Rússia vetará iniciativas de intervenção militar na Síria

A Rússia vetará qualquer iniciativa destinada a uma intervenção militar estrangeira na Síria que seja levada ao Conselho de Segurança da ONU, assegurou nesta quarta-feira (30) o vice-ministro das Relações Exteriores do país, Gennady Gatilov.

"Sempre dissemos que estamos categoricamente contra qualquer ingerência no conflito sírio, porque isso só agravaria a situação e teria consequências imprevisíveis tanto para a Síria como para toda a região", afirmou Gatilov.

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O russo respondeu assim às declarações do presidente francês, François Hollande, de que não exclui a possibilidade de uma intervenção armada para resolver o problema sírio. Ao mesmo tempo, Hollande ressaltou a preferência por uma outra solução, manifestando-se a favor de intensificação de sanções contra o governo sírio.

Gatilov também apontou que seria precipitado convocar uma reunião do Conselho de Segurança para adotar novas sanções contra o regime de Assad, tal qual propôs o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle.

"A aprovação de novas medidas de pressão seria precipitada neste momento. É preciso dar uma oportunidade à realização do plano de paz de Kofi Annan e é importante que todos os jogadores externos, incluídos nossos parceiros ocidentais, exerçam influência de maneira oportuna sobre a oposição (síria)", afirmou Gatilov.

Moscou acredita ser suficiente a declaração para a imprensa aprovada pela sessão urgente do Conselho de Segurança, que se reuniu após o massacre na localidade de Al Houla, na última sexta-feira (18), no qual foram assassinados mais de 100 civis.

"A declaração para a imprensa do presidente do Conselho de Segurança sobre os trágicos fatos de Al Houla foi um sinal suficientemente forte para as partes sírias e é uma reação suficiente do Conselho aos últimos eventos neste país", disse Gatilov.

O vice-ministro da Chancelaria russa manifestou que a comunidade internacional deve estudar a aplicação de novos mecanismos de controle para garantir o cumprimento do plano de regulação do conflito do enviado especial da ONU para a Síria, Kofi Annan, em vigor desde 12 de abril.

"É possível que seja necessário analisar mais uma vez como colaboram os observadores da ONU e pensar em um mecanismo adicional para implementar o plano de Annan", disse Gatilov.

Conselho de Segurança

O Conselho de Segurança volta a analisar nesta quarta a crise na Síria e receberá informações em primeira mão sobre a visita de Kofi Annan a Damasco. A sessão foi convocada para repassar o trabalho da missão de supervisão das Nações Unidas enviada a esse país árabe com a tarefa de monitorar a aplicação do plano de paz.

Os 15 membros do órgão da ONU encarregado da paz e da segurança internacional serão atualizados sobre os últimos e complexos acontecimentos e os detalhes da conversa entre Annan e o presidente sírio, Bashar al-Assad.

A reunião ocorre em meio às repercussões pelo massacre, na sexta-feira passada,  no povoado de Houla, onde morreram mais de uma centena de pessoas, entre elas 32 crianças. A matança foi condenada pelas autoridades sírias, que responsabilizaram grupos terroristas armados pela ação.

Em uma declaração difundida ontem, o Conselho de Ministros afirmou que o crime faz parte da escalada terrorista dirigida a debilitar a resistência e unidade nacional da Síria e a torpedear o plano de Annan.

Por outro lado, várias potências ocidentais expulsaram ontem aos representantes diplomáticos sírios, em uma ação coordenada para aumentar a pressão contra Damasco.

Rússia condena expulsão

A Rússia também qualificou nesta quarta-feira como "contraproducente" a expulsão dos embaixadores. "No contexto dos esforços internacionais para a resolução pacífica do conflito sírio (…) a expulsão dos embaixadores sírios dos principais países ocidentais nos parece um passo contraproducente", manifestou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Aleksandr Lukashévich.

Moscou entende que o Ocidente queima as pontes e fecha "canais de vital importância para trocar opiniões e influir de maneira construtiva no governo sírio para levá-lo pelo caminho do cumprimento do plano de Kofi Annan", enviado especial da ONU para a Síria.

A Rússia, nas palavras de Lukashévich, faz "todo o possível para diminuir o grau de confronto entre as partes sírias, e mantém para isso contatos intensos não só com o governo sírio, mas também com diferentes grupos de oposição".

As expulsões dos embaixadores sírios já foram anunciadas por Estados Unidos, França, Espanha, Alemanha, Japão, Canadá, Bélgica, Holanda, Japão, Suíça, Bulgária e Reino Unido, enquanto a Austrália e Turquia expulsaram de seu território as missões diplomáticas de Damasco.

O Brasil, por sua vez,  não cogita somar-se a esta iniciativa. Segundo o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Tovar Nunes, o diálogo tem que ser mantido e o Brasil não vê necessidade de declarar diplomatas sírios como personas non grata.

 Com agências