“Um Rito de Mães, Rosas e Sangue” inicia turnê nacional

O espetáculo “Um Rito de Mães, Rosas e Sangue”, dirigido por Claudio Lira, inicia nesta terça e quarta-feira (3 e 4), em Salvador (BA) sua turnê nacional e será apresentado em outras três capitais no mês de julho: Brasília (6, 7 e 8), Rio de Janeiro (9 e 10) e São Paulo (13 e 14). “Um Rito de Mães, Rosas e Sangue” traz à cena uma livre adaptação das três tragédias rurais de Garcia Lorca: “Bodas de Sangue” (1933), “Yerma” (1934) e “A Casa de Bernarda Alba” (1936).

“Um Rito de Mães, Rosas e Sangue” inicia turnê nacional

A peça transforma as tragédias em quadros, onde a Mãe é o foco central do ritual cênico: é ela quem dita as regras do jogo. No primeiro quadro, Claudio Lira versa sobre a memória e o futuro da mãe no momento posterior aos acontecimentos da tragédia “Bodas de Sangue”. É o desabafo de uma mãe perante suas lembranças, seus fantasmas e o infortúnio da morte de seu filho, assassinado no dia do casamento. Diante do túmulo deste e da ausência do marido, também já morto, e com quem conviveu por apenas três anos, ela amaldiçoa as navalhas e outros objetos cortantes, enquanto vira comentário para as vizinhas.

No segundo quadro, “A Casa de Bernarda”, um universo sufocante e claustrofóbico é instaurado pela mãe Bernarda Alba, que com mãos de ferro, condena as suas filhas a um luto eterno, até que alguma delas se case.

No terceiro e último quadro, “Yerma”, a peça desvenda as várias Yermas, que se sobrepõem, à medida que as esperanças da personagem vão se dissipando em sua busca incessante pela maternidade.

A costura desse “tecido cênico” é feita através da combinação de duas personagens opostas, Maria Josefa, a louca mãe de Bernarda, que anseia por vida e liberdade; e a mendiga, símbolo do mau agouro presente em alguns textos de Lorca, figura que, segundo o próprio autor, é a morte na iconografia dos seus textos.

“Um Rito de Mães, Rosas e Sangue” conquistou o Prêmio Myriam Muniz, da Funarte, e o Fomento às Artes Cênicas, da Prefeitura do Recife, e traz no elenco, Ana Maria Ramos, Auricéia Fraga, Andrezza Alves, Daniella Travassos, Luciana Canti, Sandra Rino, Lêda Oliveira, Lano de Lins e Zé Barbosa.

Um Rito – Sua Origem

A montagem de “Um Rito de Mães, Rosas e Sangue” é fruto da união de pessoas com experiências de vida diferentes, que compartilham do desejo em estabelecer uma discussão viva e criativa sobre o fazer teatral.

O embrião do projeto surgiu em 1999, na Universidade Federal de Pernambuco, com a montagem de “A Casa de Bernarda – Uma Performance Obscura”. Dez anos depois, contando com o reforço de novos profissionais que se agregaram ao projeto, retomaram os trabalhos e o pensamento continuando os estudos sobre o universo do escritor Federico Garcia Lorca, e mais especificamente sobre suas Três Tragédias Rurais.

O espetáculo estreou em maio de 2010 no Festival Palco Giratório, do Sesc Pernambuco. Em seguida, realizou temporada no Teatro Hermilo Borba Filho, em Recife. Foi contemplado com os prêmios de Melhor Figurino, para Luciano Pontes, e Melhor iluminação, para Luciana Raposo, além de concorrer aos prêmios de Melhor Espetáculo e atriz Coadjuvante no 17º Janeiro de Grandes Espetáculos-PE ( 2011).

Sobre o Autor

Federico García Lorca, poeta e dramaturgo, nasceu em Fuente Vaqueros, Andaluzia, em 5 de junho de 1898, e foi um dos maiores poetas e dramaturgos espanhóis, bem como uma das primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola.

De educação sofisticada, Lorca ingressou na faculdade de Direito de Granada em 1914, depois transferiu-se para Madri. Publicou os primeiros poemas inspirados em temas relativos à Andaluzia (“Impressões e Paisagens”, 1918), à música e ao folclore (“Poemas do Canto Fundo”, 1921-1922) e aos ciganos (“Romancero Gitano”, 1928), quando ficou amigo do cineasta Luis Buñel e do pintor Salvador Dali.

Concluído o curso de Direto, Lorca foi para os Estados Unidos e para Cuba, período em que escreveu seus poemas surrealistas e expressou seu horror pela brutalidade da civilização mecanizada (“Poeta em Nova Iorque” – 1940).

Voltando à Espanha, criou o grupo de teatro chamado La Barraca, e com ele percorreu o país. Lorca tinha ideias socialistas, mas foi sua homossexualidade o alvo do conservadorismo da Igreja Católica espanhola, que ao lado dos fascistas ensaiava a tomada do poder.

Iniciou-se aí uma das mais sangrentas guerras do século 20, prenúncio da Segunda Guerra Mundial. Com o início da guerra, Lorca, intimidado, retornou para Granada, e teve sua prisão determinada por um deputado católico, sob o argumento de que ele seria “mais perigoso com a caneta do que outros com o revólver”.

Assim, num dia de agosto de 1936, sem julgamento, “a caneta calou-se” e o grande poeta foi executado pelos franquistas; seu corpo foi enterrado em lugar até hoje desconhecido. Sua voz, porém, ecoa até hoje, como o vento, por todas as partes.

Em sua curta existência, Lorca deixou pouco mais de uma dúzia de peças, grande parte consideradas obras-primas, entre elas as Três Tragédias Rurais, utilizadas por Claudio Lira para compor o espetáculo “Um Rito de Mães, Rosas e Sangue”.

Da redação de Brasília