Islamita e aliado de Mubarak se enfrentam no 2º turno egípcio

A presidência do Egito deverá ser disputada por um candidato islamita e uma figura do antigo regime. Tratam-se do representante da irmandade muçulmana, Mohamed Morsi, e do último primeiro-ministro de Hosni Mubarak, Ahmed Shafiq. Os resultados ainda são preliminares e foram anunciados nesta sexta-feira pela poderosa irmandade.

A informação não foi confirmada pela Comissão Eleitoral, que deve anunciar os resultados oficiais apenas a partir de domingo.

No início da tarde, enquanto os resultados chegavam de todas as províncias, alguns meios de comunicação egípcios relataram uma disputa acirrada entre Shafiq e o candidato de esquerda Hamdeen Sabbahi pelo segundo lugar.

"Haverá um segundo turno entre Mohammed Morsi e Ahmad Shafiq, de acordo com os números que temos", afirmou a Irmandade em seu site oficial, com base "na contagem de 90% dos votos".

Após a apuração de metade das urnas, o grupo havia indicado que Morsi liderava com 30,8%
dos votos, seguido por Shafiq (22,3%), Sabbahi (20%), o islamita moderado Abdel Moneim Abul Futuh (17%) e o ex-secretário da Liga Árabe Amr Moussa (11%).

Os números da Irmandade são compilados a partir dos resultados enviados progressivamente pelos seus próprios delegados presentes nos centros de apuração. O segundo turno da primeira eleição presidencial desde a queda de Mubarak, em fevereiro de 2011, está previsto para os dias 16 e 17 de junho.

Um porta-voz da equipe de campanha de Shafiq, Karim Salem, não foi capaz de confirmar os números da Irmandade, mas disse que estava "confiante" de que o candidato estaria no segundo turno.

Considerado "o candidato substituto" da Irmandade Muçulmana, após o veto pela comissão eleitoral de sua primeira opção, Khairat al-Chater, Morsi tem se beneficiado da base militante da poderosa irmandade.

A Irmandade, oficialmente proibida há mais de 50 anos no Egito e pesadelo do regime de Mubarak, já havia vencido as eleições legislativas de janeiro.

Ahmad Shafiq, por sua vez, centrou a campanha na segurança e estabilidade, com o objetivo de reunir os egípcios descontentes com a agitação política que derrubou Mubarak.

Morsi e Shafiq são os candidatos menos consensuais entre as 12 personalidades que disputam à presidência do país mais populoso do mundo árabe. O ex-primeiro-ministro é odiado pelos partidários da "revolução", para quem sua eventual vitória significaria a morte de seus ideais.

Eles inclusive prometem mais protestos contra a persença do homem de Mubarak no segundo turno. O ex-comandante do Estado-Maior da Força Aérea é considerado por muitos como o candidato do antigo regime e dos militares, no poder desde a queda do "rais".

Depois de décadas de eleições forjadas, esta é a primeira vez que os egípcios escolhem livremente o seu chefe de Estado. "É um sentimento de alegria e orgulho. Independente do resultado, os egípcios estão muito orgulhosos por terem realizado suas primeiras eleições livres e justas", disse Ahmed Helmy, pediatra, nesta sexta-feira no Cairo.

"O Egito prende a respiração", afirma a manchete do jornal do partido liberal Al-Wafd, refletindo o sentimento geral. Quinta-feira à noite, horas antes do fechamento das urnas, o presidente da Comissão Eleitoral, Farouk Sultan, estimou o comparecimento em 50%, indicando que a eleição foi realizada de forma "calma e organizada".

A eleição deve acabar com um período de transição marcado por protestos e violência. O Conselho Militar, acusado pelos ativistas pró-democracia de continuar com política de repressão do antigo regime, prometeu entregar o poder antes do final de junho.

Os poderes do futuro presidente, no entanto, permanecem pouco claros, a Constituição vigente durante o regime Mubarak foi suspensa e a elaboração da futura lei fundamental ainda não começou.

O chefe de Estado terá de enfrentar uma grave crise econômica, que combina as extremas desigualdades sociais herdadas à desaceleração acentuada da atividade, particularmente no setor do turismo.

Aos 84 anos, Mubarak, que governou por quase 30 anos, foi hospitalizado perto de Cairo. Julgado pela morte de manifestantes durante a revolta e acusado de corrupção, ele vai saber o seu destino em 2 de junho. A promotoria pediu a pena de morte.

Com AFP