João e José
João acordou bem cedo e a manhã estava fria e chuvosa. Sequer dormira tamanha era sua ansiedade. Aguardou aquele dia durante muito tempo. O momento chegaria e seria exatamente à noite.
Por Daniel Ilirian Carvalho
Publicado 18/05/2012 15:53

Sabia que precisava trabalhar como normalmente fazia em todos os outros dias. Professor responsável que era, bem quisto entre os colegas e muito admirado pelos alunos. Mas como era passional! O futebol lhe tirava do sério e como isso o incomodava. Pensava consigo mesmo que merecia um desconto, afinal, dedicação não faltava.
Os dias anteriores foram de minucioso planejamento das aulas, mas principalmente naquele dia, pois sabia que a concentração não seria a mesma. João chegou à escola tentando mostrar tranqüilidade. Quase indiferença.
– Professor João, pronto pra perder hoje?
– Professor Marcos, estou concentrado num exercício de interpretação de texto… Isto não perco de vista!
– Ha,ha,ha, nota-se que está com medo heim?!
Marcos ensinava matemática além de ser um brincalhão de primeira ordem e adorava discutir com João. Porém João procurou passar incólume à gozação. Então as aulas começaram…
Com muito esforço João conseguiu a atenção necessária a um docente que se preze e os alunos nada perceberam. Responderam todas as questões de interpretação. Mas ao fim das aulas João se esqueceu de tudo. Mal se despediu dos colegas e tomou as ruas para o caminho de casa. Chegando a seus aposentos foi preparar o jantar, quando o telefone tocou:
– João, está ocupado?
– Sim, Mariana! Faço o jantar!
– Você pode ficar com o José esta noite?
– Porque não avisou antes?
– Tive um imprevisto, João! Pode ou não?
– Ok, tudo bem…
– Então passe em casa para buscá-lo, por favor.
João saiu correndo de casa. Seu filho José tinha oito anos e aprendia a lidar com o divórcio de pouco mais de um ano. Segurando firme na mão de José, João estava desesperado, o jogo logo ia começar. Pegaram um táxi e em 15 minutos estavam em casa. José pouco sabia sobre futebol e tão pouco daquela partida. Apenas observava o pai naquela loucura e achava engraçado. Ao fim do jantar João disse:
– Filho, você não gosta de futebol, não é?
– Não sei pai…
– Quer ver este jogo comigo?
– Quem vai jogar, pai?
– Corinthians e Vasco!
– Tá bom , pai…E pra quem você vai torcer?
O juiz apitou. João e José passaram a noite lado a lado com os olhos fixos na TV, enquanto seus corações pulsavam rapidamente…
* Daniel Ilirian Carvalho é historiador