Egito define candidatos à presidência; muçulmanos divididos

As autoridades eleitorais do Egito definem nesta quinta-feira (26) a lista de candidatos presidenciais em um momento de aparentes fraturas nas fileiras islâmicas, enquanto continuam estancadas a Assembleia Constituinte e a fricção do governo com o Parlamento.

Sem que se conheça ainda a resposta a uma apelação do aspirante Ahmed Shafiq por sua recente eliminação, a Comissão Suprema Eleitoral Presidencial (CSEP) anunciará em coletiva de imprensa dúvidas sobre os 12 pretendentes a ocupar o posto deixado por Hosni Mubarak.

O ente eleitoral anunciou em 14 de abril a eliminação de 10 dos 23 candidatos registrados, incluídos o antigo vice-presidente de Mubarak, Omar Suleiman e os islâmicos Khairat El-Shater, indicado pela Fraternidade Muçulmana. E o salafista Hazem Salah Abu Ismail.

Diante da previsível invalidação da candidatura do multimilionário El-Shater, o Partido Liberdade e Justiça (PLJ), braço político da Fraternidade Muçulmana indicou a candidatura alternativa de seu líder Mohamed Morsy, que figura junto a Amr Moussa y Abdel Moneim Aboul Fotouh como os três com mais chances.

A denominada Autoridade Legítima Salafista para os Direitos e a Reforma anunciou na quarta-feira seu apoio a Morsy, acentuando a divisão dentro do bloco salafista que praticamente ficou órfão com a eliminação de Abu Ismail pela nacionalidade de sua mãe.

Boa parte dos membros desse grupo criticou seus líderes acusando-os de preferir um homem do PLJ no lugar de Aboul Fotouh, um médico e dissidente da Fraternidade Muçulmana que se apresenta como independente, ou do também islâmico Mohamed Selim Al-Awa.

Aboul Fotouh, Morsy e Al-Awa são os três islâmicos na disputa, se a Comissão Eleitoral não excluir nenhum, mas o primeiro desponta como principal competidor frente a Moussa, laico, liberal, ex-chanceler de Mubarak (1991-2001) e ex-secretário geral da Liga Árabe (2001-2011).

Devido à influência dos salafistas, em particular do Partido El-Nour que constitui a segunda força política do Parlamento depois da Fraternidade Muçulmana, os candidatos presidenciais islâmicos procuram o apoio desse setor fundamentalista, com amplas bases populares.

Somente nesta semana, Aboul Fotouh visitou na segunda-feira o Dawah Salafista (cúpula religiosa dessa corrente) para apresentar suas ideias e plataformas eleitorais, e um dia depois Morsy e o já ex-candidato El-Shater fizeram o mesmo para mostrar seu "Projeto Renascimento".

Al-Awa também se reuniu na terça-feira passada com a Junta de Diretores da Dawah Salafista na cidade de Alexandria a fim de explicar seu programa político e sua visão de futuro para o Egito.

Por seu lado, a Frente Salafista anunciou na última quarta-feira seu apoio unânime a Aboul Fotouh ao considerá-lo "o melhor candidato islâmico", segundo o porta-voz dessa coalizão, Khaled Saeed, que contrastou o amplo consenso popular deste com o de Morsy, "limitado à Fraternidade Muçulmana”.

Contudo, o maior grupo salafista, o Partido El-Nour, não revelou sua inclinação, mas se pronunciou pelo apoio a todas as forças islâmicas a um único candidato na votação de 23 e 24 de maio, como propõem membros da Juventude da Fraternidade Muçulmana.

O segmento juvenil da Fraternidade Muçulmana, incluído o grupo chamado Grito de Fraternidade, lançou uma iniciativa para alcançar um consenso nacional sobre um "candidato único que seja capaz de conquistar as aspirações do povo egípcio em face dos remanescentes do regime anterior”.

Prensa Latina