Daniel Ilirian: Corinthians, poesia em preto e branco

As mais belas palavras tecidas por nossa língua podem ser inspiradas em grandes tragédias. Elas suscitam risos de desespero e lágrimas de tristeza. Não há poesia que não nasça de tremenda desilusão.

Por Daniel Ilirian*

Na noite passada, a mais dura poesia esteve para ser escrita sobre ombros sofridos, por mãos despeitadas e prepotentes de quem sempre julgou, por tola e miserável miopia, que o povo se calaria para sempre.

Mas quis a História que estas palavras poéticas não fossem de amargura. Bravos guerreiros, pintados em preto e branco, bailaram sobre o campo de batalha desenhando no gramado um desfile de sonhos cujo único intuito era a própria libertação. Enfrentaram seus próprios fantasmas e demônios, anjos mentirosos e deuses onipotentes. Quebraram as correntes enferrujadas que os pés lhes prendiam. Com golpes certeiros atingiram a liberdade, como gaviões batendo as asas e rompendo a linha do horizonte.

Escreveram sua História na fronteira que restava, cortando a linha retesada que separava o silêncio ensurdecedor incontido do grito preso na garganta. Levantaram a voz da liberdade sobre ouvidos surdos da escravidão.

Os bravos guerreiros, pintados em branco e preto, lutaram até o fim, alvissareiros por um novo recomeço.

Vislumbraram o raiar do dia, de uma noite inesquecível. E a História de tristezas desta vez se reescreveu na mais bela alegria.

De preto e branco refeito em poesia.

*Daniel Ilirian é historiador e poeta