Ato nesta quarta condena julgamento de universitários da USP

Estudantes da Universidade de São Paulo (USP) protestam, na quarta-feira (16), contra os processos administrativos movidos para punir dezenas de universitários envolvidos na ocupação da reitoria, em novembro de 2011. Nesse mesmo dia, serão ouvidos os primeiros estudantes intimados pela USP, a depor na Corregedoria da USP, por conta da ocupação.

O ato terá concentração a partir das 9h, em frente à Reitoria. Às 10h, haverá uma caminhada em direção ao local dos inquéritos na Rua Alvarenga, nas imediações da Cidade Universitária.

O grupo de manifestantes voltará para a Reitoria, por volta das 14h, para um ato-debate sobre a questão dos processos.

A Reitoria foi procurada para confirmar o início do julgamento de 54 universitários intimados, na Corregedoria da USP, mas não retornou. Segundo relato dos estudantes envolvidos, essa primeira fase do julgamento acontecerá até o dia 22. Até então, cerca de 30 alunos receberam intimações. Os próximos depoimentos estão marcados para o dia 30 de maio e 16 de junho.

O estudante de Letras Fernando Pardal, 28 anos, é um dos que vão depor amanhã. "Recebi a intimação em meados de abril. Tive um mês para preparar minha defesa. O que nos causa estranheza é que a reitoria é quem convoca os depoimentos e os integrantes da comissão processante que vai ouvi-los. Não há isenção nessa comissão", disse ao Vermelho o universitário que, assim como os demais 'acusados', conta com uma equipe de advogados voluntários de partidos e movimentos sociais.

Pardal também lembra que toda a base dos processos administrativos são os boletins de ocorrência registrados no dia da ação de reintegração de posse. "Normalmente é aberta uma sindicância antes do processo administrativo. O que não aconteceu com a gente. Já foram abertos de cara os processos administrativos. Agora, contamos com a solidariedade de alguns professores que já se prontificaram a ser nossas testemunhas. Mas até isso dependemos da aprovação da Reitoria. Eles é que decidem se vão aceitar ou não nossas testemunhas", lamenta o estudante, que prefere não dar detalhes sobre o que ocorreu durante a reintegração de posse.

Histórico

Os protestos começaram quando três estudantes que fumavam maconha na Cidade Universitária foram presos pela Polícia Militar que faz o patrulhamento no campus, após alguns episódios violentos no local – o mais grave resultou na morte do estudante Felipe Ramos de Paiva, 24 anos, em 18 de maio.

Depois da prisão dos três universitários começou uma onda de protestos contra a presença da PM dentro do campus Butantã, zona Oeste de São Paulo. à Corregedoria da USP. As primeiras inquirições ocorrem até o dia 22. No total, 54 estudantes estão sendo processados e correm sérios riscos de expulsão – ou, nas palavras da reitoria, eliminação – da universidade.

Em entrevista à grande imprensa hegemônica, a reitoria chegou a declarar que os processos administrativos em andamento "dizem respeito a ações ilícitas, como invasão, depredação de bem público, vandalismo, supressão de documentos, impedimento do direito de ir e vir de professores, alunos e funcionários, entre outros”.

Segundo o grupo de advogados de defesa, as acusações estão previstas no artigo 250 do Regimento Disciplinar da USP. A normativa foi definida pelo Decreto 52.906, baixado pelo então governador-interventor de São Paulo Laudo Natel em 27 de março de 1972, durante a ditadura militar. O documento classifica como “infração disciplinar”, entre outras, a prática de ato atentatório à moral e aos bons costumes, a promoção de manifestações e propaganda político-partidária, a afixação de cartazes fora dos locais a eles destinados ou o apoio a ausências coletivas nos trabalhos escolares.

Por sua vez, a Constituição Federal estabeleceu garantias individuais, como a liberdade de manifestação e organização política. Portanto, o regimento interno afronta a Constituição, que é a lei maior do país e é a que vale.

Deborah Moreira
Da redação do Vermelho S. Paulo