Trabalhadores rurais em manifestação cobram resposta do governo

Após a passeata que reuniu milhares de trabalhadores rurais de todo o país, na manhã desta quarta-feira (30), em Brasília, os manifestantes reunidos pela Confederação de Trabalhadores da Agricultura (Contag) estão acampados na Esplanada dos Ministérios, onde permanecem durante todo o dia aguardando resposta do governo às suas reivindicações encaminhadas na abertura do 18º Grito da Terra, ocorrido no dia 27 de abril.

Trabalhadores rurais em manifestação cobram resposta do governo - Ag. Brasil

Eles percorreram toda a Esplanada dos Ministérios, agitando bandeiras e ecoando os gritos de ordem dos dirigentes sindicais que puxavam a marcha do alto do carro de som. Em frente ao Congresso Nacional, fizeram uma manifestação contra a violência no campo, citando todas as lideranças do campo e da floresta que foram assassinadas na luta pela terra e por melhores condições de vida e trabalho para a população rural. Foram expostas cruzes brancas no gramado do Congresso Nacional para representar todas as vítimas e denunciar que muitos desses crimes ainda continuam impunes.

Na manifestação, eles também fizeram discursos cobrando dos parlamentares a aprovação do novo Código Florestal com os vetos e alterações da presidente Dilma Rousseff, a PEC do Trabalho Escravo, aprovada semana passada na Câmara e enviada para o Senado, e outros projetos de lei que estão aguardando votação na Câmara e no Senado.

Encontro com a presidente

Após a manifestação, os trabalhadores se acomodaram na tenda localizada nas proximidades da Catedral de Brasília. Os trabalhadores aguardam uma audiência com a presidente Dilma Rousseff para receberem o caderno de respostas à pauta de reivindicações.

A pauta entregue à presidente, intitulada “Agenda por um desenvolvimento rural sustentável e solidário”, contempla 138 propostas que expressam as principais reivindicações dos trabalhadores rurais ligados à Contag, que representam atualmente cerca de 20 milhões de homens e mulheres do campo.

O GTB 2012, em sua 18ª edição, traz reivindicações antigas como uma ampla e massiva reforma agrária e a valorização e fortalecimento da agricultura familiar. E reafirma outras demandas dos trabalhadores rurais que são apresentadas a cada edição do Grito da Terra: desenvolvimento rural com distribuição de renda e riqueza e o enfrentamento às desigualdades, garantia e ampliação dos direitos sociais e culturais com qualidade de vida no campo e nas florestas, participação e controle democrático e organização sindical, orçamento público e pautas regionais.

A vice-presidente da Contag, Alessandra Lunas, diz que “nossa pauta não é mais novidade, não precisamos mais apresentar o grito. Foram várias reuniões e diálogos com as áreas. Viemos agora discutir pontos que ainda são gargalos e que não caminharam”.

Semana de negociação

As negociações da pauta do GTB nos ministérios iniciaram no último dia 21 de maio e se encerraram nesta terça-feira (29). Nesse período, a diretoria da Contag foi recebida em 17 ministérios, desde o de Desenvolvimento Agrário, Meio Ambiente, Integração Nacional e Agricultura, até Fazenda, Trabalho, Previdência Social, Pecuária e Abastecimento e Relações Exteriores, passando por aqueles que atuam na área social como Educação, Cultura, Esportes, Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza, Saúde, Mulheres e Juventude, entre outros.

O diretor da Contag, Willian Clementino, saiu das audiência queixando-se de que as autoridades sempre alegam estar fazendo estudos para atender as demandas dos trabalhadores. “Sempre nos dizem como resposta que estão fazendo estudos, mas vemos que esses estudos nunca se concluem. Queremos que o governo se posicione mais claramente. O fato é que precisamos avançar. Não podemos esperar muito. São quase 200 mil famílias acampadas há muitos anos. São vidas que precisam ser respeitadas”.

A favor do MDA

Os trabalhadores também defenderam a manutenção e fortalecimento do Ministério de Desenvolvimento Agrário. “Para atender minimamente às demandas dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, percebemos que o orçamento do ministério é muito pouco e que precisa ser incrementado. Para isso o MDA deve ser fortalecido. Estamos em situação emergencial nas regiões Sul e Nordeste do país (referindo-se à seca) e os recursos não são suficientes, além de demorarem a chegar. Nosso povo não aguenta mais esperar”, cobra Antoninho Rovaris, também da diretoria da Contag e da comissão de negociação.

Foi do ministro Pepe Vargas, do Desenvolvimento Agrário, que eles ouviram palavras de comprometimento: “Seremos ágeis. Vamos liberar as ações à medida que as demandas forem analisadas. A orientação da presidente é de descontingenciar recursos na proporção de cada necessidade”. O ministro disse ainda que gostaria de ouvir da Contag sugestões sobre a política de desenvolvimento agrário para o Brasil.

O presidente da Contag, Alberto Broch. analisou os índices de obtenção de terra, que estão cada vez menores, questionando a média dos últimos anos e o pouco investimento nas políticas de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), justamente no ano em que foi realizada a 1ª Conferência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (1ª CNATER): “Os governos anteriores acabaram com a ATER e com o Crédito Fundiário. Quando conseguimos construir uma nova lógica, nos falta orçamento”.

Para Broch, o Ministério do Desenvolvimento Agrário é estratégico: “A estruturação do MDA é necessária. A reforma agrária não anda. Precisamos produzir alimento mais barato e ter mais gente no campo”, disse, enfatizando que “viemos tratar sobre orçamento para agricultura familiar e reforma agrária e sobre a seca que assola as regiões Sul e Nordeste do país”.

De Brasília,
Márcia Xavier
Com informações da Contag