Gravador aberto: povo fala o que pensa sobre situação no Paraguai

As mobilizações em Assunção e em todo o Paraguai contra o golpe comandado por Federico Franco são crescentes. Os manifestantes consideram que o dito governo é ilegítimo por ter aplicado um golpe de Estado no ex-presidente Fernando Lugo, mesma posição adotada por países latino-americanos. Nesta quarta-feira (27), estão previstas diversas mobilizações em bairros no centro da cidade e no interior.

Por Vanessa Silva, enviada especial do Vermelho a Assunção, e Marilu Cabañas*

Em uma conversa com transeuntes nesta terça-feira (26), deu para sentir um pouco o clima que vive a cidade. Inspirado no programa “microfone aberto”, da TV Pública paraguaia, onde as pessoas podem falar qualquer coisa que queiram a respeito do país, propusemos um gravador aberto para saber o que as pessoas acham do que está acontecendo na política do país. Acompanhe alguns depoimentos. Por questão de segurança, pedimos que as pessoas informassem apenas o primeiro nome, sua idade e profissão.

Francisco, 26 anos, pedreiro
Na minha opinião, sacanearam Fernando Lugo porque ele fez muitas coisas que outros governos não fizeram, por exemplo, na saúde. Um hospital público demorava muitíssimo. As grávidas tinham dificuldade na hora do parto, as escolas não davam leite, agora dão leite, comida, ainda não são todas… Mas fez muitas coisas. Penso que fizeram isso por causa do poder econômico para disputar as próximas eleições.

Fanny, 35 anos, doméstica.
Minha opinião sobre o presidente é que o queremos muito. Choramos [com a saída dele] porque ele nos deu hospital de graça (…) é a primeira vez que [temos] um hospital de graça, com tudo grátis. [Hoje] as pessoas tomam leite, [comem] pão e eu opino que é um legado e [por isso] nós queremos muito ao nosso presidente Fernando Lugo. Ainda que ele tenha muitos filhos, nós vamos apoiá-lo para que ele termine seu mandato de nove meses. Então nós o queremos muito e que não o tirem mais da presidência. Essa é a minha opinião. Paraguai o quer muitíssimo (…) ele deu casas aos indígenas. (…) Ele fez muitas coisas grandes para o Paraguai. Nunca antes um presidente fez coisas tão lindas. Agora não sei por que as pessoas não o querem. Os hospitais são todos de graça, a todos os indígenas ele deu uma oportunidade, por isso o queremos muito.

Ramón, 48 anos, vendedor de chipa
Está difícil a situação porque está vindo uma crise que vai nos afetar agora. Simplesmente se elegeu o presidente [Fernando Lugo] e ficamos mal agora. Eu não sei o que dizer porque ele [Lugo] está sozinho e não sei se pode fazer algo assim. Fez muitas coisas pelo país. De maneira lastimável, as pessoas que estão a seu lado não o apoiam, então é difícil.

Gladis, 31 anos, cozinheira
Na verdade, penso que vai prejudicar muita gente, as pessoas que trabalham, principalmente. Na realidade fizeram mal em retirá-lo, porque vai prejudicar muita gente. No comércio, serão [muitas lojas serão] fechadas. Estou preocupada.

Marta, 35 anos, nutricinista
A situação no Paraguai agora nas ruas está tranquila, a troca da presidência me parece injusta porque o presidente não terminou seu governo. Democraticamente se votou, mas não foi cumprido. É certo que o presidente Lugo não cumpriu várias promessas que fez tanto aos campesinos, quanto aos indígenas. (…) A expectativa para este governo é que nos abra as portas, o que está sendo difícil nesta semana. (…) Não [quero que] Lugo volte porque já foi retirado da presidência, o [atual] presidente deve ser firme nas propostas.

Sim, creio que foi um golpe de Estado. Tudo foi feito pela lista fechada, [foi] algo que já estava planejado. Estamos em um governo capitalista e são os empresários que têm medo que Lugo esteja no comando. (…) [Isso aconteceu por causa] do medo de uma reeleição da Frente Ampla, medo de que seu candidato ganhe. Isso que motivou a destituição de Lugo. Também Lugo teve suas falhas com algumas promessas de terra, mas não justifica o que aconteceu.

Isabel, 40 anos, dona de casa.
Digo que fizeram bem as pessoas que tiraram Lugo do poder. Ele prometeu muita coisa e tem muita coisa que não cumpriu, por exemplo, toda promessa de que terá trabalho, e não há. Tem garotos que precisam, idosos que precisam [trabalhar]. Por exemplo, os centros de saúde são impressionantes agora porque por exemplo, você vai na emergência e ninguém te atende. Fui na semana passada, tinha dor de cabeça e não havia médicos. Ele prometeu que teria saúde, educação, trabalho, mas na minha opinião, não vejo nada. Estou a favor de Federico Franco, vamos ver se cumpre o que prometeu. Oxalá que cumpra o que prometeu.

Daniel Martín, norte-americano, nascido em Montevidéu, Uruguai, 76 anos, empresário do setor hoteleiro.
Com relação ao problemão causado desnecessariamente se demonstra claramente que existe uma conspiração violenta de grupos de Venezuela, Equador, Argentina, Uruguai e Brasil contra o imperialismo dos Estados Unidos. Penso que estão equivocados. Estão sonhando uma história de 1870, de outros tempos em que queriam conquistar o mundo com todos iguais: todos pobres e famintos e eles com todo o poder. Eu penso claramente que tudo isso é uma piada, porque não é para tanto. (…) Essa situação que houve no Parlamento, na qual destituíram o presidente me pareceu correta. A Constituição do Paraguai indica claramente o que fizeram. Em outro país, pode ser que indique outra coisa, mas aqui no Paraguai se fez o que diz a Constituição. E foi aprovado por unanimidade. Não há como Lugo se manter na presidência se não tem ninguém que o acompanhe. E se não tem quem o acompanhe é porque não servia para presidente porque não fez as coisas bem. Além de tudo isso, ele tem mau comportamento com as mulheres e um presidente que tem antecedentes de ter relações sexuais com várias mulheres e filhos não pode ser jamais presidente pela honra do país e pela desonra da Igreja.

*Marilu Cabañas é jornalista da Rede Brasil Atual