chamado a atenção?

O mais difícil de passar despercebido é, claro, a diversidade cultural e econômica que existe em nosso país. E eu diria mais: parece contraditório, mas o mais extraordinário de tudo é perceber os pontos de unidade dentro desta diversidade bonita, que, no final das contas, são os elementos que nos caracterizam como povo brasileiro, povo novo, uno, original. Saímos do Centro-Oeste para o Sul e, de lá, fomos direto para o norte do país! Foi como um choque térmico! São realidades muito diferentes, mas acredito que a generosidade, a força e a alegria das pessoas são marcantes em todos os lugares do Brasil.

Durante todo esse tempo fora de casa, alguns “perrengues” devem ocorrer. Quais as maiores dificuldades por quais tem passado?

Ah, os “perrengues” acontecem o tempo todo e cada vez mais nosso time aprende a testar e ultrapassar seus próprios limites para resolver. Um exemplo, chegando ao Ceará, na semana do evento, soubemos que a utilização da concha acústica da UFC, onde seriam os shows, tinha sido cancelada. Tivemos que correr atrás para resolver! No final deu tudo certo e mais de dois mil estudantes participaram da atividade, marcando um momento importante para o movimento estudantil local, uma vitória muito importante: a volta da concha acústica da UFC para as mãos dos estudantes, pois há anos o movimento estudantil não conseguia organizar nada por lá.

À parte esses contratempos, acho que a principal dificuldade tem sido a pouca abertura que algumas faculdades privadas tem dado para a ação e organização dos estudantes. Em algumas delas, fomos proibidos de panfletar ou de passar em sala para mobilizar os estudantes para as atividades. Então, entrávamos na marra e, em todas, conseguimos reunir um bom número de jovens dispostos a dialogar e a dar sequência à luta local iniciada pela UNE. Isso reafirma em nós a necessidade urgente de regulamentação do ensino superior privado no país, que, entre outras coisas, garanta democracia interna e livre organização estudantil nestas instituições.

A Caravana tem visitado universidades públicas e privadas. O que encontrou pela frente, viu e vivenciou? Qual a situação atual das universidades brasileiras, quais as pautas gerais do movimento estudantil e o que precisa avançar?

As universidades brasileiras apresentam especificidades e dinâmicas próprias, mas, no conjunto, são muitas as características em comum que encontramos pelo caminho. Já falei sobre essa limitação que existe à organização estudantil em algumas universidades privadas, mas, para além disso, desprender-se da lógica mercantilista de ensino é também um desafio central nestas instituições. Não é raro vê-las “vender” a educação como se fosse mais um produto à disposição em uma prateleira de supermercado.

Sobre as universidades públicas, até agora passamos em várias instituições federais. É notório seu processo de expansão, que tem contribuído para solucionar um dos maiores problemas do ensino superior brasileiro, que é o pouco acesso da juventude à este nível educacional. A grande maioria das universidades federais é hoje um grande canteiro de obras em busca de adequar-se a esta nova realidade. Mas as dificuldades que vivenciamos nestes espaços também são grandes: praticamente todas não possuem uma estrutura de assistência estudantil que atenda ao conjunto dos estudantes da instituição.

Existe também um problema mais grave, comum nas universidades públicas e privadas: a qualidade. De um modo geral, a universidade brasileira ainda apresenta limitações na garantia plena do tripé ensino-pesquisa-extensão. Como consequência, ela ainda está aquém de cumprir seu papel de refletir sobre o Brasil e apresentar respostas às grandes questões nacionais. Isso só fortalece em nós, da UNE, a vontade e perseverança de lutar por uma reforma universitária democrática, que sintonize a universidade brasileira com os desafios do país.

Está preparada para o restante do trajeto? O que espera pela frente?

Nasci preparada! (risos) Acho que a cada etapa vamos ganhando experiência e juntando cada vez mais gente. É interessante perceber como a caravana vem ganhando mais corpo em cada estado por que passamos. Acho que estamos vivendo uma experiência histórica, que trará muitos frutos para o movimento estudantil e para a construção de nossa nação. As expectativas são grandes e nossos corações estão a mil! É maravilhoso bancar o “bandeirante do século XXI”, desbravando o Brasil e tentando entender melhor a complexidade e a beleza de nossa gente!

Confira os vídeos das primeiras etapas da caravana aqui:


Fonte Site da UNE