África: Benin e Burkina Faso, de volta às origens

De conquistada a independência, vários países africanos decidiram mudar os nomes impostos pelos colonialistas por outros mais autóctones, coerentes com seus valores históricos ou culturais.

Duas dessas nações – antes Daomé e Alto Volta – fizeram parte do império colonial denominado África Ocidental Francesa, forjado por Paris desde o século 19, um sistema de exploração que culminaria século e meio mais tarde, depois de uma longa e tenaz luta emancipadora.

A população do atual Benin – Daomé na escura noite colonial – se originou a partir de migrações iorubás e outros grupos vindos do leste, criando comunidades com estruturas sociopolíticas peculiares, que trabalhavam a terra pacificamente e praticavam suas crenças animistas.

Os contatos com os europeus datam do século 14, quando chegaram à sua costa os primeiros navegantes portugueses, alterando as normas de convivência da população nativa. Dois séculos depois, os lusitanos começaram o tráfico de escravos que já realizavam desde muito antes em outras regiões da África Ocidental.

O território beninense foi um dos mais duramente explorados pelo comércio de escravos que eram trasladados à América e ao Caribe, e vendidos aos donos de plantações. No chamado Novo Mundo, os escravos sofriam todo tipo de crimes e abusos que provocaram levantamentos antiescravistas.

Entre 1552 e 1557, o comércio de escravos se originou em Porto Novo, atualmente a capital constitucional beninense, instigado pelo português Eucaristus de Campos, um homem carente de escrúpulos que acumulou uma grande fortuna com o tráfico. Nessa época o tráfico de escravos alimentou as rivalidades entre as metrópoles europeias.

Discrepâncias entre os reinos africanos disseminados no território levaram o rei de Porto Novo a reclamar em 1861 o protetorado da França com o fim de obter amparo contra o rei de Lagos.

O decreto de julho de 1883 afirmou o protetorado francês sobre o território, e ao fundar-se oficialmente em 1904 a África Ocidental Francesa, Benin foi proclamada colônia com o nome de Daomé e integrante dessa entidade.

No Alto Volta

As primeiras notícias sobre o país remontam aos séculos 11 e 12, quando os mossi se estabeleceram definitivamente no território e consolidaram sua organização social. Este povo chegou do leste do atual Níger, e organizou diferentes Estados que se destacaram por sua poderosa estrutura política, social e militar.

Não obstante, similarmente às demais nações da região, a população foi também vítima do comércio de escravos que provocou a perda de milhares de homens e mulheres em plena capacidade física e mental. Traficantes ingleses, franceses, portugueses, espanhóis, holandeses e outros obtiveram altos benefícios com esse negócio.

Quando em finais do século 19 se produziu a conquista da África Ocidental por parte da França, os dois reinados mais importantes que ocupavam o território eram o império Mossi, governado por Naba de Ouagadougou, e o reino de Yatenga. Uma missão militar estabeleceu o protetorado sobre este último.

No império Mossi, o domínio estrangeiro encontrou inicialmente dificuldades. Perante a resistência oferecida pelo mouro Naba, as tropas francesas efetuaram uma ofensiva que culminou com a criação do protetorado em 1896. Os invasores só puderam atingir a vitória pela superioridade de suas armas.

Após a proclamação oficial da África Ocidental Francesa, Alto Volta foi constituído como colônia, posteriormente dissolvida e seu território incluído entre as colônias da Costa de Marfim, Sudão Francês (hoje Mali), e Níger. Depois da 2ª Guerra Mundial, este território foi reintegrado e reapareceu a colônia de Alto Volta.

Durante as guerras mundiais, a 1ª (1914-1918), e a 2ª (1939-1945), africanos de ambos os países e de outras nações participaram das hostilidades servindo heroicamente ao exército francês. No entanto, essa cooperação não serviu para que a metrópole examinasse a possibilidade de conceder independência às colônias.

Mas o conflito mundial agiu como detonante para mobilizar os povos submetidos a que, mediante ações políticas ou armadas, lutassem por sua liberdade. Alcançada a independência, Daomé (1960) se converteu em Benin; e Alto Volta (também em 1960) em Burkina Faso. Acabava assim a escravatura colonial.

Prensa Latina

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