Egito inicia eleição presidencial histórica

Pela primeira vez no Egito, desde a renúncia do ex-presidente egípcio Hosni Mubarak, há 15 meses, 51 milhões de eleitores vão às urnas nesta quarta (23) e quinta (24) para escolher o futuro presidente. Os primeiros resultados vão ser anunciados no domingo (27). Caso seja necessário, o segundo turno ocorrerá nos dias 16 e 17 de junho. No total, 12 candidatos disputam as eleições.

Egípcio passa por muro repleto de cartazes de canditados à presidênia / Foto: AFP

Desde a renúncia de Mubarak, em fevereiro de 2011, uma Junta Militar governa o Egito. Manifestantes, no entanto, queixam-se do governo informando que há privilégios aos militares e dificuldades para pôr em prática medidas democráticas.

Além de policiais, as autoridades militares egípcias enviaram 20 mil soldados e oficiais para ajudar a garantir a segurança enquanto decorrem as eleições. Mais de 14 mil juízes e um grupo de observadores internacionais vão supervisionar o processo. Autoridades brasileiras acompanham o processo e devem se manifestar oficialmente depois do segundo turno.

Há, ainda, dúvidas sobre o processo de transição política no país. O marechal Hussein Tantawi, chefe da Junta Militar, disse que pretende fazer a transmissão do cargo ao presidente eleito em junho.

Estas são as primeiras eleições livres em 60 anos no país. A participação popular é grande. Todo mundo discute política nas ruas do Cairo. Nesta manhã, em frente aos colégios eleitorais já se formaram longas filas duas horas antes do início do pleito. Junto ao colégio de ensino médio Abdin al Sanawat, no centro do Cairo, uma grande fila de homens e mulheres esperava pacientemente a sua vez para votar em um ambiente de total normalidade.

País mais populoso do chamado mundo árabe, o Egito tem 82 milhões de habitantes e 50 milhões de eleitores, grande parte vivendo na extrema pobreza. Eles escolherão um entre 12 candidatos, depois de dez nomes terem sido rejeitados e uma pessoa ter desistido de concorrer às urnas. Grnade poarte da No país, situado no Norte da África, a votação termina por volta das 20 horas (15 horas em Brasília).

Embora as eleições ocorrem no momento em que o clima de tensão e revolta ainda persiste na região, o clima é de otimismo. Muitos eleitores falam da alegria que sentem por escolher livremente, pela primeira vez, o nome do presidente da república.

Um homem diz que, nos 60 anos de regime militar, o país afundou em uma crise econômica e social profunda e que hoje está preocupado com a falta de trabalho e a violência. Uma mulher que cobre o rosto com o hijab afirma que votará em um candidato que entende os problemas do país e que vai governar para toda a população. Não apenas para um pequeno grupo.

Os principais candidatos que estão na disputa são o secretário-geral da Liga Árabe e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de Mubarak Amr Moussa, o último primeiro-ministro de Mubarak, Ahmad Chafiq, um religioso muçulmano, mas que se apresenta como independente, Abdel Moneim Abul Foutouh, e o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohammed Morsi.

Também concorrem à Presidência da República no Egito Hamdine Sabbahi (do partido Nnacionalista Árabe), o religioso muçulmano Selim Al Awa e o ativista de direitos humanos Khaled Ali. De acordo com analistas políticos, o resultado das eleições está nas mãos dos eleitores indecisos.

Na última pesquisa de opinião, elaborada pelo instituto Baseera, em 16 de maio, 2,2 mil pessoas foram ouvidas. Shafiq aparece na frente com 19,3%, seguido por Mussa, com 14,6%, e Abul Fotouh com 12,4%. Mas 33% dos entrevistados se disseram indecisos.

Mudanças e desafios

Excepcionalmente, o novo presidente será eleito sem que haja no país uma Constituição definindo seus poderes, por causa de divergências políticas. O Conselho Supremo das Forças Armadas, que assumiu o controle do país desde a queda de Mubarak, decidiu que a Constituição deveria ser elaborada antes de o novo presidente tomar posse, em 30 de junho, mas isto parece improvável.

Entretanto todos os partidos políticos parecem concordar que os poderes do presidente devem ser reduzidos para evitar o surgimento de um novo Mubarak. A eleição está sendo realizada sob regras introduzidas vários meses após sua deposição. O mandato foi reduzido para quatro anos, e o presidente eleito só pode se candidatar a dois mandatos no máximo.

Os candidatos estão autorizados a gastar um máximo de 10 milhões de libras egípcias (pouco mais de R$ 3 milhões) na campanha para o primeiro turno, e até 2 milhões de libras egípcias no segundo turno. Financiamentos externos são estritamente proibidos.

Este será o segundo pleito realizado no Egito desde a derrubada de Hosni Mubarak. No final de novembro passado, os egípcios foram em massa às urnas para as eleições parlamentares, impulsionados pela nova crença de que seus votos agora faziam sentido.

O novo presidente terá de enfrentar imensos desafios, além de herdar um legado de corrupção, pobreza, desemprego galopante e problemas de segurança. A situação econômica é um dos entraves do novo líder. Mais de 40% dos egípcios vivem abaixo da linha da pobreza, a incerteza política levou ao colapso dos investimentos estrangeiros, o fechamento de fábricas, o aumento do desemprego e da erosão das reservas externas.

O investimento direto estrangeiro caiu de US$ 6,4 bilhões positivos em 2010 para US$ 500 milhões negativos no ano passado. O turismo, importante gerador de receita para o país, também caiu em um terço.

Externamente, o novo líder terá o desafio de manter boas relações, ao mesmo tempo, tanto com países ocidentais como árabes. As relações com Israel são também um tradicional problema espinhoso. O Egito tem um acordo de paz com Israel, que vinha sendo respeitado por Mubarak. Mas muitos na sociedade egípcia condenam o acordo e querem sua revisão.

Com agências