A mulher norte-rio-grandense na história política do Brasil

Com a lembrança das "guerreiras potiguares" e pequenos relatos emocionados da vida das pioneiras na luta pela igualdade de gênero no Rio Grande do Norte, dá-se continuidade à série de artigos da 2ª Conferência sobre a Emancipação da Mulher.

Por *Vilma Leão
Quando falamos sobre as mulheres que se destacaram na história política, buscamos referências longínquas e destacamos os nomes mais conhecidos pelo Brasil afora como o de Bertha Luttz, Carlota Queiroz, Mietta Santiago, Anita Garibalddi, entre outras. Sem minimizar a importância dessas mulheres, nosso estado não precisaria, para mencionar movimentos feministas, importar de outros estados nomes de mulheres guerreiras que se colocaram à frente do seu tempo e ocuparam espaços que diziam não ser seus, visto que o RN foi pioneiro na luta das mulheres por igualdade de gênero.

O Rio Grande do Norte deveria inflar o peito quando o debate tivesse por tema a mulher e glorificar nomes como Clara Camarão, índia potiguar, que lutou bravamente contra os holandeses em Recife e Olinda-PE e em Porto Calvo-AL, liderou um grupo de guerreiras nativas, escrevendo seu nome na história como precursora do feminismo. Deveria honrar Nísia Floresta, que não aceitou o jugo do seu marido, divorciou-se quebrando os tabus do seu tempo, voltou a se casar com o marido que escolhera – uma ousadia para a época –, tornou-se escritora, lutou contra a escravidão e pela igualdade de gêneros enquanto viveu.

Precisa nosso estado lembrar Celina Guimarães, primeira mulher brasileira a votar no Brasil, tem a obrigação de destacar Alzira Soriano, primeira mulher a ser eleita para cargo executivo no Brasil e na América Latina, tornando-se prefeita em Lajes. Precisa tirar do esquecimento nomes como o de Cacilda Bessa, primeira mulher a exercer o cargo de Intendente Municipal (equivalente ao atual cargo de vereador), eleita por 745 votos, na pequena cidade de Pau dos Ferros, o que a tornou a primeira vereadora da América Latina. Devia reverenciar Ana Floriano, mulher de fibra que protagonizou momentos históricos na cidade de Mossoró, destacando-se o Motim das Mulheres.

Ainda falando das guerreiras potiguares, devemos lembrar nomes como os de Vilma de Faria, primeira deputada federal e a primeira a governar o RN. Também Rosalba Ciarline, que, apesar da má atuação como governadora, foi a primeira senadora do RN. E como não lembrar Eveline Guerra, brava militante comunista que ocupou o cargo de vice-prefeita de Natal?

Um estado com uma raiz axial tão profunda nas lutas por igualdade de gêneros não pode deixar que o tempo apague ou ofusque a história escrita por essas heroínas. E nós, mulheres potiguares, que temos em nosso DNA o pioneirismo, devemos, assim como nossas conterrâneas, fazer valer nossos direitos, pedindo a aprovação do PL por igualdade de gêneros e a aplicação da Lei Maria da Penha na íntegra.

E para que elas, que hoje habitam o mundo espiritual, não pensem que também foram esquecidas. Deixo aqui registrados nomes como os de Heloisa Leão de Moura, minha tia-avó, primeira vereadora de Mossoró, e de Inês Pires de Andrade, primeira vereadora da cidade de Caiçara do Rio do Vento.

Que os espíritos dessas guerreiras possam nos inspirar a escrever outros belos capítulos na história da mulher potiguar.

*Vilma Leão é membro do Comitê Estadual e Municipal de PCdoB de Parnamirim/RN, Secretária-Geral do Sindicato dos Trabalhadores Públicos do Município de Parnamirim e Diretora de Assuntos Jurídicos da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil-CTB/RN. É estudante do curso de Pedagogia.