Com asilo a Assange, Correa pode calar críticos na imprensa

Oferecer asilo ao homem que levou essa liberdade ao extremo – e, por isso, vem sendo perseguido pelos Estados mais democráticos do mundo – poderia ajudá-lo a calar quaisquer críticas. “Estamos dispostos a defender princípios, e não interesses mesquinhos”, escreveu o chanceler equatoriano Ricardo Patiño em sua conta no Twitter. “A liberdade de expressão agora se discute no mais alto nível. Não tememos estar com a batata quente nas mãos. Iremos enfrentar o que seja necessário.”

O pedido de asilo político que o criador do WikiLeaks, Julian Assange, fez oficialmente nesta terça-feira (19) à embaixada do Equador em Londres, no Reino Unido, não é exatamente uma novidade. Em 2010, o então vice-chanceler equatoriano Kintto Lucas ventilou a possibilidade de oferecer domicílio ao ativista australiano – que na época já começava a sofrer ameaças e perseguições. Lucas é jornalista, e gostaria que Assange desenvolvesse seu trabalho livremente.

Poucos dias depois, os dois chefes de Lucas – Rafael Correa, presidente do Equador, e Ricardo Patiño, ministro de Relações Exteriores – desautorizaram o vice-chanceler. “Nenhuma proposta formal foi feita ao diretor do WikiLeaks”, garantiu o chefe de Estado dois anos atrás. “Foi uma declaração pessoal do vice-chanceler, que não teve minha autorização.” Rafael Correa aproveitou para cutucar os Estados Unidos, dizendo que o país estava cometendo um erro ao perseguir Julian Assange, mas frisou que jamais apoiaria atividades que ferissem a lei de outras nações.

Assange

Até esta terça-feira (19), Julian Assange se encontrava em prisão domiciliar no Reino Unido, onde esperava que a Corte britânica emitisse parecer contra sua extradição à Suécia. Isso não ocorreu, e o fundador do WikiLeaks deveria deixar o país antes do dia 28 de junho. Duas mulheres suecas o acusam de crimes sexuais, e a Justiça nórdica deseja tê-lo em Estocolmo para investigar as denúncias.

Como foi um dos grandes responsáveis pelo vazamento de aproximadamente 250 mil telegramas diplomáticos dos Estados Unidos, além de imagens confidenciais das campanhas militares ianques no Oriente Médio, Julian Assange teme que sua extradição à Suécia seja apenas uma escala rumo à Washington, onde crimes de espionagem podem levar à pena de morte. Bradley Manning, o militar estadunidense que teria colaborado com o WikiLeaks, está preso sob regime rigoroso desde 2010.

De 2010 pra cá, a relação entre Julian Assange e o presidente equatoriano parece ter melhorado. O ativista entrevistou Rafael Correa em seu talk show The World Tomorrow (O Mundo Amanhã), transmitido pela tevê russa RT, e os dois trocaram risadas e conselhos sobre a segurança um do outro. “Bem-vindo ao clube dos perseguidos”, brincou o presidente. O ativista não deixou por menos: “Não vá ser assassinado”, recomendou.

Fonte: Rede Brasil Atual