Assad Frangieh: Eternos apostadores

Havia um imigrante de origem libanesa que viveu muito tempo na Venezuela e por circunstâncias da vida retornou ao Líbano em meados dos anos 70 logo que a Guerra Civil começou. Ele apostava em corridas de cavalos e raramente conseguia acertar.

Por Assad Frangieh, no El Marada

Ele andava na praça da matriz por horas, gesticulando e vibrando com as corridas de cavalos, apostando e no final de cada páreo ficava com aquela cara de decepcionado. Até aí nada de espetacular, exceto que tais corridas eram gravações antigas que ele não cansava de ouvi-las.

Isso lembra vários diplomatas e analistas políticos que não cansam de repetir sobre a saída de Assad do Governo da Síria ignorando as declarações sutis da diplomacia russa e principalmente o decorrer dos fatos que fizeram da Síria a divisória entre o Ocidente imperialista e o Oriente ressurgido no cenário global.

Diferente de Cuba que é cercada por água e sem fronteiras contíguas, a Síria tem sua geografia (inclusive seus mísseis) ao alcance dos centros determinantes da política norte-americana em Tel-Aviv, alcança com sua inteligência o celeiro da Irmandade Muçulmana na Jordânia, enfrenta a ponta de lança da Europa na Ásia e estabelece as estradas do comércio e os oleodutos que conectam os poços de petróleo e as riquezas de gás do Iraque e Irã, respectivamente. Sem deixar de citar o porto seguro da Rússia no Mediterrâneo e a força combativa de seus aliados no Líbano, especificamente na fronteira de Israel.

Há clara intenção de desgastar a Síria em conflitos armados internos sustentados por mercenários de diferentes nacionalidades e com o dinheiro de reinos desacreditados e hipócritas. O objetivo é sentar nas mesas de negociações em melhores condições possíveis, já que a opção militar não parece boa para ninguém da Otan. Enquanto isso, o conflito já começou mostrar que a Turquia não ficará imune da crescente reação armada dos rebeldes turcos e que o Líbano deverá receber de volta os grupos armados que conseguirão sobreviver às ações militares cada vez bem sucedidas e abrangentes das forças do Exército Sírio que iniciou sua ofensiva dizimando literalmente os bandos armados.

Cedo ou tarde, o Exército Sírio recuperará a segurança pública enquanto um acordo internacional fará secar a fonte do dinheiro e reconhecerá a Síria como importante denominador na equação dos conflitos internacionais e ponto de equilíbrio dos novos polos: Estados Unidos e Europa de um lado e a Rússia e China de outro.

Os mercenários receberão os mesmos destinos dos mercenários líbios, egípcios e sudaneses que incendiariam a guerra civil libanesa. A maioria foi enterrada sem mesmo um epitáfio. Os oposicionistas que não se envolveram na guerra suja serão envolvidos numa renovada Síria do mesmo Assad enquanto outros entrarão na História como agentes traidores e renegados refugiados.

Enquanto isso, se ele fosse imortal, nosso apaixonado apostador estaria até hoje apostando no seu cavalo que nunca chegará a vencer o páreo… O mais provável é que ele seja o inspirador de muitos torcedores da saída do Assad. Quem sabe em 2023!

Fonte: El Marada