Israel: pacote turístico oferece aulas para "matar terrorista"
Uma aldeia turística numa das colônias israelenses na Cisjordânia está gerando polêmica. Convidando os turistas a “matar terroristas”, apresentam um pacote turístico com treino militarizado e tiro a figuras com turbantes árabes. Crianças com 5 anos participam nos exercícios.
Publicado 20/06/2012 11:08

Instrutor ensina turista a disparar arma em treinamento para "matar terroristas" / Foto: BBC Brasil
Um grupo de norte-americanos visita uma aldeia turística israelense nos territórios palestinos da Cisjordânia. Roupa leve e preparada para resistir ao calor, chapéus, tênis e uma mochila. Um cenário, aparentemente, normal. Depois agrupam-se e começam a cantar: “matem os terroristas”. É a mais recente polêmica em Israel: turismo sionista promovido pelos colonatos instalados nos territórios ocupados.
Instalado nos colonatos ilegais de Gush Etzion, na Cisjordânia, o campo Calibier 3 tem 10 mil metros quadrados. A sua maior atração são os campos de tiro, onde os alvos são figuras em tamanho real com turbantes árabes, e um pacote turístico bélico. O local é utilizado, no dia a dia, para os treinos do exército e polícia de Israel.
"Queremos que os judeus do mundo inteiro possam ver com seus próprios olhos que no Estado de Israel há organizações e pessoas que sabem ensinar auto-defesa no mais alto nível", disse o empresário.
"Também queremos que os judeus do mundo vejam que aqui existe orgulho judaico, pois os judeus, que foram massacrados há 70 anos (em referência ao Holocausto), hoje têm um Estado, um Exército e as melhores instalações de treinamento", acrescentou, num reflexo do tipo de sociedade que produz um estado militarizado e belicista como Israel.
De acordo com Gat, cerca de 5 mil turistas já passaram pelo curso, entre eles centenas de crianças, que são admitidas nos treinamentos após cinco anos de idade, reforçando uma política de incitação ao ódio.
Os adultos atiram com armas e munição de verdade, em alvos de papelão ilustrados com o esteriótipo do "terrorista". As crianças utilizam armas de paintball.
O preço do curso, de duração de duas horas, é 440 shekels (cerca de R$ 220) para adultos e 200 shekels (R$ 100) para crianças.
Um dos turistas que levou a filha de cinco anos foi Michel Brauun. Viajou de Miami com os seus filhos para lhes “transmitir valores”. A sua filha mais nova, com cinco anos, fez exatamente os mesmos exercícios, disparando com uma arma de fogo.
Em declarações a um dos principais jornais de Israel,o Yedioth Ahronoth, garantiu que “isto faz parte da sua educação. Para que saibam de onde são e, claro, para obter um pouco de ação”.
Sharon Gat disse que o projeto Caliber 3 foi criado em memória de seu cunhado, Hagai Haim Lev, que morreu em combate na Faixa de Gaza. "É um projeto sionista, positivo e importante, que proporciona muito emoção para muita gente", disse.
O projeto também inclui programas especiais para aniversários, encontros de amigos e luta de paintball e oferece aos turistas "experiências emocionantes que não poderão ter em lugar algum, exceto no campo de batalha".
O prefeito do assentamento de Gush Etzion, David Perl, afirmou que o novo projeto turístico proporciona "um incentivo a mais" para o turismo na região. O assentamento, que fica ao sul de Jerusalém e foi construído em terras do distrito palestino de Belém, "recebe cerca de 400 mil turistas por ano", de acordo com Perl.
O prefeito também disse à BBC Brasil que, além do Caliber 3, o Gush Etzion oferece como atividades turísticas visitas a um museu local e a ruínas antigas. "Este é o turismo com valor acrescentado", considera Perl.
Com agências