Sistema financeiro da Polônia ameaça entrar em colapso

Enquanto crescem as especulações de que a Grécia poderá deixar a zona do euro, a Polônia se posiciona discretamente para mais um assalto ao zloty. Ela aumentou as taxas de juros na semana passada e está intervindo nos mercados monetários para sustentar o valor da moeda local.

O governo também luta para conter um déficit de gastos muito elevado que poderá assustar os mercados, com o dinheiro internacional mais uma vez fugindo dos mercados emergentes para portos seguros como o franco suíço.

Até o ministro das Finanças da Polônia advertiu sobre o perigo de uma corrida à moeda. Ainda não aconteceu de fato, mas os problemas poderão se intensificar se a crise grega não for conduzida de modo convincente.

O zloty caiu mais de 3,5% em relação ao euro desde o dia 9, enquanto uma eleição inconclusiva na Grécia levantou temores de que o país abandone seus acordos de resgate e declare a moratória das dívidas.

A moeda polonesa poderia sofrer um “significativo” enfraquecimento se a Grécia deixar a zona do euro de maneira descontrolada, disse o ministro das Finanças, Jacek Rostowski, a um canal de televisão polonês no dia 16. “Precisamos evitar um efeito dominó se a Grécia sair do euro”, ele disse. “Esse é nosso principal postulado.” Ele acrescentou que a questão chave era se a saída seria controlada.

O zloty se desvalorizou acentuadamente contra o euro e o dólar no segundo semestre do ano passado, enquanto o dinheiro internacional fugia dos mercados emergentes em meio a temores de uma moratória da dívida na zona do euro.

O banco central da Polônia foi obrigado e intervir diversas vezes nos mercados monetários para conter o ritmo do declínio. Várias privatizações importantes, como a de uma participação no maior banco, PKO, também tiveram de ser adiadas, enquanto o dinheiro estrangeiro deixava a Bolsa.

O valor do zloty se recuperou este ano enquanto temores de uma moratória grega diminuíam, antes de começar a desmoronar quando os gregos não conseguiram formar um governo após as eleições de 6 de maio.

Então esse não é um problema novo para a Polônia, onde a taxa de câmbio fraca já causou problemas para empréstimos imobiliários e corporativos, muitos dos quais são em moeda estrangeira.

Além de uma aversão geral aos mercados emergentes em tempos de crise, os investidores temem o déficit fiscal muito alto do país, que atingiu 7,9% do PIB em 2010. Isso ameaçou elevar a dívida pública (relativamente baixa) a um nível insuportável, e parte da melhora do zloty este ano se limitou a um pacote de reformas radicais anunciado no final de 2011.

O primeiro-ministro recém-reeleito, Donald Tusk, revelou um pacote de austeridade que prometia atacar muitos dos problemas de gastos que a Polônia evitou desde a queda do socialismo em 1989, como um caro sistema de aposentadorias e pagamentos de benefícios sociais supergenerosos. A ideia é cortar o déficit abaixo de 3% do PIB no próximo ano.

Firme até agora

Restam temores de que o pacote de austeridade possa se diluir se as medidas necessárias se mostrarem politicamente inaceitáveis, embora até agora o governo tenha permanecido firme; a primeira fase da reforma das aposentadorias foi aprovada pelo Parlamento em 11 de maio, por exemplo.

Qualquer hesitação sobre a reforma seria brutalmente punida pelos mercados já desconfiados do zloty. Em curto prazo, duas coisas poderiam ajudar a evitar que sua redução de valor se torne uma quebra: o Ministério das Finanças disse esta semana que venderia euros no mercado à vista para sustentar o valor do zloty, retomando a tática usada no ano passado. E o banco central aumentou as taxas de juros, em uma medida condenada como desnecessária pelo FMI e pelo próprio governo da Polônia.

Em 9 de maio o banco central aumentou sua taxa referencial de intervenção em um quarto de ponto, para 4,75%. Ele justificou a medida como necessária para conter a inflação de cerca de 4% ao ano (contra uma meta de 2,5%), com a economia mantendo um crescimento relativamente saudável.

Segundo o governador do banco central, Marek Belka, foi uma “normalização” da política monetária, depois de um período de taxas de juros reais negativas.

O FMI não se convenceu. “Diante da desaceleração econômica, a queda projetada na inflação e as pressões salariais contidas, aumentos nas taxas de juros não parecem garantidos”, ele disse em uma declaração em 16 de maio.

Esperamos que o crescimento diminua para 2,6% este ano, respeitável comparado com o resto da Europa Central, mas abaixo dos 4,3% de 2011. A inflação deve cair de 4,3% para 3,5%.

O vice primeiro-ministro da Polônia disse na semana passada que o aumento dos juros é uma punhalada nas costas da economia polonesa.

Como parte de um esforço concertado para sustentar o zloty, o aumento da taxa de juros poderá fazer mais sentido que as razões declaradas. Na verdade, se a Grécia declarar moratória de suas dívidas e deixar o euro, parecem inevitáveis os problemas para o zloty.

Um otimista como o ministro das Finanças Rostowski admite que a moeda polonesa recuperaria valor no próximo ano, enquanto a situação na zona do euro se estabilizar e o déficit de gastos da Polônia diminuir. Mas nem ele está mais tentando disfarçar a escala da ameaça iminente.

Fonte: CartaCapital