Egito terá eleição presidencial histórica nesta quarta

O Egito vai às urnas nesta quarta e quinta-feira, dias 23 e 24, para escolher o novo presidente. Trata-se do primeiro pleito presidencial após a revolução que derrubou Hosni Mubarack, que passou mais de 30 anos no poder no país.

Esta eleição é crucial para definir o caminho que o país tomará após uma campanha dominada pelos islamitas, vencedores das eleições legislativas, e pelos candidatos do antigo governo – comandado por Hosni Mubarack – que se apresentam como caminho para garantir um retorno à estabilidade.

País com a maior população do mundo árabe, com 82 milhões de pessoas, o Egito foi o segundo país da região, depois da Tunísia, a derrubar seu presidente sob a pressão de uma contestação popular.

"Esta eleição é definitivamente o evento político mais importante para o Egito desde a revolução" de janeiro e fevereiro do ano passado, disse Mustafá Kamel Sayyed, professor de ciência política na Universidade do Cairo.

Entre os favoritos estão o ex-chefe da Liga Árabe e ex-chanceler do governo de Mubarak, Amr Moussa, o último primeiro-ministro do país, Ahmad Chafiq, o islamita independente, Abdel Moneim Aboul Futuh, e o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohammed Morsi.

Moussa e Chafiq concentraram suas campanhas na experiência e no retorno da estabilidade, apesar de buscarem um distanciamento da figura de Mubarak, que aguarda o resultado de seu julgamento para 2 de junho.

Futuh promete um Islã moderado, apoiado por uma coligação heterogênea que inclui fundamentalistas salafistas e jovens militantes laicos. Morsi, por sua vez, beneficia-se da forte rede de apoio da Irmandade Muçulmana, apesar de vários observadores expressarem reservas sobre a possibilidade de a Irmandade, que já domina o Parlamento, também conquistar a Presidência.

Outros candidatos, que dispõem de poucos meios, esperam ter um desempenho honroso, como Hamdine Sabahi, representante da esquerda Nasser, o islamita Selim al Awa ou o jovem ativista dos direitos Humanos Khaled Ali.

Entre os candidatos, nenhum representante da comunidade cristã copta (de 6 a 10% da população) e nenhuma mulher. O movimento dos "jovens da revolução", que iniciou a revolta que derrubou Mubarak, não apresentou candidato próprio e se dispersou entre os vários nomes conflitantes. 

Recentemente, contudo, vários jovens ativistas e universitários que integraram o movimento, organizaram protestos pelo país para pedir aos eleitores que boicotassem os candidatos considerados remanescentes, como Moussa e Ahmad Chafiq.

O primeiro turno será seguido por um segundo, em 16 e 17 de junho, caso nenhum candidato obtiver a maioria absoluta. As Forças Armadas, que governam o país desde a queda de Mubarak, prometeram entregar o poder aos civis no final de junho.

As ruas do Egito estão cobertas de cartazes eleitorais e banners, enquanto os candidatos viajam sem parar por todo o país. Além disso, nesta campanha os egípcios puderam acompanhar o primeiro grande debate televisionado entre os candidatos presidenciais Moussa e Futuh.

"É uma experiência completamente nova para nós. Ver duas personalidades que tentam convencer as pessoas a votarem nelas, ninguém poderia ter imaginado isso há dois anos", afirmou Mohammed Saber, que acompanhou o confronto em um café no Cairo.

Uma dúzia de candidatos foi impugnada por várias razões de ordem técnica ou legal, de acordo com a comissão eleitoral. Entre eles estava o ex-chefe dos Serviços Secretos de Mubarak, Omar Suleiman, o candidato inicial da Irmandade Muçulmana, Khairat Al Chater, e o salafista Hazem Abu Ismail.

A ausência de uma Constituição faz com que os poderes do próximo presidente, que terá um mandato de quatro anos, ainda sejam vagos. A Constituição vigente durante o governo de Mubarak foi suspensa, e a próxima ainda não começou a ser desenhada.

Em meio a especulações sobre o resultado que deve sair das urnas, as ruas permanecem tranquilas e sem incidentes. Mas em se trantando de Egito, segundo Hassan Nafeaa, professor de Ciência Política da Universidade do Cairo, tudo pode acontecer.

"Se Amr Moussa ganhar, será interessante ver como reagirão os revolucionários que pressionaram pela saída de Mubarak. E como reagirão, também, os islamistas. Não pode-se descartar protestos nas ruas. Tudo pode acontecer no Egito de hoje".

Com agências