Brasil em aliança estratégica com a África

O governo brasileiro avança em suas relações com a África a passo firme, com o dado da criação de um fundo especial para financiar projetos de desenvolvimento junto à entidade especializada dessa região e ao Banco Mundial.

Por Fabíola Ortiz, na agência IPS

O Brasil quer estabelecer uma associação estratégica com a África e sua ferramenta é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), junto com o multilateral Banco Africano de Desenvolvimento.

"Há um déficit de financiamento de US$ 40 bilhões para um leque de 50 projetos, diante do qual o Banco Africano de Desenvolvimento tem que aumentar sua escala de capitalização e atuação", explicou o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Porém, esta cooperação não deve ser apenas entre as entidades públicas, mas também deve se dar entre bancos privados no mercado de capitais, acrescentou.

O anúncio da aliança foi conhecido durante o seminário "Investir na África: oportunidades, desafios e instrumentos de cooperação econômica", organizado no dia 3 no Rio de Janeiro pelo BNDES, que reuniu delegados de instituições de desenvolvimento, empresários e personalidades como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011).

Nesse contexto, o presidente do banco BTG Pactual, André Esteves, também anunciou o lançamento de um fundo de capital de risco no valor de US$ 1 bilhão para investimentos na África. "Será a maior contribuição privada para investimentos nesse continente" e uma demonstração de afinidade do empresariado com esta estratégia governamental, destacou.

Os desafios da África são muitos. É preciso integrar o continente tanto em transporte, portos e ferrovias quanto em telecomunicações, gestão de recursos naturais como água e desenvolvimento energético e na luta pela segurança alimentar, afirmou o vice-presidente para a África do Banco Mundial, Makhtar Diop.

Para aumentar sua competitividade no contexto mundial e resolver o déficit de infraestrutura regional, a África precisa de pelo menos US$ 68 bilhões até 2020, segundo cálculos do Programa de Desenvolvimento de Infraestruturas na África (Pida). O Banco Mundial apoia o Pida, formulado pela União Africana com a Organização das Nações Unidas e a Nova Aliança para o Desenvolvimento da África. "Trabalhamos juntos para incrementar o programa, que é uma janela de oportunidades para os países mais pobres", acrescentou Diop.

O diretor do Banco Africano de Desenvolvimento, Alex Rugamba, explicou à IPS que o "Pida cobre os setores de transporte, energia, recursos hídricos e as tecnologias da informação e comunicação (TIC). Foi desenhado para um período de 30 anos, pois sem infraestrutura não seremos capazes de atender a meta de crescimento de 6% da economia do continente". Rugamba entende que, para haver crescimento sustentado nas próximas décadas, é preciso priorizar este programa. Apenas na área energética são necessários US$ 40 bilhões em investimentos, ressaltou.

As exportações brasileiras com destino à África passaram de US$ 2,4 bilhões em 2002 para US$ 12,2 bilhões no ano passado, enquanto o intercâmbio total de compra e venda saltou de US$ 4,3 bilhões para US$ 27,6 bilhões no mesmo período. Diop e Rugamba concordam que o Brasil desempenhará um papel de grande relevância no incremento e na consolidação dos investimentos em infraestrutura na África. "O Brasil tem experiência no processo de controle dos recursos hídricos, está adiantado no campo da energia limpa desta fonte, com grandes centrais instaladas e em construção, e conta com excelente trajetória na mineração e produção de petróleo", apontou Diop.

A África é um mercado novo, disse a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, ao ressaltar que a empresa está presente em Angola, Namíbia, Líbia e Nigéria. Acrescentou que ultimamente "foram descobertas importantes reservas em Gana e Uganda, enquanto a produção na Nigéria hoje é de 58 mil barris (de 159 litros) de petróleo por dia e em Angola de dois mil barris/dia".

O presidente da mineradora Vale, Murilo Ferreira, destacou que esta empresa tem investimentos no valor de US$ 7,7 bilhões em nove países africanos, com projetos em cobre, carvão, ferro e níquel. Ferreira ampliou a informação sobre investimentos gerais na África ao informar que em Moçambique estão sendo construídos 900 quilômetros de ferrovias e um porto de águas profundas.

"É uma visão de longo prazo e queremos alcançar uma forma sustentável em relação ao meio ambiente e a responsabilidade social", indicou Ferreira. "Precisamos aumentar o diálogo com a sociedade local, pois não queremos ficar como imperialistas. Estamos dispostos a atender as reclamações de cada lugar onde atuamos, pois não somos perfeitos e às vezes nos equivocamos. É preciso ter humildade para reconhecer os erros", acrescentou o presidente da Vale.

Por sua vez, Lula exaltou a ação do Brasil para estreitar laços e cooperar com as economias africanas. Este é "um momento que requer audácia para construir uma nova África", declarou. "Paz, democracia, crescimento e distribuição da riqueza são as marcas registradas da África para o Século 21. A hora é de união e solidariedade. Hoje existe um mar de possibilidades para serem aproveitadas pelos brasileiros, por outros sul-americanos e africanos", enfatizou. Lula afirmou que não se pode ver a África "com um olhar do passado, como simples fornecedora de minerais e gás". "É preciso buscar sócios africanos. Não queremos hegemonia, mas alianças estratégicas", defendeu.

Fonte: Envolverde