No Norte da África ao Oriente Médio, os povos estão em luta
Após a derrubada de Ben Ali e a eleição de um novo governo, os tunisínos continuam sem ver concretizadas medidas que respondam aos flagelos econômicos e sociais do país. Foi isso que disseram centenas de licenciados tunisinos que, na sexta-feira (25), terminaram protestos que duraram vários dias em frente à sede do governo, em Tunis.
Publicado 01/06/2012 16:20
A taxa de desemprego oficial na Tunísia é de 19% e cerca de um terço dos 750 mil desempregados registados tem formação Superior.
No mesmo dia, nas regiões de Ain Draham, Gabes, Sfax e Kef, organizações sociais e sindicais encerraram uma semana de reivindicações em defesa de emprego, salários, direitos e políticas de investimento, reportou a EFE.
Em Kef, no dia anterior, os protestos terminaram em confrontos com a polícia, quando a multidão tentou invadir os escritórios locais do governo. Pelo menos 17 pessoas ficaram feridas na sequência da investida das autoridades, que dispersaram o povo recorrendo a cacetetes e gás lacrimogêneo.
As ações da semana passada foram convocadas pela União Geral dos Trabalhadores Tunisianos (UGTT), que, na sequência daquelas, já anunciou paralisações gerais para 4 e 5 de junho em Kef, Yenduba e Gafsa, noticiou a Lusa.
Para a UGTT "existe um mal-estar nas bases operárias, dado o receio de que o governo não aprove aumentos salariais no momento em que o país sofre uma alta vertiginosa e histórica de preços". O descontentamento estende-se aos professores primários, que agendaram para ontem uma paralisação do setor.
Tahrir volta a encher
Já no Egito, a revolta está a ser desencadeada pela passagem para o segundo turno das eleições presidenciais do último primeiro-ministro de Hosni Mubarak, Ahmed Shafiq, que no sufrágio realizado na quarta e quinta-feira da semana passada obteve 5,5 milhões de votos, sendo apenas superado pelo candidato apoiado pela Irmandade Muçulmana, Mohamed Mursi, que obteve 5,76 milhões de votos.
Uma multidão destruiu completamente a sede de candidatura de Shafiq, segunda-feira (28), e exigiu que o ex-chefe do governo da ditadura não se apresente na segunda etapa do pleito, marcada para 16 e 17 de junho. Milhares foram nesse mesmo dia à Praça Tahrir.
A entidade organizadora diz que participaram do pleito 46% dos egípcios habilitados a votar. E a grande surpresa foi o candidato do Partido da Dignidade, Hamdeen Sabahi, que garantiu 4,82 milhões de votos.
Sabahi apresenta-se como um partidário do ex-presidente Gamal Nasser e já anunciou que vai impugnar os resultados, fundamentalmente porque, segundo a EFE, contesta a realização da consulta sem que o Tribunal Constitucional tenha se pronunciado sobre a Lei da Exclusão Política, a qual, argumenta, impediria Ahmed Shafiq de se apresentar às urnas.
Ele acrescenta que foram detectadas inúmeras irregularidades durante o ato, desde exercício de voto por pessoas não registadas, a votantes sem identificação, pressão de membros das mesas a favor de outros candidatos, um número não detalhado de votos em Sabahi colocados no lixo, permanência de defuntos nas listas oficiais, compra de votos, ausência de juizes nas assembleias de apuração ou exercício de voto por parte de membros das forças policiais e militares.
O Centro Carter e o seu fundador, o ex-presidente Jimmy Carter, consideraram o ato "encorajador", mas foram obrigados a admitir que nunca antes enfrentaram restrições à monitorização do pleito. Nenhum dos seus observadores foi autorizado a assistir às contagens nas comissões regionais.
Regimes contestados
Paralelamente ao curso dos acontecimentos na Tunísia e no Egito, no Bahrein as movimentações de massas são contra a repressão e pela derruba do regime.
De acordo com a iraniana Press TV e a venezuelana Telesur, no domingo os protestos populares recrudesceram quando foi divulgada a sentença de 15 anos de prisão para seis detidos nos protestos de Novembro.
Nos dois dias anteriores, em Saar, Dair, Salihiya e Sitra, e em bairros dos arredores da capital Manama, forças conjuntas do regime do Bahrein e da Arábia Saudita reprimiram multidões que ocuparam estradas e marcharam nas ruas exigindo à família Al-Khalifa que abandone o poder. Dezenas de pessoas terão sido feridas e detidas, de acordo com a Press TV.
Os protestos no Bahrein voltaram a assumir proporções massivas na sexta-feira, 18, quando milhares de pessoas repudiaram nas ruas o projecto de união entre o Bahrein e a Arábia Saudita.
Na sexta-feira (25), os protestos também voltaram à Jordânia, com mais de mil pessoas a contestarem, na capital Amam, o pacote de austeridade imposto ao povo pelo novo governo, cujo argumento é a necessidade de cobrir o déficit das contas públicas. O povo apela ainda ao combate à corrupção e à transparência na gestão dos fundos públicos.
Outra dimensão assumiu a manifestação de domingo (27), em Casablanca, Marrocos, onde 50 mil pessoas, segundo fontes sindicais, se manifestaram contra o desemprego e a corrupção.
Fonte: Avante!